A Sala São Paulo é uma sala de concertos onde ocorrem apresentações sinfônicas e de câmara. Faz parte do Complexo Cultural Júlio Prestes, na antiga Estação Júlio Prestes, uma histórica estação ferroviária.[1] Fica localizada na Praça Júlio Prestes, no bairro de Campos Elíseos, no centro da cidade de São Paulo.
Inaugurada no dia 9 de julho de 1999, ao som da Sinfonia n°2 de Gustav Mahler, Ressurreição,[2] foi a primeira sala de concertos do Brasil, sendo considerada uma das melhores do mundo desde a sua concepção. A estação foi completamente restaurada e remodelada pelo Governo do Estado como parte do projeto de revitalização do centro da cidade. Ao lado dela encontra-se a Estação Pinacoteca, que abriga exposições de arte.
A renovação começou em novembro de 1997, mas os primeiros passos foram dados em 1995, sob a supervisão do arquiteto Nelson Dupré. O então governador Mário Covas visualizava a Estação Júlio Prestes como um espaço ideal para apresentações sinfônicas, uma vez que faltavam ao Brasil lugares adequados para este tipo de apresentação e principalmente porque a Osesp não possuía uma sede permanente. Em 2015, o jornal britânico The Guardian classificou a Sala São Paulo como uma das dez melhores casas de concerto do mundo.[3][4] Em 1999, a Sala São Paulo foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT).[5]
História
A Estação Júlio Prestes foi construída entre 1926 e 1938 para ser a sede e ponto de partida da Estrada de Ferro Sorocabana – uma empresa criada pelos barões do café para transportar o produto até ao Porto de Santos, pois na metade do século XX o café se tornou o produto mais importante para a economia brasileira; sendo assim, o seu cultivo se expandiu rapidamente em direção ao oeste paulista.[6] O Estado adquiriu a empresa em 1905 e tornou-a Ferrovia Paulista S.A. na década de 1970.[7] Desta forma, os materiais poderiam ser trazidos de outras cidades e da Europa.[7] Em 1938, ano de conclusão do prédio onde hoje fica a Sala São Paulo, a cidade de São Paulo já convivia com a presença de automóveis, fato que levou à diminuição da utilização de bondes e trens.[1]
O edifício foi planejado no ano de 1925 por Cristiano Stockler das Neves, em uma época em que a cidade experimentava um importante desenvolvimento econômico, devido à produção de café e, consequentemente, à expansão em ritmo acelerado da sua rede ferroviária. O exato local onde hoje fica a Sala São Paulo era um jardim de inverno planejado para a primeira classe, com palmeiras imperiais.[1][8] Devido aos impactos da crise de 29, as obras acabaram sendo prolongadas até a década de 1930.[2]
No início do século XXI, os engenheiros que trabalharam na transformação do hall tiveram dificuldades em conciliar a tecnologia de hoje com a conservação histórica. O antigo trem foi substituído por um gigantesco guindaste de 150 toneladas. Esta foi a única maneira de transportar as imensas vigas a 25 metros de altura, que mais tarde se transformariam em parte da estrutura que suporta o teto ajustável ao longo do novo corredor.[7]
No ano de 1997, as principais áreas do prédio já estavam sendo utilizadas e locadas para a realização de eventos institucionais, fato que levou a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo a assumir o controle do estabelecimento e transformá-lo no que seria o Complexo Cultural Júlio Prestes, situado no centro da cidade, localizado próximo à Pinacoteca do Estado e ao Museu de Arte Sacra.[1]
A Sala São Paulo teve seu prédio tombado como patrimônio histórico pelo Condephaat,[1] Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, no dia 9 de julho de 1999, quando a Osesp apresentou a peça inaugural Sinfonia nº 2 – Ressurreição, de Gustav Mahler. Dezoito meses de obra que uniu centenas de operários, técnicos especializados, procedimentos artesanais de longa tradição e as mais inovadoras tecnologias transformaram a área central da estação em uma das mais encantadoras, modernas e completas salas de concerto no mundo. Além disso, a coexistência da sala com a estação ferroviária exigiu uma laje flutuante. Mesmo com a inauguração, em 1999, ela ainda possui um forro especial, permitindo à acústica do local uma adaptação a diversos tipo de música a serem executados. É possível, também, testemunhar o encanto do edifício em dias de concerto ou por visitas previamente monitoradas.[9]
O trabalho de recuperação do edifício acompanhou a reestruturação da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sediada atualmente no mesmo prédio da Sala São Paulo, e a solução encontrada para as intervenções realizadas nesse prédio histórico concebido de acordo com princípios específicos de um estilo e época baseou-se na intenção de estabelecer um diálogo adequado com espaço existente, valorizando os conceitos e características de uma construção anterior. Como foram 13 anos de construção, ela foi influenciada pelos representantes do Movimento Modernista, estilos neoclássico e francês.[11]
