Os objetivos declarados da conferência eram promover a cooperação econômica e cultural afro-asiática e se opor ao colonialismo ou neocolonialismo impostos por qualquer nação, com o objetivo de mapear o futuro de uma nova força política global (Terceiro Mundo)[3][nota 1]. A conferência foi um passo em direção à eventual criação do Movimento dos Não Alinhados (MNA), mas as duas iniciativas decorreram em paralelo durante a década de 1960, chegando mesmo a confrontar-se uma com a outra antes da 2ª Conferência do MNA no Cairo em 1964[4].
Em 2005, no 50º aniversário da conferência original, líderes de países asiáticos e africanos se encontraram em Jacarta e Bandungue para lançar a Nova Parceria Estratégica Ásia-África (NAASP). Eles se comprometeram a promover a cooperação política, econômica e cultural entre os dois continentes[5].
Apesar da condição econômica, os participantes tinham pouco em comum. Houve um debate acirrado sobre se a política soviética no Leste Europeu e na Ásia Central deveria ou não ser equiparada ao colonialismo ocidental.[3]
O encontro propôs a criação de um "tribunal da descolonização" para julgar os responsáveis pela prática de políticas imperialistas, entendidas como crimes contra a humanidade, mas a ideia foi vetada pelos países centrais. Bandungue deu origem a uma política de não alinhamento - uma postura diplomática e geopolítica de equidistância das Grandes Potências -, através da qual dezenas de nações tentariam não ser transformadas em joguetes dos titãs da Guerra Fria. A reunião conferiu estatura internacional a alguns chefes de Estado: o presidente Sukarno, da Indonésia; Chu En-Lai, o primeiro-ministro da China; e o presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser.
O "não alinhamento" não foi possível no contexto da Guerra Fria, onde URSS e EUA competiam por áreas de influência. No lugar do conflito leste-oeste, Bandungue criava o conceito de Conflito norte-sul, expressão de um mundo dividido entre países ricos e industrializados e países pobres exportadores de produtos primários.[3][nota 2]
Os dez princípios da Conferência de Bandungue
A única realização concreta dos delegados à conferência foi uma declaração de dez pontos sobre "a promoção da paz e cooperação mundiais", baseada na Carta das Nações Unidas e nos princípios morais do premiêindianoJawaharlal Nehru, um dos estadistas mais antigos presentes ao encontro:[3]
Respeito aos direitos fundamentais;
Respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações;
Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas;
↑De acordo com recente teoria geopolítica, apresentada em 1952 pelo sociólogo francês Alfred Sauvy, o planeta se dividia em "três mundos": o primeiro era o das democracias capitalistas industrializadas; o segundo, o do bloco soviético; e, o terceiro, o dos países pós-coloniais.
↑Como nesse último grupo - dos jovens países pós-coloniais - a população não-branca era predominante, o presidente Sukarno, da Indonésia, chamou o evento de "a primeira conferência intercontinental de pessoas de cor na história da humanidade".
Referências
↑Luís Filipe de Oliveira e Castro, Anticolonialismo e descolonização: ensaios, p. 46, 1963, Agência-Geral do Ultramar
↑ abcdNosso Tempo - Volume II - "Surge o Terceiro Mundo", página 411. Turner Publishing, Inc. e Century Books. São Paulo
↑Bogetić, Dragan (2017). «Sukob Titovog koncepta univerzalizma i Sukarnovog koncepta regionalizma na Samitu nesvrstanih u Kairu 1964.» [O conflito entre o conceito de universalismo de Tito e o conceito de regionalismo de Sukarno na Cúpula dos Países Não Alinhados de 1964 no Cairo]. Institute for Contemporary History, Belgrade. Istorija 20. Veka. 35 (2): 101–118. doi:10.29362/IST20VEKA.2017.2.BOG.101-118