Conferência de Bandungue


Conferência Asiático-Africana
Conferência de Bandungue
Conferência de Bandungue
Sessão de plenário durante a Conferência de Bandungue

Localização de Bandungue
Anfitrião Indonésia
Sede Bandungue
Data 18 a 24 de abril de 1955
Coordenador Ruslan Abdulgani
Presidente da Cúpula Sukarno

A primeira Conferência Asiático-Africana ou Afro-Asiática de grande escala (em indonésio: Konferensi Asia–Afrika), também conhecida como Conferência de Bandungue[1], foi uma reunião entre vinte e nove países asiáticos e africanos, a maioria dos quais eram recém-independentes, que ocorreu de 18 a 24 de abril de 1955 em Bandungue, Java Ocidental, Indonésia[2]. Os países que participaram representavam uma população total de 1,5 bilhão de pessoas, 54% da população mundial à época. A conferência foi organizada por Indonésia, Birmânia (Myanmar), Índia, Ceilão (Sri Lanka) e Paquistão e foi coordenada por Ruslan Abdulgani, secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores da República da Indonésia.

Os objetivos declarados da conferência eram promover a cooperação econômica e cultural afro-asiática e se opor ao colonialismo ou neocolonialismo impostos por qualquer nação, com o objetivo de mapear o futuro de uma nova força política global (Terceiro Mundo)[3][nota 1]. A conferência foi um passo em direção à eventual criação do Movimento dos Não Alinhados (MNA), mas as duas iniciativas decorreram em paralelo durante a década de 1960, chegando mesmo a confrontar-se uma com a outra antes da 2ª Conferência do MNA no Cairo em 1964[4].

Em 2005, no 50º aniversário da conferência original, líderes de países asiáticos e africanos se encontraram em Jacarta e Bandungue para lançar a Nova Parceria Estratégica Ásia-África (NAASP). Eles se comprometeram a promover a cooperação política, econômica e cultural entre os dois continentes[5].

Participantes

Países participantes

29 países participaram na Conferencia de Bandungue: 15 da Ásia (Afeganistão, Birmânia, Camboja, Ceilão, República Popular da China, Filipinas, Índia, Indonésia, Japão, Laos, Nepal, Paquistão, República Democrática do Vietnã, Vietnã do Sul, e Tailândia); 8 do Oriente Médio (Arábia Saudita, Iêmen, Irã, Iraque, Jordânia, Líbano, Síria, e Turquia); e apenas 6 da África (Costa do Ouro (atual Gana), Etiópia, Egito, Líbia, Libéria e Sudão) - o que reflete o fato de que grande parte desse continente ainda era colônia da Europa, embora tenha havido a presença de uma delegação da FLN argelina, assim como do Destur tunisiano. No total, os países participantes representavam uma população de 1,350 bilhões de habitantes. O Japão foi o único país industrializado a participar da conferência.

Discussões

Apesar da condição econômica, os participantes tinham pouco em comum. Houve um debate acirrado sobre se a política soviética no Leste Europeu e na Ásia Central deveria ou não ser equiparada ao colonialismo ocidental.[3]

Gedung Merdeka: o prédio da 1ª conferência em 1955

O encontro propôs a criação de um "tribunal da descolonização" para julgar os responsáveis pela prática de políticas imperialistas, entendidas como crimes contra a humanidade, mas a ideia foi vetada pelos países centrais. Bandungue deu origem a uma política de não alinhamento - uma postura diplomática e geopolítica de equidistância das Grandes Potências -, através da qual dezenas de nações tentariam não ser transformadas em joguetes dos titãs da Guerra Fria. A reunião conferiu estatura internacional a alguns chefes de Estado: o presidente Sukarno, da Indonésia; Chu En-Lai, o primeiro-ministro da China; e o presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser.

O "não alinhamento" não foi possível no contexto da Guerra Fria, onde URSS e EUA competiam por áreas de influência. No lugar do conflito leste-oeste, Bandungue criava o conceito de Conflito norte-sul, expressão de um mundo dividido entre países ricos e industrializados e países pobres exportadores de produtos primários.[3][nota 2]

Os dez princípios da Conferência de Bandungue

A única realização concreta dos delegados à conferência foi uma declaração de dez pontos sobre "a promoção da paz e cooperação mundiais", baseada na Carta das Nações Unidas e nos princípios morais do premiê indiano Jawaharlal Nehru, um dos estadistas mais antigos presentes ao encontro:[3]

  1. Respeito aos direitos fundamentais;
  2. Respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações;
  3. Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas;
  4. Não intervenção e não ingerência nos assuntos internos de outro país - (Autodeterminação dos povos);
  5. Respeito pelo direito de cada nação defender-se, individual e coletivamente;
  6. Recusa na participação dos preparativos da defesa coletiva destinada para servir aos interesses particulares das superpotências;
  7. Abstenção de todo ato ou ameaça de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade territorial ou a independência política de outro país;
  8. Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos (negociações e conciliações, arbitradas por tribunais internacionais);
  9. Estímulo aos interesses mútuos de cooperação;
  10. Respeito pela justiça e obrigações internacionais.

Galeria de fotos

Gedung Merdeka em 2007, hoje um museu
Salão de Conferências do Gedung Merdeka (1955)
Presidente Sokarno no Gedung Merdeka (Bandungue)

Ver também

Notas

  1. De acordo com recente teoria geopolítica, apresentada em 1952 pelo sociólogo francês Alfred Sauvy, o planeta se dividia em "três mundos": o primeiro era o das democracias capitalistas industrializadas; o segundo, o do bloco soviético; e, o terceiro, o dos países pós-coloniais.
  2. Como nesse último grupo - dos jovens países pós-coloniais - a população não-branca era predominante, o presidente Sukarno, da Indonésia, chamou o evento de "a primeira conferência intercontinental de pessoas de cor na história da humanidade".

Referências

  1. Luís Filipe de Oliveira e Castro, Anticolonialismo e descolonização: ensaios, p. 46, 1963, Agência-Geral do Ultramar
  2. «Final Communiqué of the Asian-African conference of Bandung (24 April 1955)» (PDF). Centre Virtuel de la Connaissance sur l'Europe. 3 January 2017  Verifique data em: |data= (ajuda)
  3. a b c d Nosso Tempo - Volume II - "Surge o Terceiro Mundo", página 411. Turner Publishing, Inc. e Century Books. São Paulo
  4. Bogetić, Dragan (2017). «Sukob Titovog koncepta univerzalizma i Sukarnovog koncepta regionalizma na Samitu nesvrstanih u Kairu 1964.» [O conflito entre o conceito de universalismo de Tito e o conceito de regionalismo de Sukarno na Cúpula dos Países Não Alinhados de 1964 no Cairo]. Institute for Contemporary History, Belgrade. Istorija 20. Veka. 35 (2): 101–118. doi:10.29362/IST20VEKA.2017.2.BOG.101-118Acessível livremente 
  5. «New Asian-African Strategic Partnership Ministerial Conference On Capacity-Building for Palestine – Outcome documents, Letter from Indonesia, South Africa». New Asian-African Strategic Partnership Ministerial Conference On Capacity-Building for Palestine – Outcome documents, Letter from Indonesia, South Africa 

Bibliografia

  • Castro, Luís Filipe de Oliveira e (1963). Anticolonialismo e descolonização: ensaios. Lisboa: Agência-Geral do Ultramar 

Ligação externa