Os seus membros usavam sobrevestes brancas com uma cruz negra e tinham por norte o lema: Ajudar, defender, curar.[2] Tiveram a sua sede em Acre, uma fortaleza construída nos tempos do Reino de Jerusalém (1099-1291), durante as Cruzadas, cujos vestígios se conservam no norte de Israel.
Atualmente, a ordem atua como uma organização de caridade na Europa Central.[2]
História
Desde a descoberta do Santo Sepulcro por Helena de Constantinopla entre 327 e 329, peregrinos cristãos de toda a Europa iam à Terra Santa visitar o túmulo de Jesus Cristo, incluindo alemães. O primeiro registro desse povo na Terra Santa se dá em 1064/1065, quando, liderados pelo Bispo Gunther Von Bamberg, não só peregrinos cristãos, mas também mercadores, foram ao Oriente visitar os monumentos religiosos e fazer negócio com os mercadores locais.[3]
Fundação
Em meio das expedições da Terceira Cruzada, cavaleiros de diversas ordens estavam sendo castigados e mortos em decorrência de doenças e não tinham o devido auxílio médico. Os corpos dos mortos eram jogados no fosso que separava as muralhas, deixando um terrível odor nos acampamentos, o que causava ainda mais doenças e proliferação de insetos. As unidades médicas, providas pelos Hospitalários, estavam sobrecarregadas e tinham preferência em auxiliar os franceses e ingleses, deixando os germânicos de lado.[4]
Assim, alguns camponeses de Bremen e Lübeck fundaram uma ordem médica para auxiliar seus compatriotas germânicos. A iniciativa foi muito bem recebida pelos nobres germânicos, pelo Patriarca de Jerusalém, e também pelos Hospitalários e Templários. Com a boa aceitação, e a urgência da situação, não demorou para que o Papa Celestino III aprovasse a instituição da Ordem do Hospital de Santa Maria dos Germânicos em Jerusalém (ou Ordem Germânica).[4]
Poucos anos depois, em 1197, um novo exército cruzado germânico chegou a Jerusalém e encontrou um hospital próspero que, além de cuidar dos doentes, oferecia hospedagem aos cavaleiros recém-chegados. Além de todo auxílio médico já provido pela ordem, alguns cavaleiros entenderam que a ela também poderia oferecer tropas para a proteção dos castelos fronteiriços, uma vez que a maioria possuía treinamento militar, e os Templários e Hospitalários estavam em números insuficientes para as batalhas, o que havia levado à perda de Jerusalém em 1187. Assim, em 1198, o Papa Celestino III emite uma carta incorporando tropas à Ordem Germânica que passava a ser uma ordem militar.[4]
Devido à pronúncia do termo alemão "deutsch" (germânico) estar muito próxima do termo inglês "dutch" (holandês), os cavaleiros das outras ordens, ingleses e franceses, atribuíram o termo "Teutônico" às tropas germânicas quando estes chegaram aos postos de batalha.[4]
Guerras na Terra Santa
A Ordem Teutônica teve um árduo início, tinham poucas posses e viviam de parcas doações, e não deram contribuições significativas nas Cruzadas.
Em 1210, Hermann von Salza, hábil negociador e empreendedor, assumiu o posto de Grão-Mestre. Foi sob seu comando que a Ordem Teutônica começou a ganhar notoriedade e posses. Um de seus primeiros feitos enquanto grão-mestre foi a participação da Ordem na coroação do Rei Léo II da Arménia, para quem prestou serviços militares e adquiriu posses rurais e vilarejos.[5]
Entre as primeiras posses da Ordem, um velho castelo na Galileia, adquirido em 1220 com o dinheiro de impostos. Esse castelo foi reconstruído e se tornou, em 1226, a fortaleza Montfort ("Monte Forte"), localizada a 12 km do Mar Mediterrâneo, onde alguns teutônicos se estabeleceram até 1271, quando foi tomada pelos muçulmanos.[6]
Mesmo após a perda de Montfort, o restante dos teutônicos permaneceram em Acre até 1291, quando todas as ordens militares foram retiradas.[7]
Com a participação direta na coroação do rei Léo II, a Ordem ganhou posses relevantes para seu estabelecimento e desenvolvimento no Reino Arménio da Cilícia, além de terras rurais e pequenos vilarejos, recebeu também, em 1212, o castelo Amouda, localizado no alto de uma única rocha em uma extensa planície (hoje localizado no vilarejo de Gökçedam, Turquia).[8]
No leste do país, em 1236, a Ordem recebeu uma torre na região de Harunia, a qual transformou em capela. As generosas doações não eram tão somente um ato de gratidão, mas, principalmente, confiavam que, com o estabelecimento da Ordem Teutônica no reino, estariam a salvo das invasões muçulmanas e dos turcos seljúcidas. A Ordem ficou em território armênio até 1266, quando ocorreu a invasão muçulmana.[9]
Transilvânia
