A língua afar (qafar af), é uma língua cuxítica oriental, majoritariamente falada na Etiópia pelos afares. Porém, ela também é encontrada em outros países da África Oriental, como a Eritreia, Djibuti e Somália,[4] devido à sua presença nas regiões fronteiriças etíopes de Amhara e Somali. Há cerca de 2.365.800[5] falantes da língua ao total, com 1.862.800 deles localizados na Etiópia.[5]
Na Escala Expandida de Disrupção Intergeracional Graduada (EGIDS), o afar está no nível 2,[5] categorizando-o como um idioma provincial, incorporado na educação, no mercado de trabalho, na mídia de massa e no governo (entre as principais subdivisões administrativas). Assim, pela UNESCO, a língua é considerada ativa.[6]
Para aqueles que não têm o afar como língua nativa, o índice de alfabetização é apenas de 3%, com ensino em escolas primárias e com o acesso do idioma na literatura, no rádio, em vídeos e textos. A parente mais próxima da língua afar é a língua saho[7]
Etimologia
O termo "afar" ou "qafar af" deriva do grupo étnico que tem o idioma como língua nativa: o povo afar. Ele, por sua vez, recebe esse nome pelo território que ocupa, o "Triângulo de Afar". O Barão Raimondo Franchetti teorizou que o nome era uma alusão ao personagem bíblico Ofir, filho de Joctan e descendente de Noé. Entretanto, o próprio povo afar crê que descende de Cuxe,[8] filho de Cam (filho de Noé), compondo um ramo distinto da árvore genealógica baseada em Gênesis.[9]
Os outros nomes para o idioma também são originados a partir de denominações para o grupo étnico. Por exemplo, "adal" é um nome bastante utilizado em crônicas etíopes amáricas para se referir tanto à população quanto à língua, em alusão ao Sultanato de Adal, que reinou na região até o século XVI.[10]
Algumas designações possuem uma conotação pejorativa, como "danakil" (danā kil). O termo provém do Deserto de Danakil, situado no nordeste da Etiópia, no sul da Eritréia e em boa parte de Djibuti, território habitado pelo povo afar. Em árabe, é o etnônimo de um povo que habitava a região de Beilul e que compôs o Reino de Dankali, dos séculos XV ao XVII. Posteriormente, os árabes generalizaram o nome e atribuíram-no a todo o povo afar que habitava a costa do Mar Vermelho.[8]
Distribuição
A língua afar é majoritariamente falada na Etiópia: cerca de 1,4% das pessoas da população etíope fala o afar como idioma nativo.[11] No país, ele está presente nas regiões de Tigré,[11] Amhara e Somali.[5] Além disso, a língua é encontrada na Eritreia, no Djibuti, e na Somália, devido ao deslocamento do grupo étnico afar (um povo nômade) para além das fronteiras etíopes. No Djibuti, recebe o título de língua nacional; na Eritreia, é uma língua reconhecida; na Etiópia, é uma língua oficial, incorporada na educação, no mercado de trabalho, na mídia de massa e na administração pública.[12] Devido ao nomadismo, também há indícios de que a língua esteja presente em outros países africanos, entretanto, em escala menor. Já fora do continente africano, há comprovação de uma pequena quantidade de falantes no Reino Unido.[11]
Há quatro principais dialetos do afar: afar setentrional, afar central, aussa e baadu (ba'adu).[13] Cada dialeto possui uma presença nos três países de maior ocupação dos falantes da língua (Etiópia, Eritreia e Djibuti), com exceção ao baadu, cuja concentração documentada está na Etiópia.[14]
Uma forma mais ampla de diferenciar os dialetos do afar é a diferenciação por zona norte e zona sul.[15]
Entretanto, é essencial sinalizar que a diferenciação de dialetos por zona norte e zona sul é baseado em dados antigos, recolhidos na década de 1950.[17]
O afar é semelhante à língua saho e, juntos, os idiomas compõem o subgrupo saho-afar, que pertence ao ramo cuxítico da família afro-asiática.[13] O contato entre esses dois povos se dá pela ocupação do povo saho no sul da Eritreia, visto que o território é rodeado pelos afares ao sul e ao leste.[18]
História do reconhecimento da língua
O povo afar ocupa a mesma região há séculos e, ao longo desse tempo, foi alvo de várias invasões e tentativas de dominação, apesar de habitar uma área muito quente e seca, que desencorajava ataques. Todos os diferentes povos que efetivaram as tentativas de ocupação e colonização tiveram alguma influência linguística no afar. Por exemplo, o árabe clássico, uma língua religiosa, teve um grande papel na conversão de uma parcela da população afar ao islamismo, no século VII.[19] Além disso, ao longo da história colonial africana do século XIX, ainda houve as invasões europeias no Chifre da África, que implantaram colônias italianas na Eritreia, colônias inglesas na Eritreia e Djibuti, e colônias francesas em Djibuti. Por isso, o status da língua afar varia de acordo com os países. [20]
