No sentido horário a partir do canto superior esquerdo: Veículo civil após ser alvejado com armas; Forças da UNPROFOR na cidade; Prédio governamental atingido por bombardeio de tanques; Ataque aéreo dos EUA em posições VRS; Visão geral da cidade em 1996; Soldados VRS antes de uma troca de prisioneiros.
Após a Bósnia e Herzegovina fazerem sua declaração de independência da República Socialista Federativa da Iugoslávia, os Sérvios Bósnios, cujo objetivo estratégico era criar um novo Estado sérvio da República Srpska, o qual incluiria parte do território da Bósnia e Herzegovina, cercaram Sarajevo com uma força de cerca de 18 000[7] homens. Baseados nas colinas circundantes, assaltaram a cidade com armamento pesado, que incluía artilharia, morteiros, tanques, canhões antiaéreos, metralhadoras pesadas, lançadores múltiplos de foguetes, mísseis lançados de aeronaves e rifles sniper.[7] Em 2 de maio de 1992, os sérvios bloquearam a cidade. As forças de defesa do governo bósnio, que estavam muito mal equipadas, foram incapazes de romper o cerco.
Estima-se que mais de 12 000 pessoas foram mortas e 50 000 feridas durante o cerco, sendo 85% das vítimas civis. Por causa dessas mortes e da migração forçada, em 1995, a população da cidade caiu para 334 663 pessoas (64% da população de antes da guerra).[8]
Em janeiro de 2003, a Câmara de Julgamento do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia condenou o primeiro comandante do Corpo de Sarajevo Romanija, Stanislav Galić, pelas campanhas de terror, que incluíram bombardeios e franco-atiradores, contra Sarajevo, principalmente o massacre do mercado Markale. O General Galić foi condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade durante o cerco. Em 2007, o general sérvio Dragomir Milosevic, que havia substituído Galić no cargo de comandante do Corpo de Sarajevo Romanija, foi considerado culpado dos mesmos crimes e condenado a 33 anos de prisão. A Câmara de Primeira Instância concluiu que o mercado Markale foi atingido em 28 de Agosto de 1995 por um morteiro de 120 mm disparado a partir de posições do Corpo de Sarajevo Romanija.
Desde a sua criação após a Segunda Guerra Mundial, o governo da República Socialista Federativa da Iugoslávia manteve uma estreita vigilância sobre o sentimento nacionalista entre os vários grupos étnicos e religiosos que compunham o país, pois isso poderia ter levado ao caos e à dissolução do Estado. Quando que Josip Broz Tito morreu em 1980 — antigo líder da Iugoslávia — essa política de contenção sofreu uma reversão drástica. O nacionalismo experimentou um renascimento na década seguinte, após retaliações em Kosovo.[9] Enquanto o objetivo dos sérvios nacionalistas era centralização de uma Iugoslávia dominada pelos sérvios, outras nacionalidades na Iugoslávia aspiravam à federalização e à descentralização do estado.[10][11]
Em 18 de novembro de 1990, as primeiras eleições parlamentares multipartidárias foram realizadas na Bósnia e Herzegovina — com um segundo turno em 2 de dezembro.[12][13] Eles resultaram em uma assembleia nacional dominada por três partidos de base étnica, que formaram uma coalizão solta para expulsar os comunistas do poder.[14] As subsequentes declarações de independência da Croácia e Eslovênia e a guerra que se seguiu colocaram a Bósnia e Herzegovina e seus três povos constituintes em uma posição incômoda. Uma divisão significativa logo se desenvolveu sobre a questão de ficar com a federação iugoslava — predominantemente favorecida entre os sérvios; ou buscar a independência — predominantemente favorecida entre bósnios e croatas.[15] Ao longo de 1990, o Plano RAM foi desenvolvido pela Administração de Segurança do Estado (SDB ou SDS) e um grupo de oficiais sérvios selecionados do Exército Popular Iugoslavo (JNA) com o propósito de organizar sérvios fora da Sérvia, consolidando o controle do recém-criado Partido Democrático Sérvio (SDP), e o pré-posicionamento de armas e munições.[nota 1][17][18] O plano pretendia preparar a estrutura para uma terceira Iugoslávia na qual todos os sérvios com seus territórios viveriam de forma unificada no mesmo estado. Ciente desta intenção, o governo da Bósnia aprovou o "Memorando sobre Soberania" através de uma ação para reabrir o Parlamento — após Momčilo Krajišnik tê-lo fechado e os políticos sérvios terem saído.[19] Com isso, o governo da Bósnia e Herzegovina conseguiu declarar independência da Iugoslávia em março de 1992, seguido pelo estabelecimento da Assembleia Nacional da Sérvia pelos sérvios da Bósnia.[nota 2][21]
Barbárie
Na segunda metade de 1992 e primeira metade de 1993, ocorreu o auge do cerco de Sarajevo, com atrocidades acometidas durante combates intensos. Forças sérvias fora da cidade bombardearam continuamente os defensores do governo. Dentro da cidade, os sérvios controlavam a maioria das principais posições militares e o fornecimento de armas. Com atiradores se posicionando na cidade, cartazes escrito Cuidado, Sniper!,[nota 3] tornaram-se comuns em zonas de conflitos, com algumas ruas conhecidas como "becos de atiradores".[23] Os assassinatos de Admira Ismić e Boško Brkić — casal bósnio-sérvio que tentaram cruzar as linhas — por franco-atiradores, tornaram-se símbolo de sofrimento na cidade e tema do documentário Romeo and Juliet in Sarajevo (1994), não se sabendo ao certo a origem do(s) atirador(es).[24][25]
Nas áreas controladas pelos bosníacos em Sarajevo, os serviços públicos entraram em colapso e a taxa de criminalidade disparou. Durante o primeiro ano do cerco, a 10.ª Divisão de Montanha da ARBiH, liderada pelo comandante Mušan Topalović, engajou-se em uma campanha de execuções em massa de civis sérvios que ainda viviam em suas áreas controladas. Muitas das vítimas foram transportadas para o fosso de Kazani, onde foram executadas e enterradas em uma vala comum.[26]
Notas
↑Os membros do parlamento sérvio, consistindo principalmente de membros do SDP, abandonaram o parlamento central em Sarajevo e formaram a Assembleia do Povo Sérvio da Bósnia e Herzegovina em 24 de outubro de 1991, que marcou o fim das três coalizões étnicas que governaram após as eleições de 1990. Posteriormente, em janeiro de 1992, foi proclamada a Republika Srpska.[16]
↑A declaração da soberania da Bósnia foi seguida de um referendo pela independência que durou de fevereiro a março de 1992 — boicotado pela grande maioria dos sérvios da Bósnia. A participação no referendo foi de 63,4% com 99,7% dos eleitores optando pela independência.[20]