Uma explosão nuclear de teste é uma experiência que envolve a detonação de uma arma nuclear. As motivações para o teste podem, normalmente, ser categorizadas como a verificação da arma em si, se funciona, ou estudar o seu funcionamento e seus efeitos (como a arma se comporta sob condições diversas, e como estruturas se comportam quando submetidas à arma). No entanto, o teste nuclear tem sido também usado como demonstração da força militar e científica do país que o realiza.
Testes de armas nucleares são, normalmente, classificados como sendo "atmosféricos" (na atmosfera ou acima desta), "subterrâneas", ou "subaquáticas". De todos estes, são os testes subterrâneos levados a cabo em profundas minas são os que menos riscos de saúde colocam em termos de cinza nuclear. Testes atmosféricos, os quais entram em contacto com o solo ou com outros materiais, apresentam o risco mais elevado. Armas nucleares têm sido testadas sendo largadas de aviões, do alto de torres, suspensas de balões, em barcas no mar, presas a cascos de navios, e até disparadas por foguetões para o espaço exterior.
O primeiro teste nuclear foi conduzido pelos Estados Unidos em 16 de julho de 1945, durante o Projecto Manhattan, tendo recebido o nome de código Trinity.[1] O teste teve como objetivo confirmar se o desenho de armas nucleares de tipo implosivo era praticável, e para dar aos cientistas e militares uma ideia qual o tamanho e efeitos de uma explosão nuclear antes de tais armas serem usadas em combate contra o Japão. Embora o ensaio tenha dado uma boa aproximação de muitos dos efeitos físicos da explosão, não contribuiu apreciavelmente para a compreensão das cinzas nucleares, as quais não foram compreendidas claramente pelos cientistas do Projecto até aos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki.
Os Estados Unidos conduziram apenas seis testes antes da União Soviética desenvolver a sua primeira bomba atómica, de nome de código Joe 1 (seu nome oficial era RDS-1), e testá-la a 29 de agosto de 1949.[2] A início, nenhum dos dois países tinha muitas armas nucleares de reserva, pelo que os testes eram em número limitado (quando os Estados Unidos usaram duas armas na sua Operação Crossroads em 1946, estavam a explodir mais de 20% do seu arsenal da altura). No entanto, na década de 1950, os Estados Unidos tinham já estabelecida uma área de ensaios no seu próprio território (Área de ensaios de Nevada)[3] e estavam também a usar uma área de ensaios nas Ilhas Marshall (Zona de Testes do Pacífico) para testes nucleares extensivos. Os testes iniciais foram usados para discernir os efeitos militares de armas nucleares (Crossroads avaliaram o efeito de armas nucleares num navio, e como se comportam subaquaticamente) e para testar novos desenhos de armas. Durante os anos da década de 1950, estes incluíram novos designs de bomba de hidrogénio, os quais foram testados no Pacífico, e também novos e melhorados desenhos de armas. A União Soviética iniciou também os seus testes, numa escala limitada, inicialmente no Cazaquistão. Durante as últimas fases da Guerra Fria, no entanto, ambos os países desenvolveram programas de testes acelerados, ensaiando várias centenas de bombas durante a segunda metade do século XX.
Testes nucleares podem acarretar diversos perigos. Vários destes ficaram conhecidos no ensaio Castle Bravo, realizado pelos Estados Unidos em 1954. O desenho da arma era, basicamente, uma nova forma de bomba de hidrogénio, tendo os cientistas subestimado o quão vigorosamente alguns dos materiais da arma viriam a reagir. Como resultado, a explosão - com uma potência de 15 Mton - foi mais de duas vezes mais poderosa do que o previsto. À parte este problema, a arma gerou também uma grande quantidade de cinzas radioativas, mais do que a antecipada, e uma mudança no padrão climatérico provocou o espalhamento das cinzas numa direção que não tinha sido evacuada a tempo. A mancha de cinzas espalhou altos níveis de radiação por mais de 160 km, contaminando várias ilhas habitadas em atóis vizinhos (as populações tiveram de ser evacuadas, muitas sofrendo de queimaduras de radiação e, mais tarde, de outros efeitos como elevada taxa de cancro e de defeitos de nascença), bem como uma embarcação de pesca japonesa. Um dos seus membros faleceu devido a envenenamento radioativo após ter retornado ao porto, temendo-se que o peixe transportado pela embarcação tivesse entrado na cadeia japonesa de fornecimento alimentar.[4]
Castle Bravo foi o pior acidente nuclear dos Estados Unidos, mas muitos dos seus problemas constituintes - enorme e imprevisível potência, mudança de padrões climatéricos, contaminação não planeada de populações e respectivas cadeias de fornecimento alimentar - ocorreram, igualmente, durante ensaios levados a cabo por outros países. Preocupações acerca de espalhamento de cinzas nucleares a nível mundial levaram, eventualmente, ao Tratado de Interdição Parcial de Ensaios Nucleares em 1963,[5] o qual limitou os seus signatários a ensaios subterrâneos. Tal, no entanto, não levou a que todos os ensaios em curso cessassem, mas como os Estados Unidos e a União Soviética terminaram os seus testes atmosféricos, tal representou um corte substancial no número de testes total acima do solo, já que cerca de 86% dos ensaios a nível mundial eram levados a cabo por aqueles dois países. A França continuou os seus ensaios atmosféricos até 1974, e a República Popular da China até 1980.
Quase todas as novas potências nucleares anunciaram a sua posse de tais armas com um ensaio nuclear. A única potência nuclear reconhecida que reclama nunca ter conduzido um teste é a África do Sul (que, desde então, afirma ter desmantelado completamente o seu arsenal após o fim do regime do Apartheid).[6] O Estado de Israel é considerado pela maioria das agências de informação de vários países como possuindo um arsenal nuclear de tamanho considerável, embora nunca tenha levado a cabo testes.[7] Peritos discordam quanto ao facto de ser possível possuir arsenais nucleares fiáveis - em especial aqueles que usam desenhos avançados de ogivas, tais como bombas de hidrogénio e armas miniaturizadas - sem testar, embora todos concordem ser muito improvável o desenvolvimento de inovações nucleares significativas sem proceder a ensaios. Uma outra aproximação é usar supercomputadores para conduzir ensaios "virtuais", mas o valor destas simulações sem verdadeiros dados resultantes de um teste são considerados pobres e insuficientes.
Alguns testes nucleares têm sido realizados com fins "pacíficos". Denominados explosões nucleares pacíficas, foram usados para avaliar se explosões nucleares poderiam ser usadas para fins não-militares, tais como a escavação de canais e portos artificiais, ou para estimular campos de petróleo e gás. Em muitos casos os resultados foram por demais radioativos para terem aplicabilidade e os programas provaram ser desfavoráveis tanto económica como politicamente.
Os testes nucleares têm também sido usados com claros propósitos políticos. O exemplo mais explícito foi a detonação, em 1961, da maior bomba nuclear alguma vez criada, a Tsar Bomba, um colosso de 50 Mton criado pela União Soviética. Esta arma era grande demais para ser usada contra um alvo inimigo, não se julgando que alguma outra similar tenha sido desenvolvida, com exceção da que foi detonada. A arma foi usada pela União Soviética não com o intuito de desenvolver uma arma real ou para fins científicos, mas como uma exibição do poder e força soviéticos. Tsar bomba era a princípio um artefato de 100 megatons, mas temendo que sua detonação resultasse num desastre de proporções globais, os soviéticos reduziram sua potência pela metade.[8]
Têm, desde então, havido muitas tentativas de limitar o número e tamanho de testes nucleares; a maior foi o Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares de 1996,[9] o qual não foi ratificado pelos Estados Unidos. Desde então, este tema tem sido alvo de controvérsia nos Estados Unidos, com um número significativo de políticos a afirmarem que ensaios futuros poderão ser necessários para manter as envelhecidas ogivas da Guerra Fria. Devido aos testes nucleares serem vistos como impulsionadores de desenvolvimento de mais armas, muitos outros políticos opõem-se a testes futuros, tentando contrariar uma possível aceleração da corrida ao armamento. No século XXI, a Coreia do Norte é o único país que continua a conduzir testes nucleares.[10]
As potências nucleares conduziram pelo menos 2 mil explosões nucleares de teste (os números são aproximados, já que alguns testes têm sido disputados):
Nos Estados Unidos, os testes nucleares com os piores efeitos em termos de contaminação radioativa foram realizados no estado de Nevada (população de 799 mil pessoas) e no atol Bikini (ilhas Marshal, no Oceano Pacífico, área de 5 km²); na Rússia, eles ocorreram no Polígono Semipalatinskij (população de 803 mil pessoas em territórios adjacentes) e na Nova Zembla (região de tundra e deserto ártico, com 83 mil km²). Outros países a realizar testes nucleares, em menor escala, foram França e China (Pivovarov & Mikhalov 2004).
Adicionalmente, poderá ter havido 3 alegadas/disputadas/não declaradas explosões nucleares (ver mais abaixo). Desde o primeiro ensaio nuclear em 1945 até ao último teste realizado pelo Paquistão em 1998, nunca houve um período de mais de 22 meses sem qualquer teste nuclear. Assim, o período de junho de 1998 até ao momento atual tem sido, de longe, o maior período desde 1945 sem testes nucleares declarados.
Testes alegados
Há vários casos alegados/disputados/não declarados de países testando explosivos nucleares. O estado destes ensaios é, em alguns casos, incerto ou mesmo inteiramente colocado em causa pelos principais peritos nucleares.
De acordo com dados fornecidos pelo satélite Vela, Israel e África do Sul podem ter detonado um dispositivo nuclear no Oceano Índico, a 22 de setembro de 1979. O episódio é conhecido como incidente Vela. Como houve dúvidas sobre a interpretação da imagem do satélite, ou seja, se o clarão mostrado na imagem corresponderia mesmo a uma explosão nuclear, a administração Carter, na época, designou uma comissão liderada pelo professor do MIT Jack Ruina, para analisar a confiabilidade da deteção do satélite. Essa comissão concluiu, em julho de 1980, que o lampejo mostrado pela imagem do satélite "provavelmente" significava uma explosão nuclear.[13] No entanto, membros do Nuclear Intelligence Panel (NIP), coordenado por Donald Kerr, fizeram sua própria investigação. Mais tarde, Kerr afirmaria: "Nós não tínhamos dúvida de que era uma bomba". Embora os especialistas do NIP tivessem concluído que havia sido mesmo um teste nuclear e que esse teste fora feito por israelenses e sul-africanos, a Casa Branca determinou que não se discutisse publicamente o assunto, por razões de segurança nacional.[14] Segundo o jornalista Seymour Hersh, a deteção correspondia ao terceiro teste nuclear realizado conjuntamente por Israel e África do Sul no Oceano Índico.[15][16]
No dia 9 de outubro de 2006 foi ocorreu o primeiro teste nuclear norte-coreano, informado pela agência oficial norte-coreana KCNA, ignorando todos os apelos internacionais. O teste resultou na detecção de "uma atividade sísmica" nas medições geológicas dos Estados Unidos. A explosão teve uma potência inferior a 1 quiloton. Especula-se que a bomba falhou ou teve um rendimento menor do que o esperado.
O segundo teste nuclear ocorreu em 2009, cuja potência atingiu 5 quilotons (por se tratar de uma estimativa, o valor é contestado. A Rússia afirma que atingiu 20 quilotons, enquanto os EUA afirmam se tratar de 2 kt).
Em janeiro de 2016, o quarto teste nuclear ocorreu, desta vez com o governo norte-coreano afirmando se tratar de uma bomba de hidrogênio. Entretanto, a baixa capacidade tecnológica do país e a baixa intensidade da explosão, estimada em 13 quilotons, causou ceticismo sobre a alegação norte-coreana, com a comunidade internacional chegando ao consenso de que se tratava na verdade de uma bomba de fissão intensificada.[17]
Apenas 8 meses se passaram até o quinto teste, em 9 de setembro de 2016, supostamente com uma ogiva nuclear que poderia ser montada em um míssil de longo alcance. Essa explosão pode ter rendido até 30 quilotons.[18]
Todas essas atividades foram severamente condenadas e repudiadas pela comunidade internacional.
