Filho do jornalista Ernesto Cony Filho, considerado "obscuro",[2] e de Julieta Moraes Cony, Carlos Heitor Cony cresceu no bairro de Lins de Vasconcelos,[2] na zona norte do Rio de Janeiro. Foi considerado "mudo" pela família até os quatro anos de idade,[3] quando pronunciou suas primeiras palavras reagindo a um barulho provocado por um hidroavião em Niterói.[4] Por causa desse problema, que seria resolvido apenas quando o escritor tinha 15 anos em uma cirurgia,[3] Cony foi alfabetizado em casa e estudou no Seminário Arquidiocesano de São José, no bairro carioca do Rio Comprido[5] até 1945, abandonando-o antes da ordenação como padre. No ano seguinte, começou a cursar a Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, mas interrompeu o curso em 1947,[6] e teve sua primeira experiência como jornalista no Jornal do Brasil cobrindo férias de seu pai.[4][7][8]
Trabalhou como funcionário público da Câmara Municipal do Rio de Janeiro até 1952, quando se tornou redator da Rádio Jornal do Brasil.[3] Em 1955, começou a trabalhar na sala de imprensa da Prefeitura do Rio de Janeiro como setorista do Jornal do Brasil em substituição ao pai, que sofrera uma isquemia cerebral.[3] No mesmo ano, escreve seu primeiro romance, O Ventre. Em 1956, inscreve a obra no Prêmio Manuel Antonio de Almeida, organizado pela Prefeitura. O júri do concurso considera o livro "muito bom", mas nega-lhe o prêmio por ser "forte demais".[3] Em nove dias, escreve e inscreve um segundo livro, A Verdade de Cada Um, e ganha o concurso no ano seguinte.[3] Outro livro de Cony, Tijolo de Segurança, ganharia o mesmo prêmio em 1958.[3] Esses três livros iniciais do autor foram lançados em 1958, 1959 e 1960, respectivamente, pela editora Civilização Brasileira.[3]
Em 1960, entrou para o jornal carioca Correio da Manhã na função de copidesque e editorialista.[3] Entre 1963 e 1965, manteve uma coluna no jornal Folha de S.Paulo, revezando espaço com a poetisa Cecília Meirelles.[6] Inicialmente tendo apoiado o golpe militar de 1964 que tirou João Goulart da presidência da república,[9] Cony se arrependeu da adesão[9] e rapidamente veio a opor-se abertamente ao golpe, sendo preso por seis vezes ao longo do regime militar.[1] Como editorialista do Correio da Manhã,[10] escreveu textos críticos aos atos da ditadura militar, que foram reunidos em um livro, O Ato e o Fato, lançado ainda em 1964.[6] Pressionado pela posição política, acabou pedindo demissão do jornal.
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Numa das seis prisões durante o regime militar, um coronel me perguntou por que eu escrevia tanta besteira no jornal em que então trabalhava. Dei razão a ele. Até hoje, acho que não fiz outra coisa.
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Após responder oito processos, três inquéritos e ser preso seis vezes por “delito de opinião”,[6] deixou o país em 1967, se auto-exilando em Cuba durante um ano ao ser convidado pelo governo cubano para participar do júri do Prêmio Casa de las americas.[12] Quando voltou ao Brasil, no ano seguinte, foi convidado pelo empresário Adolpho Bloch para trabalhar nas revistas publicadas pela Bloch Editores.[13] Durante boa parte do período em que esteve na Bloch, entre 1968 e 2000, deixou de lado a literatura de ficção. Publicou seu último livro ficcional em 1973, Pilatos. Dedicando-se quase que integralmente ao jornalismo, foi colunista, repórter especial e editor de publicações como Manchete, Desfile, Fatos&Fotos e Ele Ela.[6]
Em 1993, Cony foi convidado pelo jornalista Jânio de Freitas para voltar a escrever para a Folha de S.Paulo, assumindo a coluna "Rio", ocupada antes pelo escritor Otto Lara Rezende. A primeira coluna na Folha saiu em 14 de março daquele ano. Cony escreveu no jornal até a morte.[15] Depois de 22 anos afastado da literatura de ficção, em 1995, lançou Quase Memória, livro que marcou seu retorno ao gênero e se tornou uma de suas obras mais famosas após vender mais de 400 mil exemplares, recebendo também o Prêmio Jabuti de 1996 na categoria Livro do Ano - Ficção.
Cony recebia polêmica pensão do governo federal em decorrência de legislação que autoriza pagamento de indenização aos que sofreram danos materiais e morais vitimados pela ditadura militar.[16] O benefício, chamado de prestação mensal permanente continuada—para os críticos, de bolsa-ditadura --, foi aprovado pela Comissão de Anistia em 21 de junho de 2004, correspondendo à época em cerca de R$ 23 mil, que equivaleria ao salário que receberia no jornal caso não tivesse sido obrigado a se desligar. O valor mensal foi à época limitado a R$ 19 115,19, o teto do funcionalismo de então.[17]
Em 2013, o escritor sofreu uma queda na Feira do Livro de Frankfurt, ocasionando a presença de um coágulo em seu cérebro.[18] Debilitado pelo acidente e um câncer linfático que o acompanhava desde 2001,[3] Cony morreu em 5 de janeiro de 2018, no Rio de Janeiro, devido a problemas no intestino e falência múltipla dos órgãos.[19]
1980 - Marina - adaptada por Wilson Aguiar Filho, baseado no romance Marina Marina,direção de Herval Rossano - Rede Globo
Para o cinema
1968 - Antes, o Verão - direção e roteiro de Gerson Tavares
1968 - Um Homem e Sua Jaula - direção de Fernando Coni Campos e co-direção de Paulo Gil Soares; roteiro de ambos.
1975 - Você Tem Alguma Ideia Sobre a Ideia Que Pretende Ter? - roteiro de Antônio Moreno, Pedro Ernesto Stilpen e Olivar Luiz
2000 - Pilatos – Melopeia, Fanopeia & Logopeia, episódio V de Isabelle Trouxe Alguns Amigos - roteiro de Felipe Rodrigues, com a colaboração de Barbara Kahane e Patrick Pessoa
2014/2018 - Quase Memória - direção de Ruy Guerra e roteiro do diretor com a colaboração de Bruno Laet e Diogo Oliveira.