Sara ou Sara, a negra (em romani: Sara la Kali; em francês: Sara la noire), segundo várias lendas, foi uma discípula de Jesus venerada popularmente como santa pela Igreja Católica. Ela é invocada como a padroeira dos povos ciganos e de mulheres que buscam fertilidade.[3]
O seu nome, tal como o da matriarca judia Sara, cuja vida é relatada no Antigo Testamento, teria se originado do hebraico e era supostamente usado para designar uma mulher de grande relevância na sociedade, mantendo por significado "princesa" ou "senhora". Já o epíteto Kali origina-se, supostamente, do idioma sânscrito, tendo por tradução a palavra "negra". Nas suas tradicionais iconografias, Sara é representada com a pele escura.
A história de Sara é incerta, uma vez que não há registros sobre sua vida. Lendas relatam que ela teria auxiliado Maria durante o nascimento de Jesus. Sara também estaria presente na crucificação de Jesus, embora os Evangelhos Canônicos não a mencionem.[4] Ela também é identificada como serva de Maria Madalena.
Com o início da perseguição aos cristãos no território Israel, conta-se que Sara foi deportada do país juntamente com Maria Madalena, Maria de Cleófas, Maria Salomé, os irmãos Marta, Maria e Lázaro de Betânia, Marcela e um cristão de nome Maximino. A tradição relata que eles foram lançados no Mar Mediterrâneo numa embarcação sem remo que chegou onde nos dias atuais seria a comuna francesa de Saintes-Maries-de-la-Mer (Santas Marias do Mar em francês). Conta-se que o grupo, temendo um naufrágio, puseram-se em oração. Sara, por sua vez, havia de ter feito uma promessa de que se conseguissem desembarcar sem que houvesse mortes, teria ela que se cobrir com um véu em forma de agradecimento.[5]
Alguns autores, como Dan Brown, por exemplo,[6][7][8] baseando-se em outras obras como o pseudohistórico livro Holy Blood, Holy Grail ao compor a obra O Código Da Vinci, sugerem que Sara seria, na verdade, filha de Jesus Cristo e Maria Madalena. No entanto, essas especulações são descartadas pela vasta maioria dos estudiosos.[9][10]
Em Saintes-Maries-de-la-Mer, na cripta da igreja de Saint Michel, afirma-se que estariam suas relíquias, junto a uma estátua que lhe representaria. Sobre isso, Jean de Labrune escreveu no início do século XVIII:
"No ano de 1447, ele (René d'Anjou) mandou pedir bulas ao Papa Nicolau V para realizar a inquisição destes Corpos Sagrados; que lhe foi concedido, os ossos das Marias foram colocados em ricos e soberbos santuários. Para Santa Sara, por não ter a qualidade das suas senhoras, os seus ossos estavam apenas contidos numa simples caixa, que foi colocada debaixo de um altar numa capela subterrânea".[11]
Seu culto não deixou vestígios antes de 1800. Da tradição provençal, retoma a memória da "Santas Marias do Mar", da qual Sara tornou-se serva segundo a tradição hagiográfica. Fernand Benoit, que foi o primeiro historiador a decifrar este folclore, sublinha que tal como acontece com Maria de Cléofas, Maria Salomé e Maria Madalena, Sara recebe em sua homenagem uma procissão até ao mar que os ciganos fazem desde 1936. Precedendo em um dia o dia da festa das três Marias, a estátua da Santa Sara é submersa no mar até o meio do corpo.[12]
Em Camarga, a imersão ritual no mar segue uma antiga tradição. Ainda no século XVII, em memória do desembarque do grupo cristão as margens do Mediterrâneo, os camargues percorreram entre bosques e vinhas até chegarem à praia, prostando-se por fim no mar.[12]
"O rito de navegação do 'tanque naval', despojado da lenda do desembarque, surge como uma cerimônia complexa que une a procissão do tanque pelo campo e a prática da imersão de relíquias; está ligada às procissões agrárias e purificadoras que nos foram preservadas pelas festas das Rogações e do Carnaval"— Fernand Benoit, Provence e Comtat Venaissin, Artes e Tradições Populares.[13]
O historiador também sublinha que estas procissões até ao mar contribuem para o próprio caráter da civilização provençal e para o seu medo respeitoso do Mediterrâneo, uma vez que se encontram tanto em Saintes-Maries-de-la-Mer como em Fréjus, Mónaco, Saint-Tropez ou Collioure, o culto ligado a outros santos.[14]
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