Às vezes, o kituba é tido como uma língua crioula endógena, isto é, desenvolvida sem realocações de povos,[3] mas esta denominação não é inteiramente aceita, por causa da falta da influência no substrato e superestrato típico de uma língua crioula.
Nomes
O kituba é conhecido por levar vários nomes entre seus falantes. Na República do Congo, é chamado munukutuba ou kituba. A primeira forma é gramaticalmente incorreta, significando, literalmente, "eu falar". A última significa, literalmente, "fala". O nome kituba é usado na República Democrática do Congo.
Na República Democrática do Congo, o kituba é chamado kikongo ya leta (quicongo da administração do estado), mas é, na maioria das vezes, chamado simplesmente de quicongo, especialmente fora da região dos congos. A constituição da República Democrática do Congo lista o quicongo como uma das línguas nacionais. De fato, a constituição se refere ao kikongo ya leta (isto é, kituba), pois simplesmente não há tradução da constituição para o quicongo.
Há também outros nomes usados historicamente, como kibulamatadi, kikwango, Ikeleve, e kizabave mas tais termos caíram em desuso. Nos círculos acadêmicos, essa língua é chamada, simplesmente, quicongo-kituba.
Distribuição geográfica
A maioria dos falantes do kituba vive na República Democrática do Congo. Essa língua é falada primariamente nas províncias do Congo Central, Cuango, Cuílo e em menor grau em Quinxassa, Mai-Ndombe e Cassai.
O kituba é a mais importante língua da República do Congo. É falada na metade sul do país, nas regiões Kouilou (especialmente Ponta Negra), Niari, Bouenza, Lékoumou e na capital Brazavile. O lingala é mais popular no norte.
O status do kituba em Angola é desconhecido. É provável que seja inteligível para alguns dos povos congos daquele país. Especialmente aqueles que viveram nos países onde o kituba é falado.
Kituba ou Kikongo ya leta no Google Translate
Em 27 de junho de 2024, a Google anunciou a adição de 110 línguas, incluindo o Kituba e o Quicongo, ao Google Translate. No entanto, verifica-se que a Google apenas adicionou o Kituba e está a chamar-lhe, por engano, Quicongo[4][5].
Status oficial
A língua kituba é a língua nacional da República do Congo e da República Democrática do Congo. Na prática, a expressão língua nacional quer dizer que essa é a língua da administração e a ensinada na educação básica.
Uma língua nacional também pode designar a língua usada na comunicação em massa e em órgãos públicos. Rádios públicas e televisões na República Democrática do Congo e na República do Congo usam o kituba como uma das principais línguas nas notícias matinais.
História
O kituba surgiu no baixo Rio Congo, numa área habitada pelos congos.
Há varias teorias sobre como o kituba se tornou uma língua regional. Uma teoria afirma que, no tempo do Reino do Congo, o kituba já era uma língua simplificada dialetal de comércio, que os colonizadores europeus subsequentemente adotaram como íngua da administração regional. Uma outra teoria diz que uma língua simplificada usada para o comércio chamada kifyoti se desenvolveu na costa dominada pelos portugueses e posteriormente se expandiu com o avanço dos missionários cristãos na região entre os rios Cuango e Cassai, onde se tornou língua principal (daí o nome kikwango). Ainda, uma outra teoria enfatiza a construção da ferrovia Matadi-Quinxassa no final do século 19, que empregou mão de obra proveniente do Oeste da África, Baixo Congo, e a região vizinha de Bandundu. Os trabalhadores possuíam diversas origens linguísticas, que acabaram por dar origem a uma língua gramaticalmente simplificada.
Independente de sua origem, o kituba se estabeleceu nas grandes cidades, tendo sido encontrado durante o período colonial de 1885 a 1960. O kituba é falado como primeira língua em grandes cidades de maioria congo como Moanda, Boma, Matadi, Ponta Negra, Dolisie, Nkayi, e Brazavile bem como em cidades onde os congo são minoria, como Bandundu, Kikwit, e Ilebo.
Fonologia
Vogais
O kituba possui cinco fonemas vocálicos: /a/, /e/, /i/, /o/, e /u/. Elas são muito similares às vogais do português. As vogais nunca são reduzidas, independente do acento. São pronunciadas da seguinte forma:
/a/ é pronunciado como o "a" de ave
/e/ é pronunciado como o "e" de escola
/i/ é pronunciado como o "i" de imagem
/o/ é pronunciado como o "o" de ovo
/u/ é pronunciado como o "u" de urubu
Consoantes
bilabial
labiodental
dental
alveolar
postalveolar
palatal
velar
glotal
plosiva
p, b
t, d
k, g
prenasalizada
mp, mb
mfmv
nt, nd
nsnz
ŋk, ŋg
nasal
m
n
ŋ
fricativa
fv
sz
(h)
lateral
l
aproximante
w
j
Notas:
A inicial prenasalizada da palavra é reduzida a uma simples consoante em alguns dialetos, por exemplo mpimpa e nkento se tornam pimpa e kento no kituba de Pointe-Noire.
