Roberto de Oliveira Campos Neto (Rio de Janeiro, 28 de junho de 1969) é um economista brasileiro. Foi presidente do Banco Central do Brasil indicado pelo governo de Jair Bolsonaro de 2019 a 2024.[3]
Formado em economia pela Universidade da Califórnia (UCLA), trabalhou no mercado financeiro entre 1996 e 2019. É neto do economista Roberto Campos.
Biografia
Roberto Campos Neto é filho de Roberto de Oliveira Campos Filho e neto do economista Roberto Campos, que comandou o Ministério do Planejamento no governo Castelo Branco (1964–1967) e foi um dos idealizadores do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.[4][5][6]
Graduou-se em economia pela Universidade da Califórnia (UCLA) em 1993 e concluiu especialização em finanças pela mesma universidade em 1995.[7][6]
Trabalhou, entre 1996 e 1999, no Banco Bozano Simonsen, nos cargos de operador de derivativos de juros e câmbio, operador de dívida externa, operador da área de bolsa de valores e também como executivo da área de renda fixa internacional. Após a compra do Banco Bozano pelo Banco Santander, Campos Neto trabalhou ali de 2000 a 2003 como chefe da área de renda fixa internacional. No ano de 2004, ocupou a posição de gerente de carteiras na claritas investimentos. Em 2005, retornou ao Santander como operador e, no ano seguinte, tornou-se chefe do setor de trading. Em 2010, passou a ser responsável pela área de tesouraria e formador de mercado regional e internacional,[5] função que exerceu até 2019, quando assumiu a presidência do Banco Central do Brasil.[6]
Presidência do Banco Central
Em 15 de novembro de 2018, foi anunciado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, como o próximo presidente do Banco Central do Brasil, substituindo Ilan Goldfajn.[8] Seu nome foi submetido a aprovação no Senado Federal,[9] contando com 55 votos favoráveis e 6 contrários.[10]
Antes de assumir a presidência do BC, Roberto Campos Neto defendeu a autonomia do BC e a modernização do mercado bancário, visando aumentar a concorrência entre os poucos bancos que compõe o setor financeiro do país. Quando questionado sobre o fato de o lucro dos bancos terem-se mantido elevados, mesmo durante a crise econômica de 2014 no país, Campos Neto defendeu que não se pode observar apenas esse fator:[11]
É preciso ver qual é o lucro em relação ao capital empregado. O retorno dos bancos já foi bem maior, de 19%, 20%, e caiu para 12%. Bancos rendiam a mesma coisa que títulos do governo. Agora a rentabilidade voltou para algo como 15%. Apesar de o lucro ser crescente, a rentabilidade baixou muito.
— Roberto Campos Neto, durante sua sabatina no Senado
Em 28 de fevereiro de 2019, Roberto Campos Neto toma posse como Presidente do Banco Central após indicação do presidente Jair Bolsonaro.[12] Durante seu mandato, ocorreu o lançamento do Pix em 20 de novembro de 2020,[13] aderido por estimados cem milhões de brasileiros ao fim de 2022.[14] O Banco Central havia iniciado o processo de criação da plataforma em 2018, quando o órgão era chefiado pelo economista Ilan Goldfajn, durante o governo do ex-presidente Michel Temer.[15]
Citação no Pandora Papers
No dia 3 de outubro de 2021, Campos Neto foi citado na investigação Pandora Papers, realizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, por ter participação em offshores localizadas em paraísos fiscais.[16] Segundo documentos da investigação, Campos Neto possuía uma offshore no Panamá, fechada no segundo semestre de 2020.[17] O então ministro da Economia, Paulo Guedes, também foi citado na investigação.[16] Embora manter essas empresas não seja uma atividade ilegal, especialistas em direito tributário levantaram a possibilidade de haver conflito de interesses por decisões tomadas por ambos no Conselho Monetário Nacional.[18] Em nota divulgada à época, Campos Neto afirmou ter declarado a totalidade desse patrimônio, pagado “toda a tributação devida” e cumprido “todas as regras legais e comandos éticos aplicáveis aos agentes públicos”.[19]
O caso teve repercussão nacional e deixou agentes do mercado financeiro em alerta.[18][20] Parlamentares da oposição ao governo de Jair Bolsonaro entraram com ação no Ministério Público Federal solicitando a abertura de investigação e protocolaram pedidos de convocação a Campos Neto e Guedes para que prestem esclarecimentos no Congresso Nacional.[21][22]
Em 4 de outubro de 2021, a Comissão de Ética Pública confirmou que recebeu de Campos Neto a declaração relativa às empresas no exterior.[23] Em 4 de outubro de 2021, a Procuradoria-Geral da República abriu uma investigação para apurar irregularidades no caso, terminando por arquivar o caso em 1º de dezembro de 2021 por ter concluído que a existência das empresas tinha sido informada e que não haviam sido encontrados indícios de conflito de interesse em sua conduta.[24][25][26]
Erro na compilação dos dados do fluxo cambial entre 2021 e 2022
