Tracoma[5], também chamada de conjuntivite granulomatosa, é uma doença inflamatória ocular contagiosa, crónica e recidivante, causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que afeta pálpebras, conjuntiva e córnea.[6] Esta infecção[5] causa uma ceratoconjuntivite folicular que torna as papilas aumentadas e com aspecto grosseiramente rugoso. Os sintomas iniciais são geralmente leves e inespecíficos, como prurido ocular, hiperemia leve, pouca ou nenhuma secreção ocular muco-purulenta, edema palpebral e sensação de corpo estranho nos olhos.[6][7] Nos casos menos agressivos ocorre a regressão espontânea dos folículos, mas muitas vezes o quadro evolui para a necrose dessas estruturas, que formam focos cicatriciais difusos na conjuntiva. Com sucessivas recidivas, esses focos se multiplicam, formando cicatrizes mais extensas, que podem ocasionar o tracionamento e inversão da pálpebra superior - distorção conhecida como entrópio. O contato direto dos cílios com o olho (triquíase tracomatosa), causa lesões corneanas por traumatismo direto, progredindo para opacificação da córnea e perda da visão.[6][7] Neste estágio, normalmente a sintomatologia é acrescida de dor e fotofobia intensa.[8] A forma cicatricial da doença pode requerer tratamento cirúrgico.[7][2]
As bactérias que causam a doença podem ser transmitidas por contato direto com o indivíduo infectado sempre que as lesões estiverem ativas. O contato indireto é infectante e ocorre através de roupas, toalhas, fronhas e objetos. Alguns insetos, como as moscas domésticas (Musca domestica) e as moscas-dos-olhos (Hippelates sp) podem servir como vetores mecânicos ao pousar sobre secreções oculares e descargas nasais contaminadas.[9][2] Uma grande parcela das crianças infectadas é assintomática e esse pode ser um dos motivos pelos quais elas sejam transmissoras mais frequentes que os adultos.[8][10] A falta de saneamento básico, moradias superlotadas, e água não potável e condições sanitárias precárias são fatores que contribuem com a disseminação.[2][10]
Os esforços para prevenir a doença incluem a melhoria do acesso à água potável e o uso de antibióticos para a redução do número de infectados.[2] A antibioticoterapia em massa tem sido preconizada no tratamento de portadores da bactéria C. trachomatis com o intuito de reduzir os casos de tracoma ativo.[2][3] A lavagem facial associada à tetraciclina tópica também mostrou-se eficiente no controle de casos de tracoma grave.[11] As recomendações da Organização Mundial da Saúde incluem o tratamento local com pomadas oftálmicas ou colírios e o tratamento sistêmico para casos resistentes ou de tracoma intenso.[8] Atualmente, o antibiótico de escolha é a azitromicina, que pode ser utilizada em dose oral única.[8][12]
Cerca de 80 milhões de pessoas no mundo apresentam infecção ativa.[4] Em algumas regiões a doença assume caráter endêmico e pode estar presente em até 60-90% das crianças e afetando mais mulheres adultas do que homens, provavelmente devido ao contato materno.[2] O tracoma é causa de deficiência visual em cerca de 2,2 milhões de pessoas, das quais 1,2 milhões são completamente cegas.[2] A doença pertence ao grupo das doenças tropicais negligenciadas e ocorre em 53 países da África, Ásia, América Central e do Sul, onde cerca de 230 milhões de pessoas correm o risco de contraí-la.[4][2]
Causa
Tracoma é causada por Chlamydia trachomatis, uma bactéria transmitida por contato com secreções dos olhos, nariz e da garganta de indivíduos afetados ou contato indireto através de objetos (fômites) como toalhas e/ou panos, que tiveram contato com essas secreções. As moscas também podem ser uma via de transmissão se tocarem olhos de animais infectadas e depois de outros animais.[13]
Sinais e sintomas
A bactéria possui um período de incubação de 5 a 12 dias, depois dos quais o indivíduo apresenta sintomas como:
Infecções repetidas não tratadas resultam em triquiase, também chamada de entrópio, quando as pálpebras se voltam para dentro fazendo com que os cílios arranhem a córnea causando dor e cegueira. As crianças são as mais suscetíveis à infecção, devido à sua tendência sujar-se mais e esfregar sujeira nos olhos, mas os sinais e sintomas mais graves costumam ser em idosos.[14]
Epidemiologia
É muito comum no Brasil e no mundo, com incidência de 0,4% e 8,8% infectados por ano, sendo cerca de 25% assintomáticos e 1% com complicações. Surtos são mais comuns em escolas e pré-escolas.[15] A OMS classifica que menos de 5% de crianças infectadas é normal e mais de 10% é um surto que requer tratamento em massa com dose única de antibiótico.
Tratamento
Em locais com alta incidência a OMS recomenda tratamento com antibióticos em massa. Assim, quando mais de 10% das crianças menores de 10 anos tenham conjuntivite bacteriana em um período de menos de um ano, é recomendado o uso de azitromicina, em dose única oral de 20 mg/kg ou de tetraciclina tópica 1%, em pomada aplicada na pálpebra duas vezes por dia durante seis semanas. Azitromicina é o mais usado porque é utilizada como uma dose oral única.[16]
No caso de triquiase/entrópio, é necessário uma cirurgia para cortar e suturar a pálpebra de volta à posição correta.
Prognóstico
Se não for tratada adequadamente com antibióticos orais, os sintomas poderão escalar e causar cegueira, resultado da ulceração e cicatrização da córnea. A doença pode ser efetivamente tratada com azitromicina, cirurgia, antibióticos e boas condições de higiene.
História
A doença é uma das mais antigas patologia oculares conhecidas, tendo sido identificada tão cedo quanto 27 d.C. A maioria das pessoas infectadas vive primariamente em países subdesenvolvidos. As áreas consideradas endêmicas são África, Oriente Médio, Índia e Ásia.[17] Alguns dos principais programas de controle são: Iniciativa Internacional do Tracoma,[18] Centro Carter[19] e o Helen Keller International[20]
↑Taylor, Hugh (2008). Trachoma: A Blinding Scourge from the Bronze Age to the Twenty-first Century. Centre for Eye Research Australia. ISBN 0-9757695-9-6.
Barros, O.M. (2001). Manual de Controle do Tracoma(PDF) 1ª ed. Brasília: Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. 54 páginas. ISBN85-7346-029-6. Consultado em 25 de agosto de 2016
Evans, J.R.; Solomon, A.W. (março de 2011). «Antibiotics for trachoma». Cochrane Database Systematic Reviews (em inglês). 16 (3). ISSN1469-493X. Consultado em 25 de agosto de 2016A referência emprega parâmetros obsoletos |coautores= (ajuda)