Alemanha
Hitlers Bombe, um livro publicado em língua alemã pelo historiador Rainer Karlsch em 2005, alega existirem provas de que a Alemanha Nazi dirigiu algum tipo de teste com um "engenho nuclear" (um dispositivo de fusão híbrido, diferente de qualquer arma nuclear moderna) em março de 1945, embora as referidas provas não tenham sido completamente avaliadas até ao momento e tenham sido postas em causa por muitos historiadores.
Ogivas propulsionadas por mísseis
Mísseis e ogivas nucleares têm sido, normalmente, testadas separadamente. O único teste real, levado a cabo pelos Estados Unidos,
de um míssil operacional foi o seguinte:
Frigate Bird - a 6 de maio de 1962, um míssil A-1 UGM-27 Polaris, com uma ogiva real de 600 kton, foi lançado do USS Ethan Allen (SSBN-608); voou 1 900 km, reentrou na atmosfera e explodiu a uma altitude de 3,4 km sobre o Pacífico Sul. O teste fez parte da Operação Dominic I. Planeada para dissipar as dúvidas existentes acerca da funcionalidade prática dos mísseis nucleares norte-americanos, a operação teve menor efeito do que o esperado, já que a matéria-prima da ogiva foi substancialmente modificada antes do teste, e o míssil testado foi um SLBM de relativa baixa altitude e não um míssil balístico intercontinental de grande altitude.
Outros testes reais com explosivos nucleares montados em mísseis, levados a cabo pelos Estados Unidos, são:
A 1 de agosto de 1958 o míssil Redstone #CC50 iniciou o teste nuclear Teak, tendo sido detonado a uma altitude de 77,8 km. A 12 de agosto de 1958, o míssil Redstone #CC51 iniciou o teste nuclear Orange, explodindo a uma altitude de 43 km. Ambos os mísseis pertenceram à Operação Hardtack e tinham uma potência de 3,75 Mton.
A 9 de julho de 1962, o míssil Thor 195, lançou o veículo de reentrada Mk4, contendo uma ogiva termonuclear W49, a uma altitude de 400 km. A ogiva explodiu com uma potência de 1,45 Mton. Este evento, denominado Starfish Prime, pertenceu ao teste nuclear Dominic-Fishbowl.
Na mesma série de 1962: Checkmate, Bluegill, Kingfish e Tightrope.
A União Soviética testou vários explosivos nucleares em mísseis, na década de 1960, como parte do seu sistema de mísseis antibalísticos.
↑HERSH, Seymour M. The Samson Option: Israel's Nuclear Arsenal and American Foreign PolicyArquivado em 30 de maio de 2013, no Wayback Machine.. New York: Random House, 1991. ISBN 0-394-57006-5, 272-273, 280. [Victor] Gilinsky wasn't surprised when the Ruina panel concluded that no nuclear test probably had taken place: 'Everyone took the bureaucratically appropriate decision.'" (...) "NIP had done its own investigation into the VELA test, and had been ordered by the White House — citing national security — not to discuss it publicly."
Gusterson, Hugh. Nuclear Rites: A Weapons Laboratory at the End of the Cold War. Berkeley, CA: University of California Press, 1996.
Hacker, Barton C. Elements of Controversy: The Atomic Energy Commission and Radiation Safety in Nuclear Weapons Testing, 1947-1974. Berkeley, CA: University of California Press, 1994.
Pivovarev U. P. & Mikhalev V. P. Radiatsionnaja ekologija. Moscou: Academia, 2004.
Schwartz, Stephen I. Atomic Audit: The Costs and Consequences of U.S. Nuclear Weapons. Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 1998.
Weart, Spencer R. Nuclear Fear: A History of Images. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1985.
Ligações externas
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