Jô Soares surgiu como um dos grandes nomes da televisão após criar o humorístico Família Trapo, na RecordTV, onde também atuou como o personagem Gordon. Continuando na seara do humor, foi o responsável por sucessos como Satiricom, Planeta dos Homens e Viva o Gordo na TV Globo.
Ao se transferir para o SBT, obtém notoriedade no comando do talk-showJô Soares Onze e Meia entre os anos de 1988 e 1999, solidificando-se como entrevistador e precursor do formato no Brasil. Volta para a TV Globo, comandando o Programa do Jô entre 2000 e 2016, ano em que se aposenta da televisão.[1] Falecido em 5 de agosto de 2022, sua morte repercutiu tanto na sociedade brasileira[2][3][4] quanto na imprensa internacional.[5]
Jô queria ser diplomata quando criança.[10] Estudou no Colégio de São Bento do Rio de Janeiro, no Colégio São José de Petrópolis, e em Lausana, na Suíça, no Lycée Jaccard, com este objetivo.[11] Durante a estadia na Suíça ganhou o apelido de "Joe", redutivo da versão inglesa de seu nome, Joseph, bem como referência à popular canção "Hey Joe!", de Frankie Laine. Mais tarde se reduziria a Jô.[12] Porém, percebeu que o seu senso de humor apurado e a criatividade inata apontava a outra direção.[11]
Carreira
Detentor de um talento versátil, além de atuar, dirigir, escrever roteiros, livros e peças de teatro, Jô Soares também foi um apreciador de jazz e chegou a apresentar um programa de rádio na extinta Jornal do Brasil AM, no Rio de Janeiro, além de uma experiência na também extinta Antena 1 Rio de Janeiro.
1956 — Estreia na televisão no elenco da Praça da Alegria, na época na RecordTV, onde ficou por 10 anos.
1959 - Estreia no cinema com o filme 'O Homem do Sputnik, de Carlos Manga, ao lado do humorista Oscarito, além de Cyl Farney, Norma Bengell e Zezé Macedo.
1965 — Protagoniza as duas únicas novelas de sua carreira: as comédias pastelão Ceará contra 007 e Mãos ao Ar, na Record. Ceará contra 007 foi uma das maiores audiências naquele ano no Brasil.
1967 — Em "Família Trapo", roteirizava ao lado de Carlos Alberto de Nóbrega e atuava como Gordon, o mordomo atrapalhado e descompensado. Último trabalho na Record.
1971 — "Faça Humor, Não Faça Guerra" foi primeiro humorístico da TV Globo a contar a com a participação do comediante. O programa em meio à Guerra Fria e ao conflito do Vietnã brincava com o slogan pacifista hippie "Make love, don't make war" (Faça amor, não faça a guerra).
1973 — "Satiricom", novo humorístico da TV Globo, com direção de Augusto César Vanucci, realizava roteiros com Max Nunes e Haroldo Barbosa. A atração satirizava o título do filme homônimo de Federico Fellini - "Satyricon". Na promoção do programa, todavia, diziam que era a "sátira da comunicação" num mundo que se tinha tornado uma "Aldeia Global", expressão que esteve na moda depois dos primeiros anos da TV via satélite.
1981 — "Viva o Gordo", com direção de Walter Lacet e Francisco Milani, foi o seu primeiro programa solo. Havia roteiros de Armando Costa. Deu origem ao espetáculo do gênero One Man Show de Jô chamado "Viva o Gordo, Abaixo o Regime" (sátira explícita ao Golpe Militar de 1964 ainda vigente àquela época). As aberturas do programa brincavam com efeitos especiais, usando-se técnica de inserção de imagens de Jô entre cenas famosas do cinema (como em "Cliente Morto Não Paga" e "Zelig") ou "contracenando" com políticos nacionais e internacionais, como Orestes Quercia, Jânio Quadros, Ronald Reagan etc.
1988 — "Veja o Gordo" estreou no SBT com o mesmo estilo do "Viva o Gordo" da Rede Globo. Estreou também nesse ano, ainda no SBT, o talk show "Jô Soares Onze e Meia" (1988–1999).
2000 — Trazido de volta à Rede Globo, onde apresentou o Programa do Jô até 2016, e fez participação no especial de Natal do programa Sai de Baixo — episódio "No Natal a Gente Vem Te Mudar" (sátira ao título da peça de Naum Alves de Souza, "No Natal a Gente Vem Te Buscar") como Papai Noel.
Entre 1959 e 1979, foi casado com a atriz Therezinha Millet Austregésilo, com quem teve um filho, Rafael Soares (1964–2014), que tinha transtorno do espectro autista (TEA).[14] Entre 1980 a 1983, foi casado com atriz Sílvia Bandeira, doze anos mais nova. Em 1984, começou a namorar a atriz Claudia Raia, num romance que durou até 1986.[15] Namorou a atriz Mika Lins e, em 1987, casou-se com a designer gráfica Flávia Junqueira Pedras, de quem se separou em 1998. Era sobrinho de Togo Renan Soares, conhecido como "Kanela", ex-treinador da Seleção Brasileira de Basquetebol. Em outubro de 2007, durante uma entrevista com Maria Rita, o apresentador admitiu sofrer de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC); em sua casa, os quadros precisam estar tombados levemente para a direita.[16] No dia 1 de outubro de 2012, levou ao ar um programa especial que reprisou uma entrevista com Lolita Rodrigues e Nair Bello em homenagem à apresentadora Hebe Camargo, com quem declarou ter vivido intensas alegrias.[17]
Em 31 de outubro de 2014, morreu seu único filho, Rafael Soares, no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio de Janeiro.[22] No dia 3 de novembro, Jô dedicou-lhe o programa, em que fez um discurso contando um pouco da história dele.[23] Em 4 de agosto de 2016, foi eleito para a Academia Paulista de Letras, assumindo a cadeira 33, que pertenceu ao escritor Francisco Marins.[24]
Jô Soares era torcedor do Fluminense e foi homenageado pelo clube quando veio a falecer.[25]
Morte
Jô Soares morreu no dia 5 de agosto de 2022, aos 84 anos, no Hospital Sírio-Libanês, na cidade de São Paulo, onde estava internado desde o dia 28 de julho para tratar uma pneumonia. A notícia de sua morte foi divulgada pela ex-esposa, Flavia Pedras, em uma publicação em sua página pessoal no Instagram, também confirmada pela assessoria de imprensa do apresentador.[26][27][28] O hospital não informou qual foi a causa da morte, atendendo a um pedido do próprio ator à família.[29] Anne Porlan, amiga pessoal de Jô, afirmou que ele faleceu de causas naturais.[30] Em 22 de dezembro de 2022, foi divulgado que o apresentador falecera de insuficiência renal e cardíaca, estenose aórtica, e fibrilação auricular.[31][32]
Sua morte teve grande comoção e repercussão no Brasil e no mundo. Várias pessoas famosas e autoridades prestaram-lhe homenagens.[33] As emissoras de televisão como a TV Globo, SBT, TV Cultura, Rede Bandeirantes e Viva alteraram suas respectivas grades de programação previstas para os dias 5 e 6 de agosto, reexibindo alguns dos trabalhos e entrevistas onde o humorista participou.[34][35]
A herança de Jô Soares foi dividida entre seis pessoas: sua ex-mulher, uma amiga e quatro funcionários. Flávia, que foi sua mulher entre 1987 e 1998, ficou com 80% da fortuna. A amiga de Jô Soares, Claudia Colossi, herdou 10% dos bens. Quatro funcionários que trabalhavam na residência do apresentador dividiram os 10% restantes. O patrimônio do apresentador foi estimado em aproximadamente R$ 50 milhões.[36][37]
O apresentador foi cremado e teve parte de suas cinzas transformadas em biodiamante por Flávia Pedras.[38]
Em 2024, o Globoplay produziu uma minissérie documental sobre a vida e carreira de Jô, Um Beijo do Gordo.[39]