Embora hoje em dia o estado da Paraíba ainda tenha dezenas de milhares de quilômetros quadrados, superfície similar à de muitos países mundo afora, seu território original por direito era maior, pois ia até a longitude de Tordesilhas, onde hoje se situa o atual estado de Tocantins. O fato de outras capitanias da costa norte terem invadido o seu território original de direito se deu durante a expansão pecuarista do século XVII, pois estes não tendo grande economia exportadora a exemplo da Paraíba, tiveram de tentar compensar isso investindo mais na economia pecuarista extensiva, que gerava comércio entre o Sertão e a Zona da Mata, fomentando a captação de capital por via menos direta. No período do Tratado de Tordesilhas, a capitania da Paraíba foi, longitudinalmente (sentido leste-oeste), a mais extensa unidade geopolítica da América Portuguesa, título antes pertencente a Itamaracá, da qual a Paraíba fez inicialmente parte.[nota 2]
Para dominar a rebelião, no início do ano seguinte, 1575, uma expedição foi enviada da capitania de Pernambuco sob o comando do ouvidor-geral e provedor da Fazenda Fernão da Silva, sem sucesso.[1] Nova expedição, enviada de Salvador, na capitania da Bahia, pelo governador da Repartição Norte, D. Luís de Brito e Almeida (1573–1578), não conseguiu atingir a Paraíba em virtude de uma tempestade que lhe dispersou as embarcações, obrigando-as a arribar, avariadas, a Pernambuco, em setembro de 1575. Uma terceira expedição foi armada pelo governo da capitania de Pernambuco, partindo de Olinda sob o comando de João Tavares (1579), também com êxito limitado.[1]
Tais eventos demonstram o quanto a aliança francesa com os potiguaras era bastante sólida, mesmo após Tracunhaém, algo que só iria mudar com a União Ibérica a partir dos anos 1580.
Fundação da capitania
Finalmente, o governador-geral Manuel Teles Barreto (1583–1587) solicitou o auxílio da frota do almirante D. Diogo Flores de Valdés, que à época patrulhava a costa sul-americana, unindo-se ao capitão-mor da capitania da Paraíba, Frutuoso Barbosa, e organizando nova expedição (1584), a qual fundou a primeira Cidade Real no Brasil sob a Dinastia Filipina: «Filipeia de Nossa Senhora das Neves».
O ouvidor-mor Martim Leitão, com o auxílio das forças do caciquePirajibe, subjugou os potiguaras do sul (nessa altura a população potiguara se concentrava um pouco mais para o norte, na região da atual Baia da Traição), erigindo um novo forte e fundando nova e definitivamente o núcleo populacional de Nossa Senhora das Neves em 5 de agosto de 1585, núcleo da futura cidade da Parahyba, atual João Pessoa.[1] Ficou instalada, desse modo, a capitania que só passa a existir de fato a partir de tal marco, pois antes só existia no papel. A paz definitiva com os potiguaras, então aliados dos ingleses, bretões e normandos (estes dois últimos povos da atual França), só foi alcançada em 1599, após uma epidemia de «bexiga» (varíola) que dizimou a população nativa sem imunidade para tais vírus até então inexistentes nas Américas.
A maior parte da Paraíba está compreendida no território da antiga capitania de Itamaracá, que foi incorporada à de Pernambuco depois da expulsão dos holandeses no século XVII, e incorporada permaneceu até emancipar-se em 17 de janeiro de 1799.[4]
A exemplo, em 1697 o capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo iniciou um povoado no agreste com aldeados indígenas. Situando-se entre o litoral e o Sertão, esse povoado tonou-se uma feira que é hoje Campina Grande. O povoado foi elevado às categorias de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição {1769} e Vila Nova da Rainha (20 de abril de 1790).
Importância geopolítica
A fundação da cidade que hoje é João Pessoa servia para garantir a segurança da capitania mais rica à época (Pernambuco).[nota 7]
A capitania da Paraíba nas mãos dos franceses e nativos deixava os portugueses inquietos, pois estes poderiam a qualquer momento repetir o massacre ocorrido em Tracunhaém, avançando mais a sul e atingindo Olinda, a principal vila do Brasil e um dos principais núcleos civilizacionais lusitanos no Brasil Colônia, comprometendo assim a exportação da principal riqueza dessa parte oeste do Império Português que era o açúcar.[nota 8] À época, São Vicente era a única capitania da repartição meridional do Brasil com algum peso econômico, enquanto na setentrional havia várias de grande exportação, como Itamaracá, Paraíba, Pernambuco, Bahia e secundariamente o Rio Grande do Norte, que apesar de bem localizada (num vértice a nordeste do Brasil), tinha menor área de mata úmida costeira.