No Djibuti, a realidade colonial atribuiu ao francês um maior reconhecimento como uma língua que "permite a ascensão social", uma língua da elite. Isso, consequentemente, atribuiu ao afar (que nem sequer é uma língua oficial do país) uma condição de idioma de "segunda classe". Por isso, até os dias atuais, quaisquer manifestações culturais ou linguísticas de valorização da língua são raríssimas e, majoritariamente, dependem de abordagens proativas por parte de indivíduos ou associações militantes para promover o idioma. [21]
Apesar disso, foi no Djibuti onde nasceu o alfabeto utilizado na escrita do afar. Adaptado do latim, o sistema de escrita foi desenvolvido pela União de Desenvolvimento Cultural (UDC), uma organização que dava voz às aspirações progressivas da juventude djibutiana, na altura em que o país ainda estava caminhando para a independência nacional. Dois membros da UDC, motivados a desenvolver um sistema de escrita para o afar (que, até então, era inexistente), tiveram o espaço para criar, em 1975, o alfabeto Dimis kee Redo, uma adaptação do alfabeto latim, cujo nome é inspirado pelos dois co-autores: Ahmed Abdallah Hamad, conhecido como Dimis, e Gamaladdin Abdulkadir. [22]
Desde a implementação do alfabeto, a UDC também lançou um programa de alfabetização para falantes nativos dominarem a escrita de sua língua. Apesar disso, para além do programa e de alguns estudiosos dedicados, a escrita afar é rara no ambiente djibutiano, visto que, por mais que seja reconhecido constitucionalmente como uma língua nacional, o afar não goza de um estatuto político particular, e a educação no país continua a ser em francês.[3]
Quanto aos avanços mais recentes, em 2002 e 2003, foram organizados dois simpósios que reuniram especialistas do afar e do somali (outra língua nacional de Djibuti) para trabalhar na renovação do léxico na comunicação social. No Palácio do Povo, compareceram poetas, jornalistas e linguistas para adaptar o dicionário e consultar sobre o mérito de neologismos.[23]
O afar é um idioma cuja documentação teve início ao final do século XIX. Uma das primeiras pessoas a fazer registros sobre a língua foi o pesquisador austríaco Leo Reinisch, que, após passar um tempo em Maçuá, cidade na Eritreia, publicou um esboço de gramática e léxico de afar (1886-1887), com base na fala da região.[25]
Em seguida, veio uma onda de ingleses que interessaram-se pelo povo afar, sobretudo com um propósito evangelístico. Há levantamentos da década de 1950 sobre o afar na costa da Eritreia, registrados pelo Padre James Colby, que serviram de base para as pesquisas de Enid Parker em 1957, uma integrante da Missão do Mar Vermelho (Red Sea Mission Team). Tais pesquisas resultaram na publicação de um dicionário, acompanhado por anotações gramaticais (Parker & Hayward, 1985). [25]
De 1970 a 1995, Parker residiu em Djibuti e, como missionária, realizou pesquisas para publicar livros didáticos e religiosos (tradução do Novo Testamento, provérbios, contos tradicionais). Ainda houve mais pesquisas realizadas no território do povo afar, mas esses artigos e traduções serviram de base para todas as seguintes investigações da língua. Isto, inclusive, pode ser percebido pelo uso das traduções de frases bíblicas, como é nitidamente percebido no livro de Loren F. Bliese, "A generative grammar of afar" (1997), que baseou-se na tradução do Novo Testamento, escrita por Enid Parker.[26]
Duas consoantes que não são homorgânicas, quando adjacentes uma a outra, possuem um som de transição entre elas, que precede o início da segunda consoante. Essas consoantes homorgânicas são fonemas que possuem o mesmo ponto de articulação, mas se distinguem por traços referentes à sonoridade, por exemplo: /t/ (desvozeado) e /d/ (vozeado). Entre consoantes fricativos e vozeadas, e antes de consoantes vozeadas, esse som é um schwa.[28]
ab'le (eu vejo) - ao separar os lábios após o "b", um schwa precede o "l".[28]
bar-'t-e (eu aprendi) - o schwa precede o t.