Em 1211, a convite do rei André II da Hungria, parte da Ordem se estabelece na Transilvânia para proteger as fronteiras do País. Em troca da proteção, o rei lhes concedeu isenção de impostos e taxas e lhes prometeu terras nas áreas que iriam se estabelecer.[10] Durante sua presença na região, construíram cinco fortalezas e fundaram a cidade de Brasov.[11]
Durante a quinta cruzada, em 1217, enquanto parte dos cavaleiros rumou para as batalhas no Egito, o rei André II vai à Terra Santa com os Teutônicos, onde participa de uma convenção da ordem em Acre e de batalhas na Galileia. A Ordem Teutônica é associada à Hungria, tal ligação traz status e respeito a ambos os lados.[5] Contudo, internamente, tal empreitada não é bem vista pelos húngaros, que questionam as perdas e os gastos por parte do rei André II, o que o faz perder credibilidade e força política.[10]
Desde o retorno de André II das cruzadas, em 1222, a Ordem passou a ser questionada pela nobreza e aristocratas húngaros, e até mesmo pela realeza, sob a desconfiança de estarem trabalhando em prol de seus próprios interesses e não os da Hungria. Outra situação que viria a piorar sua credibilidade ante os húngaros, foi o conflito entre o papa e o imperador Frederico II. Assim, sua independência militar passou a ser vista como ameaça à segurança do país, razão pela qual foram expulsos em 1225.[5]
Em 1309 a Ordem transferiu sua sede geral para Malbork, norte da Polônia. Com essa mudança a Ordem põe fim a sua luta pela Terra Santa, abandona as regiões do Mediterrâneo e dá início às Cruzadas do Norte.[12] Sua mudança para a região dividiu a opinião dos habitantes locais, contudo, o auxílio prestado pelos cavaleiros nas batalhas travadas por Conrado I da Mazóvia contra os pagãos da Prússia e da Lituânia foi de grande valia para a região.[13]
Por volta de 1329, os cavaleiros teutónicos controlavam, por domínio papal, toda a região do Báltico, desde o golfo da Finlândia até a Pomerânia, na Polônia. Na parte sul de seu domínio, a ordem foi abolida e suas terras se tornaram a Prússia, em 1525. A parte norte (Estônia e Letónia) foi dividida entre a Polônia, Rússia e Suécia, depois de 1558.
Batalha de Grunwald
Em 15 de julho de 1410 foi travada a batalha de Grunwald, na qual um exército formado por 45 mil homens, entre poloneses e lituanos comandados pelo rei Ladislau II Jagelão, enfrentaram, por seis horas, cerca de 21 mil cavaleiros teutônicos, liderados pelo grão-mestre Ulrich von Jungingen.[14] Para a batalha o exército teutônico teria contratado 800 mercenários, além de seu próprio contingente de cavaleiros.[15]
Uma das estratégias usadas pelo rei polonês foi adiar o momento da batalha, fazendo com que os cavaleiros teutônicos cansassem pela espera do exército polonês-lituano no local da batalha.[14] A estratégia definitiva se deu com uma manobra na qual os lituanos simularam um recuo levando os Cavaleiros Teutônicos a uma emboscada do exército polonês.[16]
Após seis horas de batalha, poloneses e lituanos cercaram os cavaleiros teutônicos. Com a morte do grão-mestre teutônico em batalha, os cavaleiros bateram em retirada para o castelo de Malbork, que à época era uma fortaleza impenetrável.[14]
Embora a batalha seja um marco na história no norte da Europa Central, a mesma não alterou muita coisa. O Reino da Polônia já estava em ascensão, a época das ordens de cavalaria já havia passado, entre outras mudanças que já estavam por vias de ocorrer. Contudo a batalha pode ser considerada como um marco para o declínio da Prússia medieval e, sobretudo, dos cavaleiros teutônicos.[17]
Guerra dos Treze Anos
A Guerra dos Treze Anos foi uma batalha entre a Polônia e os Cavaleiros Teutônicos que se iniciou a partir de uma revolta popular contra estes.[18]
A chamada Confederação Prussiana, em 1454, sabendo que não poderiam enfrentar em pé de igualdade os Cavaleiros Teutônicos, atacaram estes de forma antecipada e inesperada, pegando-os sem o devido preparo. Rapidamente territórios teutônicos como os castelos de Elbląg, Danzigue e Thorn caíram. Em questão de pouco tempo, todos as edificações teutônicas da região, com exceção dos castelos de Malbork e Konitz, estavam nas mãos dos inimigos.[19]
Em 1466, o papa Paulo II e a Liga Hanseática intermediaram as batalhas e, após um legado papal, o acordo foi alcançado e o documento da Paz de Toruń foi assinado, marcando o fim da guerra.[20]
O poder da ordem continuou a declinar até 1525, quando seu grão-mestre, Alberto de Brandemburgo, converteu-se ao luteranismo e assumiu o título e os direitos de duque hereditário da Prússia (embrião do Reino da Prússia, catalisador do futuro Império Alemão). O Grão-Magistério foi então transferido para Mergentheim, de onde os grão-mestres teutónicos continuavam a administrar as consideráveis posses da ordem no Sacro Império Romano-Germânico.