A derrota francesa no extremo leste do Nordeste Oriental foi o mais duro golpe de toda a história da América Francesa (e do mundo francês no comercialismo clássico, antes do neomercantilismo industrialista), pois a perda da feitoria do Forte Velho e, décadas depois, de São Luís (Maranhão) abriria precedentes para que toda a costa nordeste brasileira, assim como a Amazônia, caísse definitivamente nas mãos ibéricas, empurrando os franceses para o norte do continente americano, região das Guianas e do Caribe.
Breve cronologia
Século XV
A Paraíba é habitada por tribos silvícolas (tupis e cariris) que ainda vivem no paleolítico.
Visitas frequentes de corsários franceses e ingleses à capitania, os quais fazem escambo com os indígenas potiguaras e estabelecem uma feitoria principal no Forte Velho e outra na Baía da Traição, na qual uma confederação de nativos e franceses derrotaram os portugueses, numa emboscada que deu nome — «Baía da Traição» — a tal reentrância costeira.[9][nota 9]
Capitania real com a primeira cidade fundada sob a égide espanhola na América Portuguesa: Filipeia de Nossa Senhora das Neves.
Apogeu da produção açucareira na região leste e pecuária no centro-oeste da capitania da Paraíba. André Vidal de Negreiros, nascido na várzea paraibana, é um dos líderes mais aguerridos contra o domínio neerlandês. Nessa época, a Paraíba era conhecida pela Liga Hanseática por ter «o melhor pão de açúcar das Américas».[10][nota 11]
Só quase dois séculos após a vinda dos portugueses às Américas é que se consolida o controle direto destes sobre o território.
Século XVIII
Paraibanos e outros migrantes do Nordeste e de Portugal, chamados de emboabas, têm vitória contra os bandeirantes paulistas nas Minas Gerais.
Século XIX
Decadência da cultura do açúcar e da pecuária e ascensão do ciclo do algodão, principalmente em virtude da Guerra Civil Americana. Com a decadência do algodão e a ascensão da ciclo da borracha, a Paraíba começa a ter decréscimo demográfico para outras regiões.
↑Embora obras como Diálogos das Grandezas do Brasil (1618), de Ambrósio Fernandes Brandão, e Descrição Geral da capitania da Paraíba (1639), do neerlandês Elias Herckmans, junto com mapas da época, já mencionem a capitania da Paraíba, Itamaracá parece não ter sido extinta no século XVI, mas somente após o período neerlandês no século XVII.
↑O rio Paraíba perdeu a denominação São Domingos sem explicação oficial e foi renomeado com o termo tupiParahyba, que era como os indígenas já o conheciam antes de o homem europeu pisar em território paraibano. Seu significado («rio ruim») é pouco claro e possivelmente se refere à navegabilidade limitada para embarcações de calado maior que o das canoas nativas, ou mesmo às suas águas salobras. O descarte da denominação São Domingos talvez tenha se devido ao fato de este ter sido uma adaptação do francêsSaint-Domingue, forma como era oficialmente conhecida pelos europeus a foz do rio até então, que acreditavam tratar-se de uma baía, chamando-a Bay de Saint-Domingue.[2][3] Tal nome consta do primeiro mapa da região, de 1579.[2]
↑Franceses e potiguaras viam nos luso-pernambucanos os mesmos rivais portugueses que tanto combatiam há décadas.
↑Há vários escritos da época que atestam que o Império Lusitano Ocidental (Brasil) já era mais rentável e importante que o Oriental (na África e na Ásia), mesmo antes da perda de parte desse último para os neerlandeses (Ceilão, Malaca, Java etc.), em virtude dos altíssimos custos de manter tais praças, os fortes militares, bem como enviar naus a zonas tão distantes, onde os colonos portugueses eram uma população secundária e portanto deviam tributos em acordos com os soberanos locais.[carece de fontes?]
↑Até então o povoado era conhecido pelos potiguaras como Acejutibiró.
↑Os neerlandeses cobiçaram tais técnicas, roubando-as e levando-as para as Antilhas, o que deixou o preço do arroba do açúcar menor, obrigando o aumento da área de produção para compensar a queda no valor proporcional (aumentando as vendas no setor atacadista).
Referências
↑ abcdefghOLIVEIRA, Elza Regis de; MENEZES, Mozart Vergetti de; LIMA, Maria da Vitória Barbosa (organ.) (2001). Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos referentes à capitania da Paraíba, existentes no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. [S.l.]: Ed. Universitária (UFPB) !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑ abDepartamento de História da UFRN (1996). Caderno de história, Volumes 3-6. [S.l.]: Universitária (UFRN)
↑Serviço de Documentação Geral da Marinha do Brasil (1975). História naval brasileira. [S.l.]: O Serviço
↑Confraria do IAHGP (1919). Revista, volume 21, edições 103-106. [S.l.]: Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP)
↑Horácio de Almeida (1997). História da Paraíba, Volume 2. [S.l.]: Editora Universitária (UFPB) e Conselho Estadual de Cultura
↑Jorge Eduardo Alves de Souza (1999). Aquarelas do Brasil. [S.l.]: Autor. 159 páginas. ISBN9788590102618