O local onde se encontra o museu era primitivamente uma ponta de terra que avançava sobre as águas da baía de Guanabara, entre as praias de Piaçaba e de Santa Luzia. Nessa ponta, os portugueses ergueram, em 1603, o Forte de São Tiago da Misericórdia,[4] ao qual se acrescentou a Prisão do Calabouço (1693) - destinada a escravizados faltosos -,[5] a Casa do Trem (1762) - depósito do "trem de artilharia" (armas e munições) -, o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro (1764) e o Quartel (1835).[6]
Na Casa do Trem teria sido esquartejado o corpo de Tiradentes, após sua execução no Campo de Lampadosa (atual Praça Tiradentes), no final do século XVIII.
Por sua localização estratégica para a defesa da cidade, então capital, a ponta e as instalações nela mantidas foram área militar até 1908, quando o Arsenal de Guerra foi transferido para a ponta do Caju.[7]
Do primitivo forte de São Tiago e da prisão do Calabouço restam apenas as fundações. Subsistem até aos nossos dias o edifício da Casa do Trem (totalmente recuperado na década de 1990), o do Arsenal de Guerra (onde se destaca o imponente pátio da Minerva), e o pavilhão da exposição de 1922, atualmente ocupado pela Biblioteca.
O museu
Criado em agosto de 1922, visando dotar o país de um museu voltado para a história do Brasil,[9] as novas instalações foram abertas ao público em 12 de outubro, compreendendo o pavilhão das Grandes Indústrias, um dos mais visitados da referida exposição, e duas galerias do Museu Histórico Nacional. Em 1940, essas galerias abertas ao público já somavam vinte e duas.
Atualmente, o museu ocupa todo o conjunto arquitetônico da antiga Ponta do Calabouço, constituindo-se em um dos mais importantes museus históricos do país e um centro gerador de conhecimento nas áreas da museologia e do patrimônio cultural.
Abrigou o primeiro curso de Museologia do país, criado em 1932, e que funcionou nas dependências do museu até 1977, tornando-se uma referência para a constituição de outros importantes museus brasileiros. Outra importante instituição que começou no Museu Histórico Nacional foi a Inspetoria dos Monumentos Nacionais, criada em 1934, que transformou-se mais tarde no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).[10]
Em 2009, o conjunto arquitetônico e as coleções do MHN foram tombados pelo Iphan.
Características
O museu se caracteriza como um museu de história, com ênfase na história do Brasil, abrangendo desde o período pré-cabralino até sua história contemporânea. Seus espaços expositivos abertos à visitação pública fazem parte de um conjunto arquitetônico que distribui-se por uma área útil total de 14 540 m², a qual se somam os 3 212 m² de seus pátios internos (pátio Epitácio Pessoa, também conhecido como pátio dos Canhões, pátio da Minerva, pátio de Santiago e pátio Gustavo Barroso).
No pavimento térreo, encontram-se o pátio dos Canhões, que apresenta uma coleção de canhões do período colonial e a exposição de longa duração "Do móvel ao automóvel", com um grande número de carruagens do século XIX. Nesse pavimento encontra-se ainda a Reserva Técnica do museu, localizada no pátio Gustavo Barroso. Há também no térreo algumas galerias utilizadas para exposições temporárias.
O segundo pavimento apresenta o circuito de longa duração do museu, com as seguintes galerias: "Oreretama" (dedicada aos primeiros povos que viveram no Brasil e aos índios que até hoje povoam o país); "Portugueses no Mundo" (mostrando as trajetórias dos navegantes portugueses no período das grandes navegações e o processo de colonização no Brasil); "A Construção do Estado" (abrangendo a Independência e o período imperial); e "A Construção da Cidadania" (que aborda desde a Proclamação da República até a história contemporânea). Neste segundo pavimento localiza-se também a biblioteca do museu no pátio de Santiago.
No terceiro pavimento encontram-se o Arquivo Institucional, o Laboratório de Conservação e Restauração, o acervo de numismática (Casa do Trem) e as áreas técnicas e administrativas do museu.
Ajudaram a compor ainda o acervo do museu, em seu período inicial, a doação de colecionadores particulares, como a do senador baiano Miguel Calmon du Pin e Almeida, a da família Guinle e a da museóloga Sophia Jobim. Outra importante coleção, adquirida nos primeiros anos do museu, é a de esculturas religiosas em marfim do empresário e colecionador Souza Lima, arrematadas pelo presidente Getúlio Vargas em um leilão promovido pela Caixa Econômica Federal, em 1940.[12]
Atualmente, o acervo do museu se divide em arquivístico, bibliográfico, museológico e aquele de suas próprias publicações. O acervo arquivístico está dividido em dois: o Arquivo Histórico e o Arquivo Institucional. O primeiro, é formado por coleções, em sua maioria de caráter originalmente particular, e que abriga cerca de 62 mil documentos iconográficos e manuscritos.
