Durante a Segunda Guerra Mundial, depois de manter uma posição neutra ao longo dos três primeiros anos do conflito, em fevereiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo, depois que alemães e italianos iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras no Oceano Atlântico. Tal iniciativa foi uma sinalização da posição formalizada meses depois, quando o Brasil se junta aos Aliados e declara guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Ante disso, no mesmo ano, uma portaria homologada ainda em março de 1942, sob decreto de número 4.166, determinou que os bens pertencentes a alemães, italianos e japoneses, tanto de pessoas físicas como jurídicas, poderiam ser confiscados e usados pelo governo brasileiro para compensar prejuízos gerados por países da guerra contra o Brasil. Outra determinação do Governo Getúlio Vargas foi realizada por meio de decreto que proibia qualquer entidade de usar nomes relacionados a países do Eixo, sob pena de perda de patrimônio.
Já em março de 1942, tentando evitar complicações, o paulistano Palestra Itália decidiu mudar o nome para Palestra de São Paulo. Outra alteração foi feita no escudo institucional, que ganhou uma adaptação mais nacionalista, com a retirada da cor vermelha e o acréscimo de um tom amarelo, em referência às cores da bandeira brasileira[3].
As modificações não foram suficientes, pois as pressões políticas da época eram imensas. Para alguns setores da sociedade, a despeito da palavra “palestra” ter origem grega, ela fazia referência à Itália. Por isso, as exigências para mudança de nome e aplicações de punições eram cada vez maiores. Dirigentes do então Palestra acusam até os dias de hoje o São Paulo Futebol Clube[4] como um dos adversários responsáveis pelas maiores pressões nos meios políticos, já que, segundo eles, havia interesse do rival no Estádio Parque Antártica.[5] No São Paulo, a tese sobre o estádio é tida como "fantasiosa".[6]
A mudança definitiva
Na noite do dia 14 de setembro de 1942, a diretoria do Palestra reuniu-se em sessão extraordinária para discutir a exigência, de uma mudança total do nome. Depois de horas de discussão e resistência, e da sugestão de nomes como Piratininga e Paulista, decidiu-se finalmente por Sociedade Esportiva Palmeiras, em parte pela preservação da letra P nos escudos e símbolos do clube, e em parte em homenagem à Associação Atlética das Palmeiras, clube então extinto mas que sempre manteve excelente relacionamento com o Palestra Itália, tendo fornecido apoio decisivo em diversas ocasiões de litígio com dirigentes do futebol paulista.
A reunião que trouxe a mudança de nome definitiva do Palestra para Palmeiras foi realizada dias antes do jogo decisivo que poderia ter o campeão do Campeonato Paulista de 1942.
Como o Palestra era o líder da competição e restavam dois jogos para fim, contra São Paulo e Corinthians, bastava uma vitória alviverde para a conquista do título. Por coincidência, após a alteração de nome, o Palmeiras enfrentaria justamente o São Paulo, tida como grande responsável pela perseguição e por uma campanha na qual o então Palestra era acusado de ser "inimigo da pátria" por ser de origem italiana.
A Arrancada Heroica
A decisão aconteceu no dia 20 de setembro de 1942, o Palmeiras entrou em campo pela primeira vez com o nome que é conhecido até os dias de hoje. Com o intuito de evitar as vaias que eram prometidas pelos rivais, a equipe surgiu no gramado do Estádio do Pacaembu com uma bandeira do Brasil, puxada pelo então 2º Vice-Presidente do clube, Adalberto Mendes, que era capitão do Exército Brasileiro. A iniciativa e a imagem emocionante, chamada depois de Arrancada Heroica[7], foi aplaudida pelos torcedores presentes e ajudou a amenizar a pressão sobre a equipe alviverde.
O jogo com o São Paulo foi tenso e violento, com vitória alviverde por 3 a 1, e abandono de campo da equipe tricolor aos 21 minutos do segundo tempo, quando o árbitro marcou um pênalti cometido por Virgílio em Og Moreira. Com o placar e a fuga tricolor[8], o Palmeiras ganhou a primeira taça com o novo nome. Com a derrota, o São Paulo terminou em terceiro, atrás do Corinthians, vice-campeão.
São Paulo: Doutor, Piolin e Virgílio; Lola, Noronha e Silva; Luizinho, Waldemar de Brito, Leônidas, Remo e Pardal. Técnico: Conrado Ross.
Homenagens à data
A Arrancada Heroica é não somente um episódio histórico ligado ao Palmeiras, mas também à história do esporte na cidade de São Paulo. No dia 11 de outubro de 2005, foi sancionada na capital paulista a Lei n.º 14.060, que definiu o dia 20 de setembro como o "Dia da Sociedade Esportiva Palmeiras". A data passou a ser lembrada anualmente, já que passou a integrar o Calendário Oficial do Município[9].
Outra homenagem ao episódio foi o batismo de uma passarela nas proximidades da sede do Palmeiras, no bairro da Água Branca, em São Paulo. Ela fica sobre a Avenida Antártica e tem o nome de “Passarela Palmeiras – Arrancada Heroica 1942”[10].
Bibliografia
CAMPOS JÚNIOR, Celso de - 1942 - O Palestra vai à Guerra. São Paulo: Editora Realejo, 2012.
DUARTE, Orlando - O alviverde imponente. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.
FERRARI, Osni - Oberdan Cattani, a Muralha Verde. São Paulo. Edição própria, 2004.
GALUPPO, Fernando Razzo - Alma Palestrina. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2009.
GALUPPO, Fernando Razzo - Morre líder, nasce campeão!. São Paulo: BB Editora, 2012.
HELENA JÚNIOR, Alberto - Palmeiras, a eterna Academia - 2ª Edição. São Paulo: DBA, 2003.
STORTI, Valmir e FONTENELLE, André - A história do campeonato paulista. São Paulo: Publifolha, 1997.
UNZELTE, Celso Dario e VENDITTI, Mário Sérgio - Almanaque do Palmeiras. São Paulo: Editora Abril, 2004.
Filmografia
ONOFRIO, Lucas - Sabe Ser Brasileiro - Arrancada Heroica 1942. São Paulo: Documentário, 2017.