Para a reforma, Dupré tinha como desafios o isolamento e tratamento acústicos, a restauração e a nova arquitetura, fatos que levaram o arquiteto a buscar inspiração em outros auditórios e salas de concertos citadas como referências, como na América do Norte e Europa, analisando todos os detalhes que atendessem às necessidades acústicas e estruturais, tais como palco, sistema acústico, áreas de apoio, acessos e fluxos.[10]
A consultoria acústica estadunidense Artec definiu alguns padrões para a ocupação do antigo Grande Hall da Estação como sala de concertos, e sugeriu a utilização de um forro móvel que garantiria a flexibilidade acústica da Sala, e que tornaria possível a adequação da acústica ao espetáculo, característica marcante da Sala São Paulo.[10]
O arquiteto Cristiano Stockler das Neves fez o projeto em 1925, o que proporcionou aos patrocinadores a deixarem marcas, como flores de café no piso e colunas. Muitas molduras são feitas de folha de café, conhecida como Ouro Verde, nome do vagão inicial da Sorocabana – havia também o Ouro Branco, como era chamado o algodão. A preocupação com a restauração do patrimônio garante a sua preservação por meio de uma ocupação significativa, que certamente eleva o edifício à posição de marco da cidade.[12]
Em 2000, o projeto da Sala São Paulo recebeu o prêmio internacional de honra da United States Institute for Theatre Technology (USITT), como a primeira sala de concertos no Brasil.[10] A Sala São Paulo possui 22 balcões no mezanino e no primeiro andar. Eles foram colocados entre as grandes colunas e o teto ajustável, criado pela empresa estadunidense Artec (a maior especialista do mundo em salas de concerto). Sua área é de 10 000 m² e a altura máxima é de 24 metros.[10]
Teto ajustável
O teto da Sala São Paulo é ajustável e pode ficar a uma altura máxima de 25 metros acima do piso principal. Possui quinze painéis, cada um pesando 7,5 toneladas, que são suportados por vinte cabos metálicos enrolados.[13] Os painéis podem ser controlados individualmente, permitindo que o volume do hall possa ser ajustado para entre 12 mil e 28 mil m³. Isso garante que a intensidade de qualquer composição tenha o seu conceito acústico respeitado,[14] além de possibilitar a variação de seu tempo de reverberação, demora verificada entre a emissão de um som até sua inaudibilidade; assim, uma sala reverberante como a Sala São Paulo pode ser chamada de 'viva', sendo capaz de alterar sua reverberação para que se adeque ao espetáculo, e flua o som com uma excelente acústica.[1]
Os painéis podem ser ajustados independentemente ou em conjunto, através do uso de computadores, travas e sensores automáticos. Junto com o limite máximo da flexibilidade, 26 banners de veludo podem travar a oito metros de altura, de acordo com as vibrações necessárias. É uma vantagem adicional, pois esse sistema une elementos da arquitetura original do edifício com novos conceitos de arquitetura.[14]
Ao longo do teto, há uma cobertura de policarbonato com extremidades arredondadas, que respeita o conceito do projeto original do edifício, mas usa materiais mais modernos. Telhas termo-acústicas foram usadas, ao invés de cobre, e de policarbonato ao invés de vidro.[14] O teto é vazado e está ligado com lustres napoleônicos – o projeto, inclusive, foi rejeitado na época da construção, pois o som iria entrar ou escapar. Esse projeto possibilita a apresentação de qualquer tipo de concerto, pautada pela alteração da sala de concertos e gerada pela flexibilidade do forro com painéis moveis; além disso, os elementos de composição foram concebidos para reflexão sonora multidirecional, atendendo a recomendações acústicas.[15][14]
A qualidade acústica da Sala não se dá apenas pelo forro móvel, porém, este ocupa um papel importantíssimo junto com outros aspectos da composição do lugar, como a disposição dos balcões, o desenho das frentes dos balcões, o posicionamento do palco, a inexistência de carpetes ou cortinas, a espessura da madeira do palco, o desenho das poltronas, paredes pesadas e as irregularidades da arquitetura eclética do edifício existente que compõem a Sala São Paulo.[1]
O forro móvel tem como função atender às demandas individuais de cada de espetáculo, adequando-se aos seus respectivos repertórios sinfônicos.[1] O deslocamento deste forro totalmente móvel garante a flexibilidade do volume da Sala, criando, assim, um 'espaço acústico acoplado', localizado entre o forro e o piso técnico – onde ficam os equipamentos para o acionamento do forro. O som, ao atingir ambos (o forro móvel e o espaço acoplado), é capaz de criar algumas alterações na resposta acústica da Sala.[14]
Programação
Aos domingos (e em alguns sábados), às 11h da manhã, a Sala São Paulo realiza os Matinais, concertos gratuitos com a Osesp ou orquestras e grupos artísticos convidados. A distribuição de ingressos ocorre na segunda-feira anterior, pelo site oficial, e também na bilheteria, uma hora antes do espetáculo.
Além disso, por ser um edifício de grande importância histórica e cultural para a cidade de São Paulo, é possível realizar visitas monitoradas pelo local, mediante agendamento pelo site.