A ilha de Ratón Grande é maior das duas ilhas "Ratones" assim denominadas, afirma-se, pelo explorador espanhol D. Álvar Núñez Cabeza de Vaca (1492-15??), que nomeado governador do rio da Prata, aportou em 29 de março de 1541 à baía norte da ilha de Santa Catarina onde permaneceu alguns meses. Na sua obra "Comentários", entretanto, a denominação "ratones" é aplicada às pedras existentes nas águas do porto da ilha de Santiago de Cabo Verde, que "roíam" as correntes das âncoras dos navios, e onde a sua esquadra fez escala antes de alcançar a ilha de Santa Catarina.
Projetada e construída pelo engenheiro militar, Brigadeiro José da Silva Pais, primeiro governador da Capitania de Santa Catarina (1739-1745), as suas obras tiveram início logo após as da Fortaleza da Ponta Grossa (1740), e, como ela, foi concluída cerca de quatro anos após (BOITEUX, 1912:208 apud CABRAL, 1972:12). Guarnecida, foi artilhada com treze peças, distribuídas em duas baterias à barbeta.
Em 1760, por determinação do Marquês de Pombal (1750-1777), o governador da capitania do Rio de Janeiro, Capitão-general Gomes Freire de Andrade (1733-1763), enviou o Engenheiro Militar Tenente-coronel José Custódio de Sá e Faria, do Real Corpo de Engenheiros, para fazer um levantamento das defesas da ilha de Santa Catarina, erguidas pelo Brigadeiro José da Silva Pais. Como nas demais fortificações procedeu-lhe a pequenos reparos e reforço na artilharia. Contava, nessa ocasião, com doze peças de ferro (cinco de calibre 24, três de 18, três de 12 e uma de 4), e duas de bronze, de calibre 12.
No século XVIII o seu armamento montava a doze peças de ferro (cinco de calibre 24 libras, três de 18, três de 12 e uma de 4), e duas de bronze, de calibre 12 (CABRAL, 1972).
Desarmada e desativada no decorrer do século XIX, no contexto da Questão Christie (1862-1865), o "Relatório de Inspeção de 1863" apontava-lhe doze peças em mau estado, assim como a fortificação (SOUZA, 1885:124). Nesta fase, as suas instalações foram utilizadas como enfermaria para o isolamento de pacientes com doenças infecto-contagiosas, como cólera e hanseníase.
À época da Primeira República, durante a Revolução Federalista (1893), à qual se juntaram os integrantes da Revolta da Armada (1893-1894), foi ocupada pelos rebeldes, que ali instalam dois canhões raiados, um de calibre 70 e outro, Krupp, de calibre 8 (CALDAS, 1992). Um canhão Whitworth, de alma sextavada, permanece ainda hoje "protegendo" o porto da Fortaleza. Dominada a Revolta pelas forças legalistas, as suas instalações passaram para a jurisdição do Ministério da Marinha (1894). A partir do ano seguinte, por iniciativa de Carl Hoepcke, voltou a ser utilizada como lazareto, função que perdurou até ao início do século XX. Posteriormente, funcionou ainda como depósito de carvão da Marinha do Brasil.
GARRIDO (1940) informa que se encontrava relativamente bem conservada em 1901, mas que já em 1920 se encontrava desarmada e começando a entrar em ruínas (op. cit., p. 142).
Em 1938, quando foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a fortaleza encontrava-se já completamente abandonada e em ruínas. Apesar de trabalhos de desmatamento, limpeza e consolidação das estruturas, efetuados nas décadas de 1950, 1960 e 1980, permaneceu em ruínas. A partir de Setembro de 1982, uma grande campanha pública, que contou com a participação de empresários, universitários, professores, entre outros voluntários, levou dezenas de pessoas à ilha Ratones Grande, as quais, todos os finais de semana, durante um ano, realizaram a limpeza das instalações da fortaleza e seu entorno, numa ação que se tornou decisiva para a sua conservação. Essa campanha culminou entre os anos de 1990 e 1991, com o início de um novo projeto de restauração, em cooperação com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A restauração da Fortaleza de Ratones fez parte do "Projeto Fortalezas da Ilha de Santa Catarina - 250 anos na História Brasileira", uma iniciativa liderada pelo IPHAN e pela UFSC, que desde 1991 gerencia a fortificação.
Como atrações regulares destacam-se a exposiçao de fotografias "Fortaleza de Santo Antônio - Retrospectiva" no Quartel da Tropa, a trilha ecológica de Ratones Grande, destinada à prática de turismo ecológico e à educação ambiental, permitindo a integração dos visitantes com ambientes marinhos e de Floresta Atlântica, como também à fauna associada a esses ambientes, uma Central Fotovoltaica (painéis de energia solar) instalada em caráter educacional, e o projeto de criação de mexilhões ("fazenda do mar").
As visitas podem ser efetuadas diariamente, pelos serviços locais de escunas que fazem passeios marítimos na região, partindo de diferentes pontos da cidade: próximo à ponte Hercílio Luz, trapiche da Beira Mar Norte e da praia de Canasvieiras. Ainda é possível chegar ao local pela praia do Sambaqui, a quinze quilômetros do centro de Florianópolis, onde há barqueiros que fazem a travessia marítima de aproximadamente três quilômetros.
Características
Entre as estruturas erguidas por Silva Pais, esta talvez seja a que menos sofreu alterações posteriores. Protegida na retaguarda pela encosta rochosa da ilha, onde se preserva um trecho remanescente de Mata Atlântica, a fortificação apresenta planta de formato poligonal orgânico, em forma de "L", com cerca de 800 metros quadrados de área construída.
Alinhados pelo lado maior no terrapleno encontram-se os edifícios dos Quartéis de Oficiais e de Tropa, a Casa da Palamenta, o Paiol de Farinha, o Armazém da Pólvora (com dois pavimentos) e o Calabouço, guarnecidos por uma muralha de pedra que se desenvolve ao norte, em formato curvo, seguindo retilineamente para noroeste. Com exceção do Armazém da Pólvora, em posição elevada no conjunto, os edifícios localizam-se todos em um único platô, guarnecido por uma muralha de pedra que se desenvolve ao norte, em formato curvo, seguindo retilíneamente para noroeste.
O material de construção empregado foi a rocha local, de tipo riólito, à exceção da cantaria presente no portão de armas (em granito rosa), na fonte de água e na escadaria de acesso ao armazém de pólvora. Todas as alvenarias, nas muralhas e nas edificações, foram rebocadas e caiadas.
A partir da portada, com verga curva encimada por um frontão triangular, uma rampa em curva dá acesso ao interior da fortaleza. Esta portada era acedida originalmente por uma ponte levadiça sobre um fosso de três metros de profundidade.
São também significativas a fonte de água e um interessante sistema de aqueduto - que conduzia as águas pluviais captadas - para o abastecimento da guarnição.
Bibliografia
BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368 p.
CABRAL, Oswaldo R. As Defesas da Ilha de Santa Catarina no Brasil-Colônia. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972. 137 p. il.
CORREIA, João Rosado (coord.). Fortificações Portuguesas no Brasil. Monsaraz: Centro de Estudos Patrimoniais Lusófonos da Fundação Convento da Orada, 1998.
GARRIDO, Carlos Miguez. Fortificações do Brasil. Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
SOUSA, Augusto Fausto de. Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.
TONERA, Roberto. Fortalezas Multimídia: Anhatomirim e mais centenas de fortificações no Brasil e no mundo. Florianópolis: Projeto Fortalezas Multimídia/Editora da UFSC, 2001 (CD-ROM).