Francisco Wanderley Luiz, 59 anos de idade, identificado como o autor do ataque, era um chaveiro que em 2020 havia sido candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL) no município de Rio do Sul, em Santa Catarina. Ele teria se radicalizado após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 e já havia proferido ameaças a parlamentares e figuras públicas e discursos extremistas em publicações nas suas redes sociais.[1][2][3]
"O indivíduo trazia consigo uma mochila e estava em atitude suspeita em frente à estátua, colocou a mochila no chão, tirou um extintor, tirou uma blusa de dentro da mochila e a lançou contra a estátua. O indivíduo retirou da mochila alguns artefatos e com a aproximação dos seguranças do STF, o indivíduo abriu a camisa e os advertiu para não se aproximarem"
— Trecho do Boletim de Ocorrência da Polícia Civil[6]
Na noite do dia 13 de novembro de 2024, duas explosões atingiram a Praça dos Três Poderes em Brasília, resultando na morte de uma pessoa e na evacuação imediata dos prédios das principais instituições governamentais, incluindo o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional do Brasil. As explosões ocorreram com um intervalo de 18 segundos e foram ouvidas a longa distância.[7] O barulho das explosões foi captado durante uma entrevista da deputada Erika Hilton (PSOL) no Palácio do Planalto.[8][7] O local foi tomado por uma densa fumaça e foi isolado pela Polícia Militar do Distrito Federal.[9]
Uma equipe de reportagem da TV Brasil se preparava para entrar ao vivo minutos antes do começo do Repórter Brasil e chegou a conversar rapidamente com o autor do atentado, sem saberem de quem se tratava, apesar de este acabar aparecendo em uma entrada durante a exibição do telejornal. As imagens gravadas foram ao ar no dia seguinte e repercutiram nas redes sociais.[10][11]
Em seguida, o autor do atentado tentou, sem sucesso, ingressar no Palácio do Supremo Tribunal Federal e, posteriormente, detonou os explosivos que portava em seu corpo, resultando em sua morte.[14] De acordo com testemunhas, o autor do ataque atirou um explosivo contra a escultura A Justiça, localizada em frente ao prédio que sedia o STF, antes de explodir as bombas.[15][16] Um vigilante relatou que um homem retirou diversos objetos de uma mochila, lançou uma blusa contra a escultura, advertiu os seguranças a não se aproximarem, deitou no chão, acendeu e colocou uma bomba junto à própria cabeça, com um travesseiro, e aguardou a explosão.[17] Câmeras de segurança filmaram as explosões.[18][19]
No momento do atentado, o autor utilizava uma roupa com naipes de baralho.[20] Segundo a Polícia Federal, o acontecimento foi inicialmente considerado um atentado terrorista, mas posteriormente, no laudo final, foi considerado um ataque suicida.[21] O autor portava artefatos explosivos artesanais e um extintor transformado em lança-chamas improvisado.[22][23][24] Quando morreu, seu rosto e mão direita ficaram completamente desfigurados, e pedaços dos seus restos mortais foram arremessados a metros do local.[25][26] Os pertences, bem como o veículo com os fogos de artifício, pertencia ao autor dos ataques.[27][28]
Além do isolamento do STF, foram implementadas medidas para garantir a segurança dos arredores do Palácio do Planalto e da Câmara dos Deputados do Brasil. Viaturas e equipes antibombas chegaram rapidamente para avaliar riscos adicionais e realizar uma varredura completa em busca de explosivos remanescentes.[30]
A Câmara dos Deputados estava em sessão para votar uma Proposta de Emenda à Constituição que amplia a imunidade tributária de igrejas; a sessão foi suspensa após a confirmação da morte.[31] O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR) coordenou uma inspeção em toda a área para prevenir novos incidentes.[32] A evacuação seguiu um protocolo cauteloso, com orientações para que ninguém permanecesse próximo às janelas do STF, de onde os ministros e servidores foram retirados em segurança,[33] enquanto um perímetro de segurança foi estabelecido ao redor do Congresso, que foi evacuado cerca de uma hora após as explosões.[34][35]
As duas explosões são alvo de uma intensa investigação conduzida pela Polícia Federal e forças de inteligência, com o apoio da segurança local e de peritos especializados.[26]
Em Rio do Sul, França atuara como dono de boates nas décadas de 1990 e 2000, posteriormente passando a atuar como chaveiro.[39] Em 2012, foi preso por contravenção, pagando fiança. Seu caso foi denunciado no Ministério Público em 2013, ficando um período em liberdade e em seguida no regime aberto. Sua condenação foi revogada em 2014.[40][6]
