A Revolta de Aragarças, conhecida localmente como Revoltoso do Veloso,[1] foi uma tentativa de golpe militar contra o governo de Juscelino Kubitschek (JK) realizada em 2 de dezembro a 4 de dezembro de 1959. A tentativa de golpe tinha como o objetivo derrubar o governo JK e instaurar uma ditadura militar no país.
Feita principalmente por oficiais da Aeronáutica e Exército ligados a outra revolta contra o governo JK, conhecida como Revolta de Jacareacanga, essa intentona realizou o primeiro sequestro de avião na história do Brasil. Os golpistas, ao todo 18 pessoas, previam que receberiam apoio das forças armadas e de políticos ligados a União Democrática Nacional (UDN), o partido de oposição, porém isso não ocorreu e ela foi sufocada em 36 horas. Os revoltosos fugiram para os países vizinhos e ninguém morreu.
O estopim foi o fato de Jânio Quadros recusar-se a concorrer ao cargo de presidente como candidato apoiado pelos partidos de oposição, fazendo com que a chapa PSD-PTB se perpetuasse no poder. A aliança era herdeira do getulismo e do trabalhismo e estava no poder desde 1946, porém as forças armadas ansiavam que o país fosse governado pelo partido de oposição, a UDN.[2][3]
Além disso, corriam boatos de que JK estava negociando uma emenda constitucional que permitiria sua reeleição e que o governador do Rio Grande do SulLeonel Brizola estava orquestrando um golpe contra Jânio que instauraria uma ditadura trabalhista de caráter comunista.[2] Entre as acusações, estava a de que Brizola ameaçava levar para o "paredão os que tripudiavam sobre a miséria do povo".[3]
Os C-47 e o Beechcraft pousaram em Aragarças, onde esperaram pela chegada do Constellation. O objetivo era bombardear os palácios das Laranjeiras e do Catete, no Rio, e ocupar as bases de Santarém, Aragarças, Xingu, Cachimbo e Jacareacanga.[5] O local de pouso foi escolhido com o objetivo de difundir os ideais do grupo, por ser um centro de oficiais geograficamente importante e caminho de rotas aéreas. Os revoltosos esperavam que os militares e políticos ligados a UDN se juntassem ao golpe, e que JK declarasse estado de sítio, impedindo assim a eleição presidencial de 1960.[2][3] Além disso, Veloso conhecia a cidade e era amigo íntimo de muitos dos moradores. Os reféns foram levados ao Grande Hotel, e os militares espalharam galhos e tonéis de combustível na pista de pouso da cidade, para impedir a chegada de mais aviões. A cidade foi sitiada e as comunicações foram cortadas.[1]
Reações
No dia seguinte, o jornal Repórter Esso chegou a notificar que o avião havia caído. O senador Victorino Freire (PSD-MT) subiu à tribuna do Palácio Monroe para expor a situação, mas foi interrompido pelos senadores Otávio Mangabeira (UDN-BA) e Afonso Arinos (UDN-RJ) por terem recebido um manifesto do Comando Revolucionário, que anunciou seu sequestro. O manifesto chamava o Poder Executivo como corrupto, o Legislativo como demagógico e o Judiciário como omisso. Além disso, afirmava que o Brasil estava prestes a cair nas mãos de comunistas infiltrados no governo.[2]
Apesar disso, alguns políticos ligados a UDN apoiaram o golpe. Otávio Mangabeira comparou os revoltosos com Tiradentes, Deodoro da Fonseca e Getúlio Vargas. Afonso Arinos comparou o ocorrido com a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana. Entre outros que deram apoio, está Daniel Krieger (UDN-RS).[2] Burnier esperava que ao menos 300 homens se juntassem ao golpe, porém apenas 34 pessoas aderiram, que foram reduzidas a 15 ao fim da revolta. Nenhuma guarnição se juntou aos golpistas.[5]
Contra-ataque
No dia 4, o General Lott enviou paraquedistas para Aragaças, que metralharam a cauda de um dos aviões C-47, que estava retornando de um voo de inspeção no Mato Grosso, e os tonéis de combustível foram bombardeados. Os rebeldes fugiram com os outros aviões para a Argentina, Paraguai e Bolívia, e os reféns foram liberados em Buenos Aires. A revolta foi sufocada em 36 horas e ninguém foi morto. Os moradores relatam que a fumaça demorou semanas para se dissipar, e havia forte cheiro de carne queimada, mesmo que não houvesse vítimas fatais.[1][2]
Consequências
Diferente do que havia ocorrido na Revolta de Jacareacanga, JK não anistiou os golpistas.[2] Foi aberto um inquérito para investigar a possível participação do marechal Castelo Branco, futuro presidente do Brasil, como verdadeiro articulador dos golpistas, porém ele foi rapidamente arquivado.[5] JK tentou extraditar os revoltosos, porém falhou pela falta de acordos com os países envolvidos.[6] Também tentou processá-los criminalmente e ameaçou destituí-los das forças armadas caso não voltassem. Houve a discussão jurídica se o caso tratava-se de um motim ou uma revolta, que implicaria em uma pena mais branda.[7] Os golpistas retornaram ao Brasil durante o governo Jânio Quadros.[4]
De acordo com o jornalista Wagner William, JK previu que o país se tornaria ingovernável caso a UDN não chegasse ao poder, e lançou general Lott como canditato sabendo que ele perderia. Ele previa que a UDN não faria um bom governo por causa da crise econômica e se desgastaria. Jânio Quadros "renuncia à renúncia" e ganhou a eleição presidencial, porém renunciou do cargo em agosto de 1961; assim, após a tumultuada posse do vice João Goulart, no mês seguinte, os golpistas despertaram novamente e a resposta deles viria em 1º de abril de 1964 com a Ditadura Militar.[2]