Vogais e acento tônico
Cada vogal tem a sua versão curta e alongada. As vogais longas são indicadas pela repetição da letra: aa[aː], ee[eː], ii[iː], oo[oː], uu[uː]. [29]
A ortografia afar faz uso de uma adaptação do alfabeto latino, que adapta grafemas latinos cujas unidades sonoras não existem no afar, para indicar fonemas afares que não possuem representação gráfica no latino.[34]
O grafema "c" representa a fricativa faríngea desvozeada (ħ).
o grafema "q" representa a fricativa faríngea vozeada (ʕ).
O grafema "x" representa a plosiva retroflexa vozeada (ɖ).
Esse alfabeto foi estabelecido em 1975 por dois jovens membros da União para Desenvolvimento Cultural (UDC), Ahmed Abdallah Hamad, conhecido como Dimis, e Gamaladdin Abdulkadir. Após a implementação desse alfabeto, a UDC lançou um programa de alfabetização para falantes nativos dominarem a escrita da língua afar.[34]
A escrita do idioma pelo alfabeto latino está em vigor na Etiópia, onde é mais usada;
No Djibuti, o afar escrito é raro;
Na Eritreia, pode ser utilizado tanto o alfabeto latino quanto a escrita ge'ez.[3]
Os pronomes pessoais são obrigatórios na primeira e segunda pessoa, mas são facultativos na terceira pessoa para substituir substantivos. Esses pronomes no caso nominativo, acusativo e genitivo são:[37]
Pronomes pessoais
Nominativo
Acusativo
Genitivo
Primeira pessoa (singular)
a'nu
'yoo
'yi
Segunda pessoa (singular)
a'tu
'koo
'ku
Terceira pessoa (masc./singular)
'usuk
'kaa
'kay
Terceira pessoa (fem./singular)
'is
'tet ('teeti)
'tet
Primeira pessoa (pl.)
na'nu
'nee
'ni
Segunda pessoa (pl.)
'isin
'sin ('siini)
'sin
Terceira pessoa (pl.)
'oson
'ken ('keeni)
'ken
Os pronomes adotam a mesma forma no caso nominativo e genitivo.[37]
O nominativo é utilizado quando o pronome for sujeito, o genitivo quando for um modificador verbal, e o acusativo quando for objeto direto ou objeto de uma adposição.[37]
Os pronomes 'teeti (ela), 'siini (você) e 'keeni (eles/elas) são distintos por possuírem vogais longas. Eles são empregadas nas frases em que estão no final do predicado ou em que precedem uma adposição clítica:[38]
'is 'nee 'siini-ih bah-'t-e (ela nos trouxe a vocês)
Possessivos
Os pronomes possessivos são compostos pelos termos "im" (forma curta) e "iimi" (forma longa), precedidos pelo determinante do possessivo. Etimologicamente, é possível reconhecer, nessas formas, o reflexo de um antigo nome que significa "coisa". Nessa forma gramaticalizada, o (i)m se refere ao objeto de posse: "minha coisa", "sua coisa". Alguns exemplos básicos de uso do pronome possessivo:[39]
úsuk yi gáala gorrisá 3S POS.DET camelo-PL procurar-GER ele está procurando meus camelos.
úsuk yim gorrisá 3S POS.PR procurar-GER ele está procurando o meu.
Quando o pronome for predicativo do sujeito, ele assume a forma longa:[40]
kálam yiimí caneta POS.PR A caneta (é) minha.
