Em 1983, Benedito Ruy Barbosa usou alguns personagens de Meu Pedacinho de Chão para estrelar sua novela Voltei pra Você. As crianças Serelepe, Pituca e Tuim (Aires Pinto, Patrícia Aires e Pelezinho) reapareciam adultos, vividos por Paulo Castelli, Cristina Mullins e Cosme dos Santos, respectivamente.
Enredo
A trama conta a história da professora Juliana, que chega à fictícia vila de Santa Fé para lecionar para crianças e se depara com um povo humilde e acuado com os desmandos do coronel Epaminondas, um homem arrogante que resolve tudo com gritos e armas, e que dita as regras na região. A professora conhece o amor altruísta do peão Zelão, sempre disposto a protegê-la do assédio de Fernando, filho do coronel, um playboy mau-caráter que voltou da capital, onde gastou todo o dinheiro que o pai lhe mandara para os estudos. Em meio à guerra que se forma no vilarejo, as crianças Pituca, Serelepe e Tuim vivem suas aventuras em um mundo à parte, longe das preocupações e interesses dos adultos. A menina Pituca é Liliane, filha mais nova do coronel Epaminondas. E os meninos Serelepe e Tuim são agregados na fazenda, e, por essa razão, o coronel não vê com bons olhos a amizade pura entre sua filha e os dois garotos.
A produção foi realizada pela TV Cultura, da Fundação Padre Anchieta, gravada em seus estúdios, localizados na Água Branca, na cidade de São Paulo. Grande parte de suas cenas externas foram gravadas em duas fazendas do município de Itu, interior de São Paulo. Ao assumir o governo do estado, Laudo Natel convidou Benedito Ruy Barbosa para exercer o cargo de assessor especial do governo na presidência da TV Cultura. Assim, Benedito teve a oportunidade de escrever essa novela rural e educativa. Benedito declarou: "A proposta de Pedacinho foi mostrar o problema do homem do campo, ensiná-lo sobre as doenças (tracoma, tétano, verminose), levá-lo para uma sala de aula, dar-lhe melhores condições de higiene e, ao mesmo tempo, mostrar o interesse das classes patronais (fazendeiros e autoridades) pelo camponês analfabeto, sem questionar nunca sua miséria e seus problemas.
Segundo Benedito Ruy Barbosa, como aquele foi o período de desenvolvimento do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), ele tentou com a novela, ajudar esse projeto de ensino no qual, na época, acreditava.[2] Ele chegou a escrever cinco capítulos num dia, datilografando em sua antiga máquina de escrever. Na época o país estava sob o regime da ditadura militar e segundo o autor, a novela enfrentou problemas com a censura, quanto à cena em que um personagem tocava violão e cantava o Hino Nacional Brasileiro para os caboclos. Depois disso, um aluno cantava o hino da escola, tendo a bandeira do Brasil estendida sobre a mesa. A censura cortou essas cenas, alegando que "o hino brasileiro não podia ser cantado naquele ambiente, e que a bandeira só podia aparecer em cenas especiais". O projeto para a novela veio de uma pesquisa de marketing que apontou o formato de telenovela como a melhor forma de atingir o grande público.
A história era um drama rural e transmitia ensinamentos úteis aos trabalhadores e à população do campo. Os autores contavam com informações fornecidas pelas secretarias municipais de Agricultura e Saúde para escrever sobre vacinação, desidratação infantil, higiene e técnicas agrícolas. Com o desenvolvimento do Mobral, na época a novela também abordou o problema do analfabetismo no campo, levando personagens adultos às salas de aula. A menina Patrícia Aires (filha do ator Percy Aires, que também estava no elenco), vinha do sucesso da novela A Pequena Órfã, produzida em 1968 pela TV Excelsior.
Exibição
A telenovela inaugurou o horário das seis da TV Globo em 16 de agosto de 1971, a trama foi exibida até 6 de maio de 1972, sendo substituída por Bicho do Mato, e totalizando 185 capítulos.
Possivelmente preservada nos arquivos da TV Cultura, apenas o 1ª capítulo foi preservado no acervo da TV Globo.