Esta série era composta por doze locomotivas de serviço de linha, a tracção diesel-eléctrica.[1][2][3] Foram baseadas no tipo RSC-2 da American Locomotive Company (ALCO).[4] Os motores a gasóleo foram fabricados pela ALCO, e os motores de tracção foram produzidos pela General Electric.[4][5] Circulavam sobre bitola ibérica, com uns rodados na disposição A1A - A1A.[6] Cada locomotiva podia atingir uma velocidade máxima de 120 Km/h.[1] Originalmente, dispunham de uma potência nominal de 1500 Cv,[5] tendo sido remotorizadas na década de 1970, de forma a atingirem os 1730 Cv, potência idêntica à das suas congéneres da Série 1520.[4] A remodelação nos anos 70 também incluiu a remoção de uma caldeira vertical para aquecimento do comboio.[4]
Originalmente integradas na Série DE101-106, foram classificadas na Série 1500 (1501-1512) em 1952.[2]
História
Antecedentes e fabrico
Após o final da Segunda Guerra Mundial, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses teve grandes dificuldades em abastecer a sua frota de locomotivas a vapor, devido à grande escassez de carvão que se fez sentir naquela altura, pelo que começou a ponderar a aquisição de material circulante que utilizasse meios de locomoção alternativos.[6] Por outro lado, verificou-se necessário modernizar o parque de material, de forma a aumentar as possibilidades de exploração, e melhorar os serviços, garantindo desta forma uma melhor capacidade de resposta à ameaça do transporte rodoviário, que, nos últimos anos, tinha-se desenvolvido consideravelmente no país.[7] Para fazer face a estes problemas, o governo português lançou o Plano de Reequipamento, no sentido de adquirir material circulante, especialmente locomotivas que utilizassem fontes alternativas de combustível, com destaque para o gasóleo.[6] Este programa utilizava parte dos fundos destinados a Portugal, no âmbito do Plano Marshall.[6] Uma vez que a indústria europeia não tinha capacidade para o fabrico de locomotivas a gasóleo,[6] foram encomendadas doze locomotivas de linha à empresa American Locomotive Company,[6] iguais às que já circulavam em território americano.[8] Metade da encomenda foi feita pelo governo, estando por isso destinadas à antiga rede estatal do Sul e Sueste e do Minho e Douro.[5] Cada locomotiva custou cerca de quatro milhões de escudos, aos preços da época.[8]
Carreira ao serviço dos Caminhos de Ferro Portugueses
Em 16 de Setembro de 1948, já tinham chegado as primeiras quatro locomotivas, transportadas pelo cargueiro Mossâmedes.[5] Alguns dias antes, outras quatro locomotivas tinham embarcado em Filadélfia no navio Amarante, e previa-se o embarque das restantes locomotivas no dia 25, para o navio São Tomé,[5] que já tinha chegado no dia 16 de Outubro.[8] A primeira locomotiva a chegar foi a n.º 104.[8] Após o desembarque, no Entreposto de Santa Apolónia, o engenheiro Roberto de Espregueira Mendes explicou aos jornalistas no local as características das novas locomotivas.[8]
Foram as primeiras locomotivas diesel - eléctricas de via larga na Península Ibérica,[8] e as segundas deste tipo em Portugal, após a Lydia, uma locomotiva experimental da Companhia Nacional de Caminhos de Ferro que operou na Linha do Tua, de via estreita.[9] Uma vez que foram as primeiras locomotivas deste tipo no país, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses enviou uma comissão aos Estados Unidos, para supervisionar o fabrico, receber cursos de especialização e visitar as oficinas, com o fim de estabelecer um serviço dedicado ao material a gasóleo em Portugal.[5] Esta comissão era formada pelos engenheiros João Monteiro e António Fragoso, os contramestes Castanheira Barreiros e Carvalho Araújo, e o inspector Mendes da Silva, e permaneceu em território americano durante cerca de quatro meses.[5] Após a sua montagem, previa-se que fossem submetidas a várias experiências, e empregues em comboios de mercadorias para a instrução do pessoal, e só em finais de Outubro é que deveriam começar a rebocar comboios de passageiros, nas linhas principais.[5]
Assim, a CP começou a fazer as experiências na Linha do Norte, com viagens de Lisboa ao Entroncamento e ao Porto, tendo a locomotiva 101 rebocado, durante a primeira viagem experimental, um comboio de mercadorias com 600 T.[8] Na segunda viagem, realizada no dia 4 de Outubro, a mesma locomotiva traccionou uma composição de oito carruagens de fabrico suíço e americano, com peso total de 245 T, com vários convidados a bordo, incluindo o director geral da CP, Roberto de Espregueira Mendes, o chefe do serviço de turismo e publicidade, António Montês, o representante da American Locomotive Company, Santos Mendonça, e o representante da General Electric, Pablus Raimundus.[8] O condutor da locomotiva foi o chefe do Serviço de Material e Tracção, Vasco Viana.[8] O comboio saiu de Entrecampos às 8 horas e 40 minutos, tendo demorado uma hora e dez minutos até ao Entroncamento, uma hora e 29 minutos até Coimbra, três horas e nove minutos até Aveiro, e três horas e 56 minutos até Vila Nova de Gaia, um tempo considerado recorde.[8] A primeira paragem foi feita em Alfarelos, tendo deixado pela primeira vez de ser necessário o abastecimento de água em Albergaria dos Doze, como era acontecia com as locomotivas a vapor que faziam aquele percurso.[8] Embora não fossem mais céleres do que as locomotivas a vapor que iriam substituir, permitiam uma travagem e aceleração mais rápidas, o que reduziu substancialmente o tempo de viagem.[8]
