O Castelo de São João do Arade, igualmente conhecido como Castelo de Ferragudo, Forte de São João do Arade, Forte de São João Baptista ou Castelo do Arade, é um monumento militar, situado junto à vila de Ferragudo, no município de Lagoa, na região do Algarve, em Portugal. Foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1974.[1] Serviu originalmente para defender a barra do Rio Arade, e controlar o movimento das embarcações.[2]
Descrição
Localização e composição
A fortaleza está situada no alto de um outeiro[3] junto à foz do Rio Arade,[2] sendo utilizada para defender o estuário daquele rio, em conjunto com o Forte de Santa Catarina.[4]
A sua estrutura apresenta uma forma sensivelmente trapezoidal, destacando-se pela sua grande verticalidade, de forma a garantir o controlo e a defesa de uma área mais ampla, possuindo uma silhueta que seria visível desde grandes distâncias.[2] É considerado uma fortificação abaluartada,[5] sendo composta por uma torre de menagem com vários corpos anexos, de alturas diferentes,[3] formando patamares que provavelmente serviriam para acolher baterias.[2] Uma dependências está virada para o oceano, possuindo com guarita e várias janelas de perfil quebrado.[3]
Foi alvo de obras para a conversão numa residência de férias,[2] tendo ganho uma aparência semelhante à de um castelo romântico.[4]
A zona onde se ergue o castelo foi habitada pelo menos desde a época romana, devido à presença de tanques de salga nas suas proximidades.[6] No século XV, foi construída uma torre de vigia no local aproximado do castelo.[4]
Nos princípios do século XVII, quando o território português estava sob o domínio Filipino, o governo iniciou um programa para a construção de várias fortalezas ao longo da costa, de forma a defendê-la dos ataques dos piratas e corsários.[2] Neste sentido, foi planeada a instalação de uma fortaleza na foz do Rio Arade, embora inicialmente não se tenha chegado a acordo sobre em que lado da foz é que deveria ser construída.[2] O engenheiro militar italiano Alexandre Massai argumentou a favor da margem esquerda, onde se poderia fazer uma melhor defesa de Vila Nova de Portimão, pelo que foi deste lado que foi construída a fortaleza.[2][7]
Assim, foi só após a restauração da independência, em 1640, que se começou a planear a construção do castelo na margem direita, como forma de proteger o litoral contra ataques espanhóis.[2] As obras decorreram entre 1643 e 1644, no local da antiga torre de vigia,[5] conhecida como Castelo de Ferragudo, que já não era considerada eficaz do ponto de vista estratégico.[3] Logo em 2 de Maio de 1646, O rei D. João IV nomeou Francisco da Costa Barros como capitão do castelo, o que prova que seria já de grande importância, como parte das defesas costeiras do Barