Antônio Valentim da Costa Magalhães (Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1859 — Rio de Janeiro, 17 de maio de 1903) foi um jornalista e escritor brasileiro, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Biografia
Filho homônimo de Antônio Valentim da Costa Magalhães e de D. Maria Custódia Alves Meira. Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, onde ingressara em 1877. Ali colabora com os periódicos acadêmicos "Revista de Direito e Letras", "Labarum" e "República", este último de Lúcio de Mendonça. Ainda nesta cidade publicou três obras: "Idéias de Moço", "Grito na Terra" e "General Osório", este último em parceria com Antônio da Silva Jardim, além de seu primeiro livro, intitulado "Cantos e Lutas". Ali também casou-se, em 1880.
Voltando para o Rio, dedica-se ao jornalismo, dirigindo o periódico "A Semana" (fundado em 1885), que torna-se o veículo dos jovens escritores da época, além da propaganda abolicionista e republicana, sendo um período de marcadas agitações culturais e políticas, estando Valentim Magalhães no proscênio dessas lutas todas. Sobre sua participação, registrou Euclides da Cunha,[1] que o sucedeu na Academia: "A geração de que ele foi a figura mais representativa, devia ser o que foi: fecunda, inquieta, brilhantemente anárquica, tonteando no desequilíbrio de um progresso mental precipitado a destoar de um estado emocional que não poderia mudar com a mesma rapidez".
Também se encontra colaboração da sua autoria nas revistas Galeria republicana[2] (1882-1883), Branco e Negro[3] (1896-1898), Brasil-Portugal[4] (1899-1914) e ainda no Jornal dos Cegos [5] (1895-1920).
Seu grande envolvimento com as causas que defendia não lhe permitiram uma maior produção literária, sendo comum entre os críticos[6] que seu papel foi o de divulgar os demais escritores nacionais.
Ficou célebre pelas inúmeras polêmicas criadas, que redundaram em ataques e desafetos, bem como pelas defesas que dele faziam os amigos.
Durante o Encilhamento, falsa prosperidade econômica que se seguiu à Proclamação da República por obra do seu confrade Rui Barbosa, então feito Ministro das Finanças, Valentim dedicou-se ao lucro rápido, fundando uma companhia e, logo mais, como todos, vindo à falência.
Sobre seu papel na memória futura, então ainda presenciando os reveses, declarou:
- "A princípio fui gênio; mais tarde cousa nenhuma. Hoje César, amanhã João Fernandes…"
Poesia
Registra Manuel Bandeira[7] que o autor participara, ao lado de Teófilo Dias, Artur Azevedo, Fontoura Xavier e outros, da chamada "Batalha do Parnaso", uma reação ao romantismo, iniciada ainda na década de 1860, e que ganhou força com a agitação promovida por Artur de Oliveira. Este misto de boêmio e intelectual conhecera em Paris os intelectuais parnasianos, e influenciara os autores brasileiros.
Versos
- Íntimo
- (domínio público)
- Esta alegria loura, corajosa,
- Que é como um grande escudo, de ouro feito,
- E faz que à Vida a escada pedregosa
- Eu suba sem pavor, calmo e direito,
- Me vem da tua boca perfumosa,
- Arqueada, como um céu, sobre o meu peito:
- Constelando-o de beijos cor de rosa,
- Ungindo-o de um sorriso satisfeito…
- A imaculada pomba da Ventura
- Espreita-nos, o verde olhar abrindo,
- Aninhada em teu cesto de costura;
- Trina um canário na gaiola, inquieto;
- A cambraia sutil feres, sorrindo,
- E eu, sorrindo, desenho este soneto.
Bibliografia
Sua obra, considerada menor no contexto da literatura brasileira, regista, entretanto, uma curiosidade, por conta de uma errata:
- 1896 – Concluído o romance "Flor de Sangue", de Valentim Magalhães, que seria publicado pela Laemmert com a mais inusitada das erratas "…à página 285, 4a. linha, em vez de "estourar os miolos", leia-se "cortar o pescoço".[8] Seus livros:
- Cantos e Lutas, poesia (1897);
- Quadros e Contos (1882);
- Vinte Contos e Fantasias (1888);
- Inácia do Couto, comédia (1889);
- Escritores e Escritos (1894);
- Bric-à-brac, contos (1896);
- Flor de Sangue, romance (1897);
- Alma, crônicas (1899);
- Rimário, poesia (1899)
Academia Brasileira de Letras
Quando da fundação da Academia Brasileira de Letras, foi convidado para ocupar a cadeira 7, que tem por patrono Castro Alves, cujo nome foi por ele escolhido para o patronato.
A Biblioteca da Academia iniciou o seu acervo com a doação, feita por Valentim, de seu livro Flor de Sangue em janeiro de 1897.[9]
Referências
- ↑ CUNHA, Euclides da. "Discurso de Posse na Academia Brasileira de Letras", texto em domínio público[1]
- ↑ Galeria republicana (1882-1883) [cópia digital, Hemeroteca Digital]
- ↑ Branco e Negro : semanario illustrado (1896-1898) [cópia digital, Hemeroteca Digital]
- ↑ Rita Correia (29 de Abril de 2009). «Ficha histórica: Brasil-Portugal : revista quinzenal illustrada (1899-1914).» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 26 de Junho de 2014
- ↑ Alda Anastácio. «Ficha histórica: Jornal dos cegos (1895-1920)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 17 de fevereiro de 2017
- ↑ Vide, neste sentido, a biografia do autor no Sítio da Academia Brasileira, o discurso de posse de Euclides da Cunha, dentre outros
- ↑ BANDEIRA, Manuel. Apresentação da Poesia Brasileira, Ediouro, Rio de Janeiro
- ↑ «Trecho encontrado apenas no google, com o cache ativado». Consultado em 10 de junho de 2007. Cópia arquivada em 10 de junho de 2007
- ↑ O próprio sítio da Academia trata com desdém esse ato inaugural do seu acervo: "Cem anos depois, essa obra só é lembrada pela circunstância de ter sido o marco inicial da biblioteca da academia." (vide link para a ABL)
Ligações externas
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