Quando entraram oficialmente ao serviço, tomaram os comboios de passageiros mais importantes na Linha do Norte,[4] substituindo as locomotivas da Série 501 a 508, e devido à sua operacionalidade e potência, as locomotivas da Série DE101-106 também foram recrutadas para o transporte de mercadorias nesta Linha.[10] Com a sua entrada em serviço, deixou de ser necessário o reforço de tracção na rampa de Albergaria.[4] No entanto, não podiam atravessar o Túnel do Rossio, pelo que só circulavam até ao Rego, sendo o resto do percurso até à Estação do Rossio assegurado pelas locomotivas a vapor da Série 500.[10] Devido ao seu elevado peso por eixo, também não podiam utilizar a Ponte D. Maria Pia,[3][4] nem circular na Linha da Beira Baixa.[9] Em 1951, entraram ao serviço as locomotivas da Série 1520, para reforçarem a Série 1500.[4]
Como estava originalmente previsto, foram relegadas, com a electrificação da Linha do Norte,[5] para as Linhas do Sul e do Oeste.[2] Esta série também prestou serviços na Linha da Beira Alta, tendo sido necessária a substituição de algumas pontes nesta linha para permitir a sua circulação.[4] Com a introdução da Série 1400,[4] toda a série foi gradualmente transferida para a região Sul, ficando afecta às Oficinas do Barreiro, tendo passado a assegurar todos os tipos de serviços, como comboios rápidos de passageiros, tranvias, e comboios pesados de minério.[2][4] Por exemplo, rebocaram, junto com as locomotivas da Série 1520, os serviços de transporte de gasóleo de Sines para a Central Termoeléctrica de Tunes, na década de 1980.[11] As locomotivas desta série também fizeram, em substituição da Série 1300, a tracção do comboio Especial de Fim-de-semana, que ligava Lagos ao Barreiro, mas devido às restrições de peso da Ponte Ferroviária de Portimão, só asseguravam a ligação entre Tunes e o Barreiro, sendo o resto da viagem feito pelas locomotivas da Série 1200.[11] Os últimos serviços a serem rebocados de forma titular pelas séries 1500 e 1520 foram os comboios de passageiros nocturnos entre Vila Real de Santo António e o Barreiro.[11] Estas locomotivas eram consideradas mais cómodas pelos serviços de passageiros, especialmente devido à menor emissão de fumos.[5]
Transição para outras empresas ferroviárias
Em finais de 2000, apenas se encontravam ao serviço as locomotivas com as numerações 1501, 1505, 1510, tendo a 1502 sido vendida à empresa Ferrovias, a 1507 à FERGRUPO, e a 1511 à SOMAFEL.[12] As unidades restantes foram abatidas ao serviço e parqueadas junto às instalações do Grupo Oficinal do Barreiro, para fornecer peças às suas congéneres ainda em circulação.[12] As unidades 1501 e 1510 estavam disponíveis para rebocar composições especiais, Regionais e InterRegionais, no caso das locomotivas das séries 1400 e 1930 não se encontrarem disponíveis.[12] As últimas locomotivas foram abatidas ao serviço dos Caminhos de Ferro Portugueses nos inícios de 2002,[2] tendo a número 1501 sido decorada no Barreiro com o seu esquema de pintura original, e exposta no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento.[6]
↑ abOJANGUREN, Arturo (Dezembro de 1979). «Portugal se Esfuerza en la Modernizacion de sus Ferrocarriles». Via Libre (em espanhol). Ano 16 (191). Madrid: Red Nacional de Ferrocarriles Españoles. p. 15-18
↑ abcdefghij«Novo material para a C. P.»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 60 (1458). Lisboa. 16 de Setembro de 1948. p. 506. Consultado em 17 de Dezembro de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
↑ abcdefghijklERUSTE, Manuel Galán (1998). «Exposición ferroviaria: 50 Años de la Traccion Diesel en Portugal». Maquetren (em espanhol). Ano 6 (71). Madrid: Revistas Profesionales. p. 18-20
↑GALO, Jaime Jacinto (1 de Janeiro de 1949). «Balanço Ferroviário de 1948»(PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 60 (1465). Lisboa. p. 6-8. Consultado em 18 de Dezembro de 2014 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa
↑ abSILVA, José Eduardo Neto da (2005). «As locomotivas "Pacific" da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses». O Foguete. Ano 4 (13). Entroncamento: Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário. p. 44-45. ISSN1647-7073
↑ abcDUARTE, Vasco (2005). «O Ramal Ferroviário do Barlavento Algarvio». O Foguete. Ano 4 (13). Entroncamento: Associação de Amigos do Museu Nacional Ferroviário. p. 53-54. ISSN1647-7073
↑ abcdefghijklCONCEIÇÃO, Marcos A. (2001). «Caminhos de Ferro Portugueses: Cambios en la Tracción». Maquetren (em espanhol). 10 (100). Madrid: Revistas Profesionales. p. 74-76
MARTINS, João Paulo, BRION, Madalena, SOUSA, Miguel de, LEVY, Maurício, AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN989-619-078-X !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
Rede IP (Notas: A itálico, séries com uso partilhado entre a C.P. e outras empresas, simult. ou não; a itálico sublinhado, séries usadas exclusivamente por outra empresa.)