Inovador em matemática, estatística, filosofia, metodologia de pesquisa e em várias ciências, Peirce se considerava, antes de tudo, um lógico. Ele fez grandes contribuições à lógica que, para ele, abarcava muito daquilo que agora é chamado de epistemologia e filosofia da ciência. Ele enxergava a lógica como o ramo formal da semiótica que prenunciava o debate entre os positivistas lógicos e os defensores da filosofia da linguagem que dominou a filosofia ocidental do século XX. Além disso, ele definiu o conceito de raciocínio abdutivo, bem como a indução matemática rigorosamente formulada e o raciocínio dedutivo. Já em 1886, ele viu que operações lógicas poderiam ser realizadas por circuitos elétricos de comutação; a mesma ideia foi usada décadas depois para produzir computadores digitais.[1]
Em 1934, o filósofo Paul Weiss classificou Peirce como "o mais original e versátil dos filósofos americanos e o maior lógico da América".[2] O Webster's Biographical Dictionary registava em 1943 que Peirce era "agora considerado como o mais original pensador e maior lógico de sua época".[3]Keith Devlin se referiu a Peirce como um dos maiores filósofos de todos os tempos.[4]
Biografia
Era filho de Benjamin Peirce, na época um dos mais importantes matemáticos de Harvard.
Peirce concebia a Lógica dentro do campo do que ele chamava de teoria geral dos signos, ou Semiótica. Os últimos 30 anos de sua vida foram dedicados a estudos acerca da Semiótica, para Peirce um sistema de lógica. Produziu cerca de 80 000 manuscritos durante a vida, sendo que 12 000 páginas foram publicadas. Peirce foi o primeiro a tentar uma sistematização científica do estudo dos signos, com o trabalho que levou o título Logic as Semiotic: The Theory of Signs ("Lógica enquanto Semiótica: A Teoria dos Signos"), composto de artigos que escreveu entre 1893 e 1910. Também é a ele que se deve a cunhagem do termo "pragmatismo" que caracterizou, com William James e John Dewey, o pensamento e o comportamento estadunidense.[5]
A semiótica peirciana pode ser considerada uma Filosofia científica da linguagem. A Fenomenologia é a ciência que permeia a semiótica de Peirce e deve ser entendida nesse contexto. Para Peirce, a Fenomenologia é a descrição e análise das experiências do homem, em todos os momentos da vida. Nesse sentido, o fenômeno é tudo aquilo que é percebido pelo homem, seja real ou não. Seus estudos levaram ao que ele chamou de Categorias do Pensamento e da Natureza, ou Categorias Universais do Signo. São elas a Primeiridade, que corresponde ao acaso, ou o fenômeno no seu estado puro que se apresenta à consciência, a Secundidade, corresponde à ação e reação, é o conflito da consciência com o fenômeno, buscando entendê-lo. Por último a Terceiridade, ou o processo, a mediação. É a interpretação e generalização dos fenômenos.
Recepção e legado
A recepção e o legado de Peirce variaram conforme a época, permanecendo, contudo, em constante expansão.[6]
Em 1959, Bertrand Russell escreveu que "Sem dúvida [...] ele foi uma das mentes mais originais do final do século XIX e certamente o maior pensador americano de todos os tempos".[7] O professor de Russell, Alfred North Whitehead, enquanto lia alguns dos manuscritos não publicados de Peirce logo após chegar a Harvard em 1924, ficou impressionado com a forma como Peirce havia antecipado seu próprio pensamento sobre a filosofia do processo.[8]Karl Popper via Peirce como "um dos maiores filósofos de todos os tempos".[9]
No entanto, as realizações de Peirce não foram imediatamente reconhecidas. Seus contemporâneos William James e Josiah Royce o admiravam, mas receberam mais atenção, à época.[10] O primeiro estudioso a dar a Peirce sua considerável atenção profissional foi o aluno de Royce, Morris Raphael Cohen, editor de uma antologia dos escritos de Peirce intitulada Chance, Love, and Logic (1923).[11]John Dewey estudou com Peirce na Johns Hopkins e, a partir de 1916, os escritos de Dewey passaram a mencionar frequentemente Peirce com deferência. Seu livro Logic: The Theory of Inquiry foi muito influenciado por Peirce.[12]
Por volta de 1943, ele finalmente obteve amplo reconhecimento nos Estados Unidos, ao ponto do Dicionário biográfico Webster classificá-lo como "o pensador mais original e o maior lógico de seu tempo".[13] Nos anos subsequentes, a tricotomia de signos de Peirce passou a ser explorada por um número crescente de profissionais para tarefas de Marketing e Design.[14]
A Charles S. Peirce Society foi fundada em 1946.[15]
Outros pensadores contemporâneos especialmente influenciados por Peirce foram John Deely e Karl-Otto Apel.[16] Deely definiu Peirce como o último dos "modernos" e "o primeiro dos pós-modernos": "Peirce está ... em uma posição análoga à posição ocupada por Agostinho como o último dos Padres das igrejas cristãs primitivas e o primeiro dos medievais".[17]
Bibliografia
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Peirce, C. S. (1993). Semiótica e Filosofia, trad. Octanny Silveira da Mota e Leonidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix.
Peirce, C. S. (1974). Charles S. Peirce. in Os Pensadores, trad. Armando Mora D’Oliveira, Sergio Pomerang Blum e Luís Henrique dos Santos. São Paulo: Abril Cultural.
Espanhol
Peirce, C. S. (1968). Escritos lógicos. Madrid: Alianza.
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↑Popper, Karl (1972), Objective Knowledge: An Evolutionary Approach, p. 212
↑See Royce, Josiah, and Kernan, W. Fergus (1916), "Charles Sanders Peirce", The Journal of Philosophy, Psychology, and Scientific Method v. 13, pp. 701–09. ArisbeEprint
↑BACHA, Maria de Lourdes. Semiótica aplicada ao marketing: a marca como signo. Anais do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração-ENANPAD, Brasília, v. 20, 2005.
↑Memorandum to the President of Charles S. Peirce Society by Ahti-Veikko Pietarinen, U. of Helsinki, March 29, 2012. Eprint.