O valproato (VPA; nomes comerciais: Depakote, Depakene, entre outros) e suas formas ácido valproico, valproato de sódio e valproato semissódico são medicamentos usados principalmente para o tratamento de epilepsia e transtorno bipolar e para a prevenção de enxaquecas. Eles são úteis para a prevenção de convulsões em pessoas com crises de ausência, convulsões parciais e convulsões generalizadas. Esses medicamentos podem ser administrados por via intravenosa ou oral e, na forma de comprimidos, em formulações de ação curta ou prolongada.[1]
O mecanismo de ação preciso do valproato não é claro,[1][3] mas sugere-se que pode estar relacionado à modulação dos níveis de GABA, ao bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem e à inibição das histonas desacetilases.[4][5]
Uma revisão sistemática de 2016 comparou a eficácia do valproato como um complemento para o tratamento de pessoas com esquizofrenia. Neste estudo, constatou-se que há evidências limitadas de que a adição de valproato aos antipsicóticos pode ser eficaz para a resposta geral e também para sintomas específicos, especialmente em termos de excitação e agressão. O valproato foi associado a uma série de eventos adversos, entre os quais sedação e tontura apareceram com mais frequência do que nos grupos de controle.[17]
Síndrome de desregulação da dopamina
Com base em cinco estudos de caso, o ácido valproico pode ter eficácia no controle dos sintomas da síndrome de desregulação da dopamina que surgem do tratamento da doença de Parkinson com levodopa.[18][19][20]
Enxaqueca
O valproato também é usado para a prevenção de enxaquecas. Como este medicamento pode ser potencialmente prejudicial ao feto, seu uso deve ser considerado apenas após os riscos terem sido discutidos.[21]
Usos off-label
Em 2012, a empresa farmacêutica Abbott pagou 1,6 bilhão de dólares em multas aos governos federal e estadual dos Estados Unidos pela promoção ilegal de usos off-label de Depakote, incluindo para a sedação de residentes em lares de idosos.[22][23]
Alguns estudos sugerem que o valproato pode reabrir o período crítico de aprendizado do ouvido absoluto e possivelmente outras habilidades, como a linguagem.[24][25]
Tal como a fenitoína e a carbamazepina, o valproato bloqueia as descargas repetidas e prolongadas dos neurônios, que estão por trás de uma crise epilética. Estes efeitos devem-se, em doses terapêuticas, à diminuição da condutância dos canais de sódio voltagem-dependentes e à inibição da GABA transaminase, enzima que realiza a degradação do GABA, neurotransmissor inibitório.[27]
Com relação aos seus efeitos secundários, os agudos incluem náuseas, vómitos, dor abdominal, aumento de peso, dor na barriga e alopecia. O ácido valproico tem um alerta de caixa preta para hepatotoxicidade, pancreatite e anomalias fetais.[29] Tremor, parkinsonismo, e mioclonia estão entre as desordens do movimento mais comumente encontradas em usuários de VPA.[30]
O valproato é um agente teratogênico;[31] a exposição durante a gravidez está associada a cerca de três vezes mais anormalidades graves do que de costume, principalmente espinha bífida, com os riscos relacionados à concentração da medicação usada e ao uso de mais de um medicamento.[32][33] Mais raramente, pode também causar outros defeitos, incluindo a chamada "síndrome do valproato".[34] As características da síndrome de valproato incluem características faciais como trigonocefalia, testa alta com estreitamento bifrontal, pregas epicânticas, deficiência medial das sobrancelhas, ponte nasal plana, raiz nasal larga, narinas antevertidas, filtro raso, lábio superior longo com bordas vermelhas finas, lábio inferior grosso e boca pequena voltada para baixo.[35] Embora o atraso no desenvolvimento geralmente esteja associado a características físicas alteradas (características dismórficas), nem sempre esse é o caso.[36]
↑World Health Organization model list of essential medicines: 21st list 2019. Geneva: World Health Organization. 2019. WHO/MVP/EMP/IAU/2019.06. License: CC BY-NC-SA 3.0 IGO
↑ abRossi, S, ed. (2013). Australian Medicines Handbook 2013 ed. [S.l.]: The Australian Medicines Handbook Unit Trust. ISBN978-0-9805790-9-3
↑Löscher W (2002). «Basic pharmacology of valproate: a review after 35 years of clinical use for the treatment of epilepsy». CNS Drugs. 16: 669–694. PMID12269861. doi:10.2165/00023210-200216100-00003
↑Olsen KB, Taubøll E, Gjerstad L (2007). «Valproate is an effective, well-tolerated drug for treatment of status epilepticus/serial attacks in adults». Acta Neurol. Scand. Suppl. 187: 51–4. PMID17419829. doi:10.1111/j.1600-0404.2007.00847.x
↑Koch S, Göpfert-Geyer I, Jäger-Roman E, et al. (fevereiro de 1983). «[Anti-epileptic agents during pregnancy. A prospective study on the course of pregnancy, malformations and child development]». Dtsch. Med. Wochenschr. (em alemão). 108: 250–7. PMID6402356. doi:10.1055/s-2008-1069536