Setenés (em grego clássico: Séthenes), Senedje ou Senede foi um antigo faraó que pode ter governado na II dinastia. Sua posição histórica permanece incerta. Seu nome está incluído nas listas de reis do Período Raméssida. Não se sabe quanto tempo reinou o Egito. O Cânone de Turim dá a ele 70 anos,[1] enquanto o historiador Manetão afirma que governou por 41 anos.[2] Diante da incerteza quanto ao seu reinado, por vezes foi associado a ao menos um dos outros faraós conhecidos do período. Possivelmente pode ter vivido num momento no qual o Egito estava dividido em dois reinos, no Alto e Baixo Egito respectivamente, um fenômeno provavelmente iniciado sob Binótris.
Fontes do nome
A possivelmente única inscrição contemporânea conhecida de seu reinado foi encontrada em 1909 pelo egiptólogo Uvo Hölscher, que ajudou nas escavações no templo de Quéfren-Miquerino em Gizé. Hölscher encontrou um pequeno fragmento de diorito de paredes finas e polido, que pertenceu a uma tigela plana. Na linha do lado esquerdo, uma inscrição incisa dá a leitura: "O rei do Alto e Baixo Egito, Setenés". A inscrição vai da direita para a esquerda e excede o limite, mas o nome do rei permanece reconstitutível. O precioso artefato foi publicado em 1912.[3] Também foi examinado por George Andrew Reisner, que mencionou isso brevemente em seu livro Mycerinus, the Temples of the Third Pyramid at Giza.[4][5]
A próxima fonte referente a Setenés remonta ao início ou meados da IV dinastia. O nome, escrito num cartucho, aparece na inscrição numa porta falsa pertencente à mastaba do sumo sacerdote Xeri em Sacará. Xeri tinha o título de "superintendente de todos os sacerdotes uabe de Peribessene na necrópole de Setenés", "superintendente dos sacerdotes cá de Setenés" e "servo de Deus de Setenés". O nome é escrito em forma arcaica e colocado num cartucho, que é um anacronismo, uma vez que cartuchos não foram usados até o fim da III dinastia sob Huni.[6][7] O egiptólogo Dietrich Wildung aponta para mais dois sacerdotes e possíveis parentes de Xeri, que também participaram do culto funerário de Setenés, Inquefe e Si.[8]
Setenés também é mencionado no papiro P. Berlin 3038, que contém prescrições médicas e terapias para inúmeras doenças. Uma delas fornece instruções para o tratamento de cãibras nos pés e termina com a alegação de que a receita da pomada se origina de um "livro de vasos". Este livro é reivindicado como originário da época de Usafedo (associado a Hórus Dem da I dinastia). Setenés supostamente recebeu o livro como um presente de herança.[9] A última menção ao nome aparece numa pequena estatueta de bronze na forma de um faraó ajoelhado usando a coroa branca do Alto Egito e segurando queimadores de incenso nas mãos. Além disso, a estatueta usa um cinto com o nome de Setenés esculpido na parte de trás.[10][11]
O egiptólogo Peter Munro escreveu um relatório sobre a existência de uma inscrição num selo de argila mostrando o nome Nefer-senedje-Rá num cartucho, que considera uma versão de "Setenés".[12] Mas como a descoberta nunca foi fotografada nem desenhada e o objeto alegado foi perdido, a afirmação de Munro é altamente questionada por muitos estudiosos.[11]
Identidade
O nome de Hórus de Setenés permanece incerto. A inscrição da porta falsa de Xeri pode indicar que era idêntico a Peribessene e que o nome "Setenés" foi levado às listas reais, pois não foi permitido mencionar um nome de Sete.[13][14] Outros egiptólogos, como Wolfgang Helck e Dietrich Wildung, não têm tanta certeza e acreditam que Setenés e Peribessene eram faraós diferentes. Apontam que a inscrição da porta falsa tem os nomes de ambos estritamente separados um do outro. Além disso, Wildung acha que Setenés doou uma capela para Peribessene em sua necrópole.[15][16] Essa teoria, por sua vez, é questionada por Helck e Hermann A. Schlögl, que apontam para os selos de argila de Sequemibe encontrados na área de entrada da tumba de Peribessene, o que pode provar que Sequemibe enterrou Peribessene, não Setenés.[17]
Reinado