Em 1809, quando Napoleão Bonaparte determinou a sua extinção, a Ordem perdeu as suas últimas propriedades seculares, mas logrou sobreviver até o presente.
Ressurgimento em 1929
Em decreto papal datado de 21 de novembro de 1929, emitido pelo Papa Pio XI, a Ordem Teutónica foi retomada, contudo como uma ordem clerical composta por sacerdotes, padres e freiras. Com missões essencialmente assistenciais, a Ordem ressurge com as mesmas propostas de quando fora fundada em 1190, em Acre.[21]
Atualmente a Ordem tem sua sede em Viena, Áustria, e trabalha primordialmente com objetivos assistenciais fornecendo padres para comunidades germanófonas em países de língua não alemã.[21] Também mantém, desde 1999, um conservatório de música na cidade de Opava, República Tcheca,[22] uma escola de ensino médio em Olomouc, também na República Tcheca,[23] uma casa de repouso[24] e um hospital na cidade de Friesach,[25] e uma ordem de freiras na cidade de Passau na Alemanha.[26]
Cronologia
Uma breve cronologia das principais batalhas da Ordem Teutônicaː[27]
1190 - Fundação da Ordem como ordem de auxílio médico.
1198 - A Ordem Teutônica é instituída como ordem militar.
Inicialmente os Teutônicos seguiam a regra dos Hospitalários, que era influenciada pela regra de Santo Agostinho, aplicadas aos hospitais construídos na Terra Santa. Ao se converterem oficialmente em ordem militar, optaram por seguir a regra templária, fazendo, sob autorização da Santa Sé, algumas adaptações.[30]
Ao entrar na Ordem, um cavaleiro tinha de fazer votos de pobreza, castidade e obediência, bem como abrir mão de todos os seus bens e doá-los à Ordem para que se tornassem bens comuns,[31] além de saber rezar, em latim, o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo.[32] Embora a Ordem possuísse muitas propriedades, como conventos, hospitais e igrejas, o foco era sua utilização em defesa da Cristandade.[1]
Aos cavaleiros era permitido caçar somente em caso de necessidade, sendo vedada a caça esportiva, e tinham de evitar as mulheres (uma vez que faziam votos de castidade). As punições para quem quebrasse as regras da Ordem podiam ser leves (açoitamento e jejum forçado por dias), moderadas (aprisionamento por um ano a pão e água três vezes por semana), severas e muito severas (expulsão da Ordem ou morte). As muito severas eram aplicadas a quem se acovardasse ou passasse para o lado do inimigo e para quem praticasse sodomia.[33]
Os Cavaleiros Teutônicos também desenvolveram, por pouco tempo, sua própria literatura e música, na qual compunham poemas sobre as batalhas, encorajando os leitores e ouvintes a imitarem seus feitos. O Castelo de Marienburg, principal propriedade do Teutônicos, chegou a ter uma biblioteca com 41 livros em latim e 12 em germânico. Além dos poemas de cavalaria, como ordem religiosa que era, apreciavam ler a Bíblia, em especial os livros de Judite, Ester, Neemias, Macabeus, Juízes e Apocalipse, pois retratavam sua realidade de batalhas. As leituras se davam na hora do almoço por um padre da ordem, enquanto os demais comiam em silêncio ouvindo as narrativas.[34]
↑Barber, Malcolm; Mallia-Milanes, Victor; Nicholson, Helen J. (2008). The military orders: History and heritage. Hampshire: Ashgate Publishing, Ltd. p. 131. ISBN9780754662907