Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico. Cruzava fogos com o Forte das Cavalas, de que distava aproximadamente 560 metros a este, na defesa da ponta este da baía da Salga, e de parte da entrada da baía das Mós.
"Não havia naquele tempo [Crise de sucessão de 1580] em toda a costa da ilha Terceira alguma fortaleza, excepto aquela de S. Sebastião, posto que em todas as cortinas do sul se tivessem feito alguns redutos e estâncias, nos lugares mais susceptíveis de desembarque inimigo, conforme a indicação e plano do engenheiro Tomás Benedito, que nesta diligência andou desde o ano de 1567, depois que, no antecedente de 1566, os franceses, comandados pelo terrível pirata Caldeira, barbaramente haviam saqueado a ilha da Madeira, e intentado fazer o mesmo nesta ilha, donde parece que foram repelidos à força das nossas armas." [1]
A seu respeito, DRUMMOND registou: "(...) e um pouco adiante [do Forte das Cavalas] fez-se o forte das Caninhas."[1]
De acordo com a mesma fonte, foi reconstruído em 1653 às expensas da Câmara de Angra, então empenhada na reparação da maior parte da fortificação da costa, danificadas por uma grande ressaca do mar ocorrida naquele ano, quando cerca de 50 navios piratas rondavam os mares dos Açores,[2] o que parece ser confirmado pela sua tipologia e características.[3]
No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714) encontra-se referido como "O Forte das Caninas." na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710".[4]
"8° - Forte das Caninas. Está retificado de novo, tem cinco canhoneiras e quatro peças com os seus reparos, boa; precisa mais huma com o seu reparo e para se guarnecer precisa cinco artilheiros e vinte auxiliares."[5]
Encontra-se referido como "7. Forte das Caninas" no relatório "Revista aos fortes que defendem a costa da ilha Terceira", do Ajudante de Ordens Manoel Correa Branco (1776), que apenas assinala: "Tambem está redificado de novo, náo perciza de obra algua."[6]
A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 informa que se encontra incapaz desde muitos anos.[7]
A ação da erosão marinha fez com que, posteriormente, a muralha viesse a ruir em quase toda a sua extensão.
No contexto da Segunda Guerra Mundial, no local foi erguido um posto de vigilância militar, tendo sido retirada do remanescente das antigas muralhas a pedra necessária à construção de uma pequena edificação para a sua guarnição. Em nossos dias ainda podia ser vista uma das paredes dessa edificação, da estrada, à esquerda de quem vai do Farol das Contendas para a baía das Mós.[9]
Com capacidade para cinco peças de artilharia em canhoneiras, possuía dois torreões para fuzilaria, um a Leste e outro a Oeste. Em seu interior erguia-se o paiol, abobadado.
No exterior, pelo lado de terra, à esquerda, erguia-se a casa da guarnição.
↑Em que pese a informação do autor, na ata da reunião da Câmara de Angra, de 29 de maio de 1653 que ele cita, não se encontra referido este forte (FARIA, 1997).
↑A sua cantaria, no revestimento das muralhas, era de pedra basáltica, enquanto os fortes da ilha, no século XVI, eram revestidos de tufo vulcânico, material mais macio, que minimizava os estilhaços causados pelo impacto dos projéteis (FARIA, 1997).
Anónimo. "Colecção de todos os fortes da jurisdição da Villa da Praia e da jurisdição da cidade na Ilha Terceira, com a indicação da importância da despesa das obras necessárias em cada um deles (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
Anónimo. "Revista aos Fortes que Defendem a Costa da Ilha Terceira – 1776 (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que se achão ao prezente inteiramente abandonados, e que nenhuma utilidade tem para a defeza do Pais, com declaração d'aquelles que se podem desde ja desprezar." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 267-271.
CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I p. 300-306) in Arquivo dos Açores, vol. IV (ed. fac-similada de 1882). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 178-181.
DRUMMOND, Francisco Ferreira. Anais da Ilha Terceira (fac-simil. da ed. de 1859). Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1981.
FARIA, Manuel Augusto. "Ilha Terceira – Fortaleza do Atlântico: Forte das Caninas". in Diário Insular, 7-8 de junho de 1997.
JÚDICE, João António. "Revista dos Fortes da Terceira". in Arquivo dos Açores, vol. V (ed. fac-similada de 1883). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 359-363.
MARTINS, José Salgado, "Património Edificado da Ilha Terceira: o Passado e o Presente". Separata da revista Atlântida, vol. LII, 2007. p. 32.
MOTA, Valdemar. "Fortificação da Ilha Terceira". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Arthur Teodoro de (coord.). "Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.