Egiptólogos como Wolfgang Helck, Nicolas Grimal, Hermann Alexander Schlögl e Francesco Tiradritti acreditam que Binótris, o terceiro governante da II dinastia, deixou um reino que sofria de uma administração estatal excessivamente complexa e que Binótris decidiu dividir o Egito para deixá-lo em paz com seus dois filhos (ou, pelo menos, dois sucessores escolhidos) governando dois reinos separados, na esperança de que a administração fosse melhor.[18][19] Por outro lado, egiptólogos como Barbara Bell acreditam que uma catástrofe econômica, como fome ou seca prolongada, afetou o Egito. Portanto, para resolver melhor o problema de alimentar a população, Binótris dividiu o reino em dois e seus sucessores fundaram dois reinos independentes até o fim da fome. Bell aponta para as inscrições da Pedra de Palermo, onde, na sua opinião, os registros das inundações anuais do Nilo mostram níveis constantemente baixos durante o período.[20][21]
A teoria de Bell é refutada hoje por egiptólogos como Stephan Seidlmayer, que corrigiram seus cálculos. Seidlmayer mostrou que as inundações anuais do Nilo estavam em níveis usuais do tempo de Binótris até o período do Reino Antigo(2686–2160 a.C.). Bell havia esquecido que as alturas das inundações do Nilo na inscrição na Pedra de Palermo só levam em conta as medições dos nilômetros em torno de Mênfis, mas não em outros lugares ao longo do rio. Qualquer seca prolongada pode, portanto, ser excluída.[22]
Também não está claro se Setenés já dividia seu trono com outro governante, ou se o Estado foi dividido no momento de sua morte. Todas as listas de reis conhecidas, como a Tabuleta de Sacará, o Cânone de Turim e a lista real de Abidos, listam Uadjenes como predecessor de Setenés. Após Setenés, as listas diferem entre si em relação aos sucessores. Enquanto Sacará e Turim mencionam Neferquerés I, Sesócris e Hudjefa I como sucessores imediatos, Abidos os ignora e lista Djadjai (idêntico ao rei Quenerés). Se o Egito já estava dividido quando Setenés assumiu o trono, Sequemibe e Peribessene governaram o Alto Egito, enquanto Setenés e seus sucessores Neferquerés e Hudjefa, governaram o Baixo Egito. A divisão do Egito foi encerrada por Quenerés.[17]
Túmulo
Não se sabe onde Setenés foi enterrado. Toby Wilkinson assume que poderia ter sido enterrado em Sacará. Para apoiar essa visão, observa que os sacerdotes mortuários em épocas anteriores nunca foram enterrados muito longe do faraó a quem praticaram o culto mortuário. Acha que uma das Grandes Galerias do Sul da necrópole de Djoser (III dinastia) era originalmente a tumba de Setenés.[23]
Beckerath, Jürgen von (1984). Handbuch der ägyptischen Königsnamen. Munique e Berlim: Editora de Arte Alemã [Deutscher Kunstverlag]
Bell, Barbara (1970). «Oldest Records of the Nile Floods». Geographical Journal (136): 569–573
Gardiner, Alan H. (1997). The royal canon of Turin. Oxônia: Instituto Griffith de Oxônia. ISBN0-900416-48-3
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Grimal, Nicolas (1994). A History of Ancient Egypt. Hoboken, Nova Jérsei: Wiley-Blackwell. ISBN978-0-631-19396-8
Helck, Wolfgang (1987). Untersuchungen zur Thinitenzeit. Viesbade: Otto Harrassowitz. ISBN3-447-02677-4
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Kaiser, Werner (1991). «Zur Nennung von Sened und Peribsen in Sakkara». Göttinger Miszellen (122)
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Mariette, Auguste (1885). Les Mastaba de L'Ancien Empire: Fragment du Dernier Ouvrage. Paris: Editora da Livraria
Munro, Peter (1988). «Nefer-Senedj-Ra». Orientalia. 57
Reisner, George Andrew (1931). Mycerinus, the Temples of the Third Pyramid at Giza. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Harvard
Schlögl, Hermann Alexander (2006). Das Alte Ägypten: Geschichte und Kultur von der Frühzeit bis zu Kleopatra. Hamburgo: Beck. ISBN3-406-54988-8
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Tiradritti, Francesco; Roveri, Anna Maria Donadoni (1998). Kemet: Alle Sorgenti Del Tempo. Milão: Electa. ISBN88-435-6042-5A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
Waddell, William Gillian (2004). Manetho (= The Loeb Classical Library, Vol. 350). Cambrígia: Imprensa da Universidade de Harvard. ISBN0-674-99385-3
Westendorf, Wolfhart (1992). Erwachen der Heilkunst: die Medizin im alten Ägypten. Dusseldórfia: Artemis & Winkler. ISBN3760810721
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