O acervo museológico do Museu Histórico Nacional conta com cerca de 172 mil itens e é formado por coleções de objetos que datam desde a Antiguidade até os dias atuais. Faz parte deste acervo a área de Numismática, responsável pelas coleções de moedas, cédulas, selos, carimbos, sinetes, medalhas e ordens honoríficas de Brasil e Portugal, totalizando mais de 150 mil itens. A qualidade do acervo faz da coleção de numismática a mais expressiva da América do Sul.
Nela há várias peças raras, como a moeda Peça da Coroação, com tiragem de apenas 64 exemplares, cunhada a mando do Imperador D. Pedro I para comemorar sua coroação, em 1822, a medalha de homenagem a Louis Pasteur, bulas dos Papas Clemente VI (século XIV) e Júlio II (séculos XV e XVI) e a Insígnia Imperial Ordem da Rosa, criada para perpetuar a memória do segundo casamento de Dom Pedro I com Dona Amélia de Leuchtenberg.
O acervo museológico inclui ainda a Reserva Técnica do museu, com mais de 22 mil itens, datados dos séculos XVI ao XXI, e que abrangem diversos tipos de materiais, tais como a madeira, o metal, o marfim, o vidro, o mármore, o ouro, a porcelana e o gesso, além de quadros, joalheria, cestaria, esculturas, brinquedos, armaria e têxteis.
Por fim, o museu também preserva um acervo de suas publicações, pois desde a sua criação, o Museu Histórico Nacional dedica-se à produção e à divulgação de conhecimento nas áreas de História, do Patrimônio e da Museologia. Desde de 1940, o museu publica seus Anais, um periódico de caráter científico, e, a partir de 1999, passou a publicar em livro as apresentações do Seminário Internacional que começou a promover na década de 1990.
O acervo aberto à visitação se divide em várias exposições, de longa duração e temporárias. Entre as exposições de longa duração estão:
No pátio dos Canhões está a coleção de canhões do museu e reúne exemplares de Portugal, Inglaterra, França, Holanda e do Brasil. Foi a primeira exposição do país a ter legendas em braile;
"Do Móvel ao automóvel: transitando pela História" mostra 29 peças como cadeirinhas de arruar, carruagens e berlindas. Uma das raridades dessa exposição é o carro Protos, pertencente ao barão do Rio Branco, enquanto Ministério das Relações Exteriores, e um dos dois únicos existentes no mundo;
O pátio Gustavo Barroso apresenta esculturas de diversos autores brasileiros - com destaque para os conjuntos escultóricos de Eduardo de Sá;
O pátio da Minerva apresenta uma coleção de escudos com a representação heráldica de portugueses ilustres do período colonial;
"Îandé: aqui estávamos, aqui estamos" é dedicada à presença dos povos originários no país, desde o passado mais remoto até os dias atuais;
"Portugueses no Mundo" mostra o processo de colonização e seus desdobramentos econômico-culturais, compondo-se de peças ligadas à navegação, às culturas de cana-de-açúcar e café, à mineração, à chegada da corte portuguesa no Brasil;
"A Construção do Estado" procura retratar a Independência do Brasil, o período imperial e à imigração do século XIX, entre outros assuntos relacionados à essa época;
"Cidadania" apresenta um panorama da história recente do país, desde a proclamação da República até a história contemporânea.
O MHN possui um núcleo de Educação que atende grupos escolares agendados e visitantes espontâneos com atividades mediadas especiais. As exposições são acessíveis e todas as áreas de visitação do museu permitem a livre circulação de cadeirantes. O museu também possui uma loja de souvenirs no pátio da Minerva.
Diretores do Museu Histórico Nacional
Ao longo de sua história o museu teve os seguintes diretores:[13]
↑MAGHALHÃES, Aline Montenegro et alii. (2013). MAGHALHÃES, Aline Montenegro et alii. (2013). Museu Histórico Nacional: 90 anos de histórias, 1922-2012. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional. pp. p.18–33. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional,. pp. 18–33
Bibliografia
BANCO SAFRA. O Museu Histórico Nacional. São Paulo, Banco Safra, 1989.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Museu Histórico Nacional. São Paulo, Olhares, 2013.
MUSEU HISTÓRICO NACIONAL. Museu Histórico Nacional: 90 anos de histórias, 1922-2012. Rio de Janeiro, Museu Histórico Nacional, 2013.