O termo "aruaque" se originou do termo aruaque aruwak, que significa "comedor de farinha".[2] O termo "nuaruaque" se originou da expressão aruaque nu aruwak, que significa "meu comedor de farinha".[3]
Geografia
Para Rodrigues,[4] essa língua, também conhecida como Lokono, era falada em algumas ilhas antilhanas, como Trinidad. Quando os europeus inciaram sua colonização do Caribe, os Aruák aí dividiam e disputavam o mesmo espaço com os caribes, e foi com uns e outros que aqueles tiveram seus primeiros contatos com a população nativa e com suas línguas. Assim como caribe, o nome Aruák veio a ser usado para designar o conjunto de línguas encontradas no interior do continente e aparentadas à língua Aruaque. Ainda segundo esse autor, esse conjunto de línguas foi também chamado de Maipure ou Nu-Aruák e corresponde ao que Martius (1794 — 1868) há mais de um século chamou de Guck ou Coco.
Dispersão
Considerando a possibilidade de reconstrução histórica a partir das línguas nativas, o referido autor Urban (1992) conjectura que o curso principal do Amazonas não foi a principal rota de dispersão Arawák. Ao contrário, parece que os Maipure migraram pela periferia da bacia amazônica, tanto pelo norte como pelo sul a partir da área peruana, estabelecendo-se apenas mais tarde em regiões de terras baixas amazônicas há mais de 3 000 anos atrás.
Classificação
Payne subdivide o grupo de línguas aruaques em cinco categorias:[5] setentrional (exemplo: Achagua); oriental (ex: Palikur); central (ex: Waurá); meridional (ex: Terena) e ocidental (Ex: Amuesha). Não existindo consenso na literatura quanto à origem geográfica desse troco (Maipure[6]), apesar de estar claro que, em relação aos Tupi, Jê e Caribe, os Maipure apresentam uma distribuição genericamente ocidental.[7]
Jolkesky (2016)
Classificação interna das línguas aruaques (Jolkesky 2016):[8]
A classificação da família arawak segundo Henri Ramirez (2020).[10][11][12] Essa classificação difere substancialmente de sua classificação anterior (Ramirez 2001[13]), mas chega a ser muito semelhante à proposta por Jolkesky (2016).
12 subgrupos (subfamílias) com 56 línguas (29 vivas e 27 extintas) († = extinta)
As línguas aruaques legaram algumas palavras para a língua portuguesa, embora não de modo tão expressivo quanto as línguas da família tupi-guarani. Geralmente, essas palavras chegaram à língua portuguesa indiretamente, através da língua castelhana dos conquistadores espanhóis das Antilhas, os quais aprenderam o idioma taino dos habitantes dessa região. Exemplos de palavras da língua portuguesa com origem no idioma taino são: canoa, goiaba, furacão, iguana, cacique, batata, caribe, tabaco etc.[15]
PAYNE, David L. A classification of Maipuran (Arawakan) languages based on shared lexical retentions. In: DERBYSHIRE, Desmond C.; Geoffrey K. PULLUM (eds.). Handbook of Amazonian languages, v. 3. Berlim: Mouton de Gruyter, 1991. p. 355–499.
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MICHAEL, Lev. La reconstrucción y la clasificación interna de la rama Kampa de la família Arawak. In: Memorias del V Congreso de Idiomas Indígenas de Latinoamérica, 6–8 de octubre de 2011, Universidad de Texas en Austin. Austin: University of Texas, 2011.
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Carvalho, Fernando O. de (2021). A Comparative Reconstruction of Proto-Purus (Arawakan) Segmental Phonology. International Journal of American Linguistics, 87(1), 49–108. doi:10.1086/711607
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FACUNDES, Sidney da Silva. The language of the Apurinã people of Brazil (Arawak). Tese (Doutorado em Linguística) – University of New York at Buffalo, Buffalo, 2000.
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Referências
↑FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 178.
↑FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 178.
↑FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 203.
↑Rodrigues, Aryon Dall'Igna. Línguas brasileiras. Para o conhecimento das línguas indígenas. SP, Loyola, 1986
↑Payne, David L. A classification of Maipuran (Arawakian) languages based on shared lexical retentions. in Derby-shire, D.C.; Pullun, G.K. (orgs) Handbook of Amazonian languages, 1991. pp. 355-499
↑Urban, Greg. A história da cultura brasileira segundo as línguas nativas. in: Cunha, Manuela Carneiro (org.) História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras - Secretaria Municipal de Cultura/ FAPESP, 1992