Em 27 de janeiro de 2023, o Banco Central anunciou uma revisão extraordinária do mercado de câmbio contratado de outubro de 2021 até dezembro de 2022. Com a revisão, o dado em 2022 passou do ingresso de cerca de US$ 9 bilhões de dólares para a saída de mais de US$ 3 bilhões. O BC atribuiu o erro a uma falha na compilação das estatísticas.[27] O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, pediu desculpas pela falha.[28]
No dia 31 de janeiro de 2023, o Ministério Público pediu que o Tribunal de Contas da União (TCU) apurasse o erro. Na representação, o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado afirmou que, apesar de minimizado pelo Banco Central, "o erro em questão foi bilionário, ocorrido em meio a uma acirrada disputa eleitoral e adiciona incertezas e desconfianças ao mercado brasileiro, que já passa por um momento difícil".[29] Antes do pedido do Ministério Público que atua junto ao órgão, os auditores do TCU já analisavam o erro.[30]
No dia 14 de março de 2023, o Senado Federal aprovou um requerimento do senador Alessandro Vieira para convidar Campos Neto a explicar aos parlamentares o erro cometido.[27] No requerimento, o senador afirmou que "não apenas a magnitude expressiva do erro chama a atenção, mas também a duração da falha na compilação de dados, que persistiu, sem ser detectada, de outubro de 2021 a dezembro de 2022".[31] No dia 25 de abril de 2023, Campos Neto compareceu ao Senado Federal, ocasião em que afirmou que se tratou de um erro em um código e declarou que a autoridade monetária adotou medidas para evitar que o erro seja feito novamente, com novas rotinas de revisões e etapas adicionais de checagem.[32]
Em 24 de maio de 2023, o TCU arquivou o processo.[33]
Resumo de sua carreira
Fonte:[34]
Referências
- ↑ «Boletim do Exército do Brasil de julho de 2020». Secretaria Geral do Exército do Brasil (pdf). Consultado em 10 de setembro de 2020
- ↑ «DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO - Seção 1 | Nº 197, quarta-feira, 14 de outubro de 2020». Imprensa Nacional. 14 de outubro de 2020. p. 9. Consultado em 10 de fevereiro de 2024
- ↑ «Paulo Guedes confirma Campos Neto como chefe do BC e Mansueto no Tesouro». economia.uol.com.br. Consultado em 11 de janeiro de 2019
- ↑ «Campos Neto participa na Câmara de homenagem ao avô e economista Roberto de Oliveira Campos». Uol. 2 de agosto de 2023. Consultado em 1 de maio de 2024
- ↑ a b Goeking, Weruska. «Quem é Roberto Campos Neto, indicado para a presidência do Banco Central». www.infomoney.com.br. Consultado em 16 de novembro de 2018
- ↑ a b c «Roberto Campos Neto: de trader a presidente do Banco Central». InfoMoney. Consultado em 28 de março de 2023
- ↑ «Roberto Campos Neto substituirá Ilan Goldfajn na presidência do BC | EXAME». exame.abril.com.br. Consultado em 16 de novembro de 2018
- ↑ «Roberto Campos Neto é indicado para comandar o BC no governo Bolsonaro». G1
- ↑ «Comissão do Senado aprova indicação de Roberto Campos Neto para presidente do BC». G1. 26 de fevereiro de 2019. Consultado em 26 de fevereiro de 2019
- ↑ Carvalho e Carneiro, Daniel e Mariana (26 de fevereiro de 2019). «Senado aprova Roberto Campos Neto como novo presidente do BC». Folha de S.Paulo. Consultado em 26 de fevereiro de 2019
- ↑ Braziliense, Correio; Braziliense, Correio (27 de fevereiro de 2019). «Futuro presidente do BC, Roberto Campos Neto defende mais concorrência». Correio Braziliense. Consultado em 27 de janeiro de 2020
- ↑ «Campos Neto toma posse como presidente do Banco Central». Agência Brasil. 28 de fevereiro de 2019. Consultado em 4 de setembro de 2022
- ↑ «Meios de pagamentos e a revolução do PIX - Evento ONLINE e GRATUITO». www.sympla.com.br. Consultado em 4 de setembro de 2022
- ↑ «Pix alcança 100 milhões de usuários, 61% dos usuários de banco do Brasil». Poder360. Consultado em 4 de setembro de 2022
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- ↑ a b Barros, Marina Barbosa, Rafaella (3 de outubro de 2021). «Offshores de Guedes e Campos Neto deixam mercado em alerta». Poder360. Consultado em 11 de julho de 2023
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- ↑ Rodrigues, Douglas (4 de janeiro de 2022). «Citado nos Pandora Papers, Guedes foi poupado pelo Congresso». Poder360. Consultado em 11 de julho de 2023
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- ↑ Reuters (4 de outubro de 2021). «PGR abrirá apuração preliminar sobre Guedes e Campos Neto por citação em Pandora Papers». InfoMoney. Consultado em 10 de julho de 2023
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- ↑ Ferrari, Hamilton (25 de abril de 2023). «Equívoco no fluxo cambial foi "erro" em código, diz Campos Neto». Poder360. Consultado em 11 de julho de 2023
- ↑ «Oito meses: documentos do Banco Central mostram que erro no fluxo cambial já estava identificado durante período eleitoral mas seguiu debaixo do tapete – Sportlight». 7 de março de 2023. Consultado em 11 de julho de 2023
- ↑ Comércio, Jornal do. «Roberto Campos Neto será presidente do BC no governo Bolsonaro». Jornal do Comércio
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