A etnia se autodenomina Ashenĩka, que significa "meus parentes", "minha gente", "meu povo". O termo também designa uma categoria de "espíritos bons que habitam no alto".[9]
História
Os campas eram conhecidos pelos incas como Anti ou Campa e viviam na província inca de Antisuyu ("Província do Leste", em quéchua). Eram notórios por sua feroz independência e suas habilidades bélicas em proteger com sucesso sua terra e cultura contra a invasão de forasteiros. Sua língua pertence ao tronco linguísticoaruaque. Agruparam-se no Peru, por volta do século XII. Com a chegada dos espanhóis ao Peru e consequentemente a queda do Império Inca, no século XVI, alguns dos indígenas de etnias aruaque que habitavam o império ou suas zonas de fronteira fugiram para o atual Acre, onde permanecem até hoje.[11]
Xamanismo
Entre os campas, tanto a bebida feita de ayuaska como o ritual são chamados kamarãpi ("vômito, vomitar"). A cerimônia é sempre realizada à noite e pode se prolongar até de madrugada. As reuniões são constituídas de grupos pequenos (cinco ou seis pessoas). O kamarãpi se caracteriza pelo respeito e silêncio, sendo a comunicação entre os participantes mínima, interrompida apenas por cantos inspirados pela bebida. Esses cantos sagrados do kamarãpi não são acompanhados por nenhum instrumento musical e permitem aos campas comunicarem-se com os espíritos, agradecerem e homenagearem Pawa, o sol, que, em sua mitologia, é o filho da Lua.
O kamarãpi é um legado de Pawa, que deixou a bebida para que os campas adquirissem o conhecimento e aprendessem como se deve viver na Terra. O conhecimento e o aprendizado xamânicos (sheripiari) se dão através do consumo regular e repetitivo da bebida, durante anos, sem nunca estar concluídos. A experiência confere respeito e credibilidade. É através do kamarãpi que o sheripiari realiza suas viagens nos outros mundos e adquire a sabedoria para curar os males e as doenças que afetam a comunidade.
A cura realizada através do kamarãpi é eficaz apenas para as doenças nativas causadas, geralmente, por meio da feitiçaria. Contra as "doenças de branco", os Ashaninka só podem lutar com o auxílio de remédios industrializados.[9]
Em um trabalho de campo realizado entre julho e setembro de 2007, numa comunidade campa de Baixo Quimiriqui, no Distrito de Pichanaqui, no Departamento de Junín, no Peru[12], foi identificada a utilização de 402 plantas medicinais, principalmente ervas das famíliasAsteraceae, Araceae, Rubiaceae, Euphorbiaceae, Solanaceae e Piperaceae. 84 por cento das plantas medicinais eram selvagens e 63 por cento foram coletadas da floresta. Espécimes exóticos representaram apenas 2 por cento dessas plantas. Problemas relacionados à pele, sistema digestivo e a categorias próprias de seu sistema de crenças culturais representaram 57 por cento de todas as aplicações medicinais.
Artesanato
Os campas se destacam na tecelagem, produzindo redes, roupas e bolsas,[11] além de cestaria, chapéus e outros adereços, instrumentos musicais e diversos objetos de madeira.[13][14]
Ashaninka. Artigo do antropólogo José Pimenta, do Depto. de Antropologia da UnB e pesquisador associado do Institut de recherche pour le développement (IRD), de Marselha, França