Investigações mostraram que Luiz havia alugado uma casa no Distrito Federal, em Ceilândia.[41] Imagens do circuito interno da Câmara dos Deputados mostraram que ele circulou pelo Anexo IV 11 horas antes das explosões.[42] Antes do atentado, ele publicou em seu perfil no Facebook mensagens enigmáticas com ameaças de bomba contra William Bonner, Fernando Henrique Cardoso, José Sarney e o vice-presidente Geraldo Alckmin, que ele chamou de "comunistas de merda"; o perfil foi removido do ar após as explosões.[43][44][41] Luiz também postou uma fotografia de si dentro do plenário do Supremo Tribunal Federal, onde ele esteve no dia 24 de agosto de 2024,[45] e recados ameaçadores direcionados aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, e aos generais Tomás Paiva e Freire Gomes.[46] Dentre suas publicações feitas naquele dia, uma dizia: "Deixaram a raposa entrar no galinheiro. [...] Ou não sabem o tamanho das presas, ou é burrice mesmo. Provérbios 16:18 (A soberba procede [sic] a queda)".[47]
Na casa alugada por Luiz em Ceilândia, a Polícia Federal encontrou inscrições com referências aos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília e um plano de bomba.[48] Uma gaveta do local explodiu quando foi aberta por um robô antibombas.[23][49] Além da casa e do carro, a polícia federal localizou um trailer alugado pelo autor das explosões, que também estava no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Dentro do veículo, a Polícia Federal encontrou, além de roupas, dinheiro, ferramentas e outros objetos, um telefone celular, mais explosivos e um boné com o slogan de campanha de Jair Bolsonaro, "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".[3][19][50][1][2] As buscas na residência e no trailer foram autorizadas pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes.[51]
Em 13 de novembro, um dos filhos de Luiz afirmou à Polícia Federal que recebeu mensagens "em tom de despedida" do pai nos últimos dias.[52] No mesmo dia, Luiz morreu em decorrência de um traumatismo cranioencefálico e queimaduras graves na face devido à explosão da bomba.[53]
A ex-esposa de Luiz declarou ao GloboNews que o seu objetivo era matar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Moraes, e quem estivesse próximo.[48][54] Seu irmão, ainda, confirmou um processo de radicalização política nos dois anos anteriores ao incidente, e Eduardo Marzall, presidente do diretório municipal do PL na eleição em que Luiz se candidatou, descreveu-o como "extremamente bolsonarista, ferrenho apoiador e fanático por Bolsonaro".[55][56]
Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, afirmou que "grupos extremistas estão ativos" e completou que o episódio "não é fato isolado" e está "conectado com várias outras ações que a PF tem investigado no período recente".[6] Na manhã do dia seguinte, na quinta-feira, o STF recebeu uma mensagem com ameaças por e-mail, referenciando também Luiz.[57] Em 26 de novembro, um laudo pericial da Polícia Federal (PF) revelou que Luiz segurava um artefato explosivo próximo à própria cabeça no momento da detonação.[58]
As investigações encontraram as fotografias de Luiz que aparece com militares e políticos, incluindo o ex-procurador da República e ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público do Paraná, Deltan Dallagnol, do Podemos-PR, e o deputado Eduardo Bolsonaro, do PL-RJ, um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro.[59]
Inquérito e desdobramentos
Em 14 de novembro, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luís Roberto Barroso, designou o ministro Alexandre de Moraes como relator do inquérito referente ao caso. Moraes assumiu a relatoria com base na regra de prevenção, uma vez que já é responsável por inquéritos relacionados a temas semelhantes. O ministro afirmou, ainda, que as explosões representam um reflexo do ódio político que se instalou no Brasil nos últimos anos, destacando que este episódio não é um “fato isolado do contexto”.[60]
Na manhã do dia 17 de novembro, um imóvel de Luiz foi atingido por um incêndio em SC. De acordo com informações apuradas com a Polícia Militar, a ex-esposa de Francisco, Daiane Dias, é suspeita de atear fogo no local. Ela ficou ferida na ocorrência e chegou a ser resgatada por um vizinho, que relatou à imprensa que a mulher apresentava queimaduras pelo corpo quando foi retirada da casa.[61][62][63] A família teria confirmado a autoria dela no incidente.[64]
Uma testemunha afirmou à polícia que Dias teria permanecido propositalmente no interior do imóvel em chamas, em uma tentativa de suicídio. Ela teria afirmado em um vídeo, ainda, que planejou o atentado junto do ex-marido.[65] No mês seguinte, dia 3 de dezembro, ela morreu por complicações das queimaduras.[66]