Alguns dialetos adicionam uma parada às consoantes fricativas alveolares prenazalisadas, por exemplo, Kinsasa e nzila se tornam Kintsasa e ndzila.
Alveolares fricativas podem se tornar postalveolares antes de /i/.
Gramática
Fonemas
O kituba possui pronomes de sujeito e de objeto. Os pronomes de objeto são usados no lugar dos pronomes de sujeito quando o sujeito é enfatizado.
Pessoa
Singular
Plural
Sujeito
Objeto
Sujeto
Objeto
1ª
mu
munu, mono
beto
beto
2ª
nge
nge
beno
beno
3ª
yá
yandi
ba
bau
Substantivos
O kituba manteve uma grande parte dos casos substantives do quicongo com algumas modificações. As classes 9 e 11 convergiram com a classe singular com zero prefixo, e seus plurais são formados pelos prefixos plurais ba-.
singular
plural
classe
prefixo
exemplo
classe
prefixo
exemplo
0
-
mama ('mãe)
2
ba-
bamama (mães)
1
mu-
muntu (pessoa)
2
ba-
bantu (pessoas)
3
mu-
mulangi (garrafa)
4
mi-
milangi (garrafas)
5
di-
dinkonde (banana)
6
ma-
mankonde (bananas)
7
ki-
kima (coisa)
8
bi-
bima (coisas)
9
n-/m-
nkosi (leão)
2+9
ba-n-
bankosi (leões)
11
lu-
ludimi (língua)
2+11
ba-lu-
baludimi (línguas)
12
ka-
kakima (doce)
13
tu-
tubima (doces)
14
bu
bumbote (deidade)
15
ku-
kubanza (pensar)
Verbos
O kituba desenvolveu um sistema verbal que envolve tempo e aspecto. A maioria das formas verbais possui versões longas e curtas. As formas longas são usadas na comunicação escrita oficial enquanto a forma curta é usada na comunicação falada do cotidiano.
A conjugação irregular do verbo kuvanda ou kuvuanda (ser) é apresentada na tabela abaixo. É o único verbo irregular do kituba.
Tempo
Forma longa
Forma curta
Exemplo
Tradução
Presente e futuro imediato
kele
ke
Yau kele nkosi.
Isso é um leão.
Futuro
kele/ata kuv(u)anda
ke/ta v(u)anda
Mu ta vuanda tata.
Eu serei um pai
Presente progressivo
kele kuv(u)andaka
ke v(u)andaka
Nge ke vuandaka zoba.
Você está sendo estúpido
Futuro progressivo
ata kuv(u)andaka
ta v(u)andaka
Beno ta vuandaka ya kukuela.
Você será casado
Pretérito
v(u)andaka
Yandi vuanda kuna.
Ele estava aqui
Passado progressivo
v(u)andaka
Beto vuandaka banduku.
Nós era-mos amigos
Pretérito perfeito
mene kuv(u)anda
me v(u)anda
Yandi me vuanda na Matadi.
Ele estivera em Matadi.
Pretérito perfeito progressivo
mene kuv(u)andaka
me v(u)andaka
Yandi me vuandaka mulongi.
Ela têm sido uma professora
Todos os outros verbos são conjugados com verbos auxiliares. A conjugação do verbo kusala (fazer) é apresentada na tabela abaixo.
Tempo
Forma longa
Forma curta
Exemplo
Tradução
Presente e futuro imediato
kele kusala
ke sala
Yandi ke sala.
Ele trabalha /Ela trabalhará.
Presente progressivo
kele kusalaka
ke salaka
Yandi ke salaka.
Ele está trabalhando
Pretérito
salaka
salaka
Yandi salaka.
Ele trabalhou
Pretérito imediato
mene sala
me sala
Yandi me sala.
Ele trabalhou.
Pretérito imediato progressivo
mene salaka
me salaka
Yandi me salaka.
Ele têm trabalhado.
Pretérito progressivo
vuandaka kusala
va sala
Yandi vuandaka kusala.
Ele esteve trabalhando
Narrativo
sala
sala
Futuro
ata sala
ta sala
Yandi ta sala.
Ele trabalhará.
Futuro progressivo
ata salaka
ta salaka
Yandi ta salaka.
Ele estará trabalhando
Léxico
A maior parte do vocabulário do kituba vem do quicongo. Outras línguas bantus influenciaram léxico kituba, incluindo kiyaka, kimbala, kisongo, kiyansi, lingala, e suaíli. Em adição, muitas palavras foram emprestadas do francês, português e inglês.
Isso inclui:
↑Arends, Jacques (2008) [1994]. «The socio-historical background of creoles». In: Mysken, Pieter; Singler, J. V. Pidgins and Creoles: An Introduction. 15. [S.l.]: John Benjamin. p. 17