A forma longa também é utilizada quando uma posposição marcar a função do pronome.[40]
Os pronomes possessivos podem ser omitidos e, nesse caso, o nome é repetido na forma determinada pelo possessivo.[40]
gaalí sin gáalaos camelos são seus camelos
As formas mais "polidas" fazem uso da repetição.[41]
buɖá ku buɖávocê está em casa, fique confortável (literal: a casa é a sua casa)
Pronome possessivo
Pessoa
Singular
Plural
1ª
yim / yiimí
nim / niimí
2ª
kum / kuumú
siním / siniimí
3ª masc.
3ª fem.
kayím / kayiimí
tetím / tetiimí
kením / keniimí
Anafóricos
Os pronomes anafóricos são aqueles que retomam o sujeito da frase ou do contexto, podendo até substituir pronomes possessivos. Não há distinção entre a segunda e a terceira pessoa: no singular, ambos são 'isi (genitivo) ou 'is (independente). [42]
'isi 'nabsi kixi'n-a 'num 'is bay-'s-a dele corpo amar-ele homem isto perder-ele (causativo, imperfeito) quem ama seu corpo, se perde.
'sinni ki'tab ik'riy-a seu livro ler (pl.) leia o seu livro.
Interrogativos
Os pronomes interrogativos são aqueles que indicam perguntas. O principal pronome é o ma'xa (o quê?) para os casos nominativo e acusativo. [44]
ma'xa rad-'d-e o que caiu (perfeito) o que caiu?
'usuk ma'xa iy-'y-e ele o que disse-ele (perfeito) o que ele disse?
Algumas expressões básicas formadas pelo pronome com posposições:[45]
ma'xa-hpor quê?
ma'xa-h esser'tepor que você perguntou?
ma'xa-tpelo quê?
ma'xa-lem quê?
No caso genitivo, são empregadas diferentes variações do ma'xa:[46]
'mao quê? → 'ma lo'co t-amaa'te-(ê)que dia você vem?
'ma-naah ou 'ma-nni wac'dicomo? → a'tu num'ma 'sin fa'ke-l-e 'ma-nnah 'ne-k it-'t-acomo você diz a nós, "a verdade te libertará"?
an'nionde? → an'ni 'gabu-l t-a-'nionde ela está?
'iyya ou 'miyyaquem? → 'iyya t-ab'le (-ê)quem você vê?
Demonstrativos
Os pronomes demonstrativos são utilizados para apontar a relação de distância (lugar e tempo) entre o nome ao qual se referem e as pessoas do discurso.[47]
Pronomes demonstrativos
Distância
Pronome
Significado
Exemplo (frase)
Tradução
Próximo
'ah
este, estes
'ah t-emee'te
esta veio
Um pouco distante
a'mah
esse, esses
a'mah-ah ruu'b-e
ele mandou/eu mandei para essa
Distante
'woh
aquele, aqueles
'woh t-ay'se
aquela é melhor
Substantivos
Em afar, os substantivos são subdivididos em três grupos de acordo com a sua morfologia: substantivos com final de vogal acentuada, substantivos com final de vogal átona e substantivos com final de consoante. [48]
Final de vogal acentuada: substantivos femininos. Há apenas duas exceções, que são masculinos: abbá (pai) e kataysá (amigo).[48]
Ex: barrámulher
Final de vogal átona: substantivos masculinos. O acento é na penúltima sílaba.[48]
Ex: áwkamenino
Final de consoante: substantivos majoritariamente masculinos, acentuados ou na penúltima ou na última vogal. Esses substantivos podem ter duas formas: uma curta e uma longa.[49]
Forma curta: utilizada quando o substantivo estiver na posição de sujeito, objeto ou determinante em um sintagma genitivo.
dánan lée=h arká. → dánan (burro) burro (sujeito) + água (posposição) + ir ao poço d'água (imperfeito). O burro está indo ao poço d'água.
dígib seefá. → dígib (casamento) casamento (genitivo) + distribuição de comida. Comida de casamento.
wadár wagtá. → wadár (cabras) cabras + criar (primeira pessoa do singular, imperfeito). Eu crio as cabras.
Forma longa: utilizada quando o substantivo funcionar como um circunstancial ou predicado da frase nominal e quando o foco estiver no substantivo. Nesta forma, sempre há uma terminação de vogal (exclusivamente "a","i" ou "u").
gulúbu=k biyaakitá=ah kos-iyyá → gulúb (forma curta de "joelho") joelho (forma longa, posposição) + estar doente (terceira pessoa, singular, imperfeito) + claudicação. Seu joelho dói e ele manca.
áh kabéeli → kabél (forma curta de "sapato) pronome demonstrativo + sapato (forma longa, predicado da frase nominal) Estes (são) os sapatos.
Verbos
Em algumas línguas afro-asiáticas, o sistema verbal segue uma dicotomia de realizado e não-realizado (os aspectos perfeito e imperfeito, respectivamente), que se expande em um sistema temporal e modal que faz uso de verbos auxiliares.[50]
Na língua afar, é possível separar os verbos em três tipos: tipo I e II, que se diferenciam apenas por questões morfológicas, e tipo III, caracterizado por alguma inflexão defeituosa à sua especificidade semântica. Qualquer verbo está sujeito a derivação por afixação de morfemas.[50]
Os indicadores de pessoa (IP) podem ser sufixos ou prefixos, enquanto os indicadores de número (IN) sempre serão sufixos.[51] A distinção por gênero é apenas significante nos verbos de terceira pessoa no singular, apesar de, nas línguas da família afro-asiática, essa diferenciação ser comum para verbos na segunda pessoa e no plural da terceira pessoa.[52]
t-ek'ke (ela se tornou)
y-ek'ke (ele se tornou)
IP e IN
Pessoa
IP
IN
Tipos
tipo I
tipo II
tipo III
tipos I, II e III
1ª (sing.)
*
*
-y
*
1ª (pl.)
n-
-n
-n
*
2ª (sing.)
t-
-t
-t
*
2ª (pl.)
t-
-t
-t
-n/VnV
3ª (sing.)
y- (masc.)
*
*
*
t- (fem.)
-t (fem.)
*
*
3ª (pl.)
y-
*
*
-n/VnV
Derivação
A derivação simples pode ser realizada pela afixação de um morfema ou pela repetição (completa ou parcial) da base do verbo. [53]
Neste primeiro caso, há seis morfemas que operam sobre uma base verbal simples:[54]
uskutéungir → /usskuté/ungir para si mesmo→ [ussukuté]
causativo
-s-
-is-
-siis-
ugdubécumprir → /usgdubé/ fazer cumprir → [usgudubé]
eleeléalcançar → eleeliséfazer atender
ħabédeixar → ħabsiiséfazer deixar
/y/
causativo
*
isillimésair são e salvo → iysillimésalvar
/t/
autobenéfico
-t-
-tt-
-it-
iɖħiɖécosturar → /i=t-ɖiħiɖɖé/costurar para si mesmo→ [iɖɖiħiɖɖé]
eeɖegéconhecer → etteeɖegéconhecer por si mesmo
alayséassar → alaysitécozinhar para si mesmo
A posição do morfema depende do tipo de verbo ao qual está ligado e não possui impacto semântico nem sintático. Alguns morfemas derivados têm papel sintático ao modificar a valência do verbo, mas também independe de sua posição.[54]
Também existem quatro morfemas complexos, compostos por dois morfemas simples. Eles dizem respeito aos verbos do tipo I e do tipo II.[55]
yaabéfalar → yabbaasitéfalar por seu próprio interesse
A derivação de um verbo também pode se dar pela repetição (total ou parcial) da base verbal, de acordo com o tipo verbal.Essa construção é utilizada para expressar uma ação que se repete ao longo do tempo em intervalos irregulares. Para verbos do tipo III que expressam qualidade ou estado, essa estrutura atenua o significado original. [57]
Tipo I (repetição parcial): verbo → primeira sílaba (VC) + -am- + verbo. Por exemplo:[58]
oogoréacertar → /oʕ-am-ooʕobé/acertar às vezes → [oʕamooʕobé]
Tipo II e III (repetição total): verbo → base verbal + -am- + verbo. Por exemplo:[59]
geɖéandar → /geɖ-am-geɖé/andar às vezes → [geɖamgeɖé]
ʕasá ser vermelho → /ʕas-am-ʕasá/ser avermelhado → [ʕasamʕasá]
Aspecto e tempo
O aspecto dos verbos regulares segue a dicotomia de perfeito e imperfeito.[60]
Perfeito: é utilizado para indicar ações que já foram finalizadas. Os verbos são caracterizados pelo sufixo -'ee. Este perde a tonicidade quando sucedido pelo sufixo plural tônico -n'V e é reduzido quando encontra-se ao fim da palavra. Por exemplo:[61]
sool-ee-'ni (eles ficaram);
mak-t-ee-'ni (você virou);
ab-'t-e (você/ela fez).
A estrutura das orações negativas com verbos no aspecto perfeito é formada pelo prefixo 'ma- (reduzido quando preceder vogais em sílabas fechadas) e pelo sufixo -in'na, adjunto ao verbo no infinitivo. Por exemplo:[61]
'ma-fak-in'n-a (ele/ela não abriu);
'm-akm-inn-i'yo (eu não comi).
Imperfeito: indica ações incompletas ou que ainda estão transcorrendo. Os verbos são caracterizados pelo sufixo -'aa, que também perde a tonicidade quando precede o sufixo plural tônico -n'V e é reduzido quando encontra-se em sílabas fechadas. Por exemplo:[62]
ab-t-aa-'na (você faz);
rab-aa-'na (você morre).
As orações negativas com verbos no aspecto imperfeito são formadas pela radical imperfeita e o prefixo 'ma-. As vogais são reduzidas quando sucedidas por duas consoantes, e a vogal final da palavra é -'aa. Por exemplo:[63]
'ma-ra'd-a (não cai);
'm-aggi'f-a (eu não mato).
Presente imperfeito: Ação contínua do presente. Formação → verbo (sufixo -'oo).[64]
dagi'y-oeu sou pequeno.
Presente perfeito: Ação concluída recentemente. Formação → verbo perfeito [-h] + verbo auxiliar "an" (imperfeito).[65]
ko'r-e-h an('i)eu subi;
ob-t-ee-'ni-h t-ani(i)-n('i)vocês desceram.
Progressivo do presente: Indica a locução verbal "estar fazendo". Formação → verbo imperfeito [-h] + verbo auxiliar "en".[66]
ɖintá=h aneu estou dormindo.
Imediato: Aquilo que está prestes a acontecer. Formação → verbo no subjuntivo (paroxítona e sufixo -u) + verbo auxiliar "way".[67]
'yoo 'xat-t-u way-'t-a-âvocê está prestes a me ajudar?
'isin ob-'t-oo-n-u way-t-aa-'navocês estão prestes a descer.
Futuro: Ações que ainda não ocorreram. Formação → verbo no infinitivo (partícula 'e) + verbo auxiliar "le".[68]
xa'b-e li'yoeu vou sair;
xa'b-e leele/ela vai sair.
As orações negativas no futuro seguem uma estrutura distinta apenas na forma de pergunta. Em outros casos, a construção das orações de negação no aspecto imperfeito também servem para as frases no futuro.[68]
doo'r-e 'ma-ntu-ûvocê não vai escolher?
doo'r-e 'ma-li-îele/ela não vai escolher?.
Futuro perfeito: Ação que estará concluída em determinado momento do futuro. Formação → particípio do verbo + verbo auxiliar "sug" (futuro).[65]
Obs: Exclusivo dos dialetos setentrionais. O dialeto Aussa não faz uso dessa construção, então o verbo "sug" é interpretado com seu significado original, "esperar", ao invés de "terá".
Pretérito perfeito: Ação que ocorreu no passado antes de uma outra ação. Formação → verbo [-h] + verbo auxiliar "sug" ou "en".[70]
Obs: "sug" e "en" são verbos que perdem o seu significado original ("esperar" e "ser", respectivamente) e tornam-se indicadores do tempo verbal. No dialeto aussa, o "sug" é mais utilzado, entretanto, ambos estão corretos.
gaxis-'s-e-h suk-'t-evocê/ela tinha atendido;
rab-t-ee-'ni-h suk-t-ee-'nivocês tinham morrido.
Pretérito contínuo: Ação que ainda está ou estava ocorrendo. Formação → verbo no infinitivo (paroxítona e sufixo -uk) + verbo auxiliar "sug" ou "en".[71]
'oson 'dag-ak sug-ee-'niela estava sofrendo;
'isin ak'kac-uk suk-t-ee-'nieles estavam cavando.
Pretérito imediato: Algo que estava prestes a ocorrer. Formação → verbo no imediato + verbo auxiliar "en".[69]
Obs: O auxiliar no tempo imediato, "way", torna-se "waak".
'kaa t-ays-a'xaw-u 'w-aa-k t-e'ne-mera ele quem estava prestes a entregá-lo.
Tempos verbais
Formato
Exemplo
Presente imperfeito
verbo (sufixo -'oo)
dagi'y-oeu sou pequeno
Presente perfeito
verbo perfeito [-h] + auxiliar imperfeito "an"
ko'r-e-h an('i)eu subi
Progressivo do presente
verbo imperfeito [-h] + auxiliar "en"
ɖintá=h aneu estou dormindo
Imediato
verbo subjuntivo (sufixo -u) + auxiliar "way"
'yoo 'xat-t-u way-'t-a-âvocê está prestes a me ajudar?
Futuro
verbo infinitivo (partícula 'e) + auxiliar "le"
xa'b-e li'yoeu vou sair
Futuro perfeito
particípio do verbo + auxiliar "sug"
inaaci't-e-h su'ge-l-eele terá deitado
Futuro contínuo
particípio contínuo do verbo + auxiliar "sug"
is gor'ris-ak su'ge-l-eela estará pesquisando
Pretérito perfeito
verbo [-h] + verbo auxiliar "sug"/"en"
gaxis-'s-e-h suk-'t-evocê/ela tinha atendido
Pretérito contínuo
verbo infinitivo (sufixo -uk) + auxiliar "sug"/"en"
'oson 'dag-ak sug-ee-'niela estava sofrendo
Pretérito imediato
verbo imediato + auxiliar "en"
'kaa t-ays-a'xaw-u 'w-aa-k t-e'ne-mera ele quem estava prestes a entregá-lo
Artigo 1 da Declaração universal dos direitos humanos
Texto na língua afar: Karaamat kee garwawagittaamal seehada inkih gide akkuk, currik taabuke. Usun kas kee cissi loonuuh, keenik mariiy mara lih toobokinni kasat gexsitam faxximta.[81]
Tradução: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.[81]
↑Raymond G. Gordon, Jr, ed. 2005. Ethnologue: Languages of the World. 15th edition. Dallas: Summer Institute of Linguistics.
↑Raymond G. Gordon, Jr, ed. 2005. Ethnologue: Languages of the World. 15th edition. Dallas: Summer Institute of Linguistics. Raymond G. Gordon, Jr, ed. 2005. Ethnologue: Languages of the World. 15th edition. Dallas: Summer Institute of Linguistics.
Hayward, R.J.; Parker, E.M. (1985). «An Afar-English-French dictionary (With grammatical notes in English)». Londres: SOAS, Universidade de LondresEm falta ou vazio |url= (ajuda)
Loren F. Bliese. 1976. "Afar,", As Línguas Não Semíticas da Etiópia. Ed. Lionel M. Bender. Ann Arbor, Michigan: Centro de Estudos Africanos, Universidade Estadual de Michigan. Páginas 133–164.
J.G. Colby. 1970. "Notas do dialeto do norte da língua Afar," Jornal de Estudos da Etiópia 8:1–8.
Richard J. Hayward. 1998. "Qafar (Cuxítico Ocidental)," Manual de Morfologia. Ed. A. Spencer & A. Zwicky. Oxford: Blackwell. Páginas 624-647.
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Enid M. Parker. 2006. Dicionário Inglês-Afar. Washington DC: Dunwoody Press.
Rainer M. Voigt. 1975. "Bibliographie des Saho-Afar," Africana Marburgensia 8:53–63.