Na metafísica, a série A e a série B são duas descrições diferentes da relação de ordenação temporal entre eventos.[1] As duas séries diferem principalmente no uso do tempo verbal para descrever a relação temporal entre eventos e as implicações ontológicas resultantes em relação ao tempo. John McTaggart introduziu esses termos em 1908, em um argumento para a irrealidade do tempo.[2] Eles agora são comumente usados por filósofos contemporâneos do tempo.
História
Os grandes filósofos gregos Heráclito e Parmênides expressaram duas visões completamente opostas sobre o fluxo do tempo. Heráclito acreditava que tudo estava fluindo e mudando (daí sua famosa citação "Nenhum homem jamais pisa no mesmo rio duas vezes").[3] Parmênides pensava que a existência não teve um começo e nunca seria destruída e, portanto, noções como 'foi' e 'será' são irrelevantes; existência simplesmente 'é'.[4] No início do século 20, John McTaggart causou um enorme impacto na filosofia do tempo ao apresentar seu argumento de que não há fluxo de tempo.[5]
McTaggart distinguiu as antigas concepções como um conjunto de relações. De acordo com McTaggart, existem dois modos distintos em que todos os eventos podem ser ordenados no tempo.[6] Ele expressou sua ideia da seguinte forma: eventos no tempo podem ser distinguidos por duas características[7]:
Cada evento ocorre antes ou depois de algum outro evento. McTaggart chamou essa relação de série B.
A segunda abordagem, que McTaggart chamou de série A, implicava que cada evento é futuro, presente ou passado.
Assim, as séries B são permanentes, enquanto as séries A não são.
Diferenças
A lógica e a expressão linguística das duas séries apresentam marcadas distinções. A série A se caracteriza pela temporalidade, enquanto a série B é definida pela atemporalidade. Por exemplo, a assertiva "hoje está chovendo" é temporal, pois sua validade repousa na perspectiva temporal – o presente – do enunciador, ao passo que a afirmação "Choveu em 25 de janeiro de 2024" é atemporal, visto que não se vincula a essa perspectiva. Do ponto de vista de suas veracidades, ambas as proposições são idênticas (ambas verdadeiras ou ambas falsas) se a primeira afirmação for proferida em 25 de janeiro de 2024.
A relação não temporal de precedência entre dois eventos, exemplificada por "E precede F", permanece inalterada ao longo do tempo (excluindo a discussão relativa à relatividade da ordem temporal de eventos causalmente desconectados na teoria da relatividade). Por outro lado, a atribuição de "passado, presente ou futuro" aos eventos "E" ou "F" sofre alterações no decorrer do tempo. Na concepção de McTaggart, a passagem do tempo se configura no fenômeno em que termos situados cada vez mais no futuro transmutam para o presente... ou que o presente avança em direção a termos cada vez mais no futuro. Sob o primeiro ponto de vista, se expressa a ideia de que a série B desloca-se ao longo de uma série A fixa. No segundo ponto de vista, se articula a perspectiva de que a série A desliza sobre uma série B estabilizada.
Relação com outras ideias na filosofia do tempo
Há duas formas preponderantes da A-teoria: o presentismo e o universo bloco crescente. Ambas implicam um presente objetivo, porém, o presentismo argumenta que somente objetos presentes têm existência, ao passo que o universo bloco crescente postula a existência de objetos presentes e passados, mas exclui os futuros. Abordagens que não postulam um presente objetivo, configurando-se, portanto, como versões da B-teoria, compreendem o eternalismo e o quadridimensionalismo.
↑Savitt, Steven (2021). Zalta, Edward N., ed. «Being and Becoming in Modern Physics». Metaphysics Research Lab, Stanford University. Consultado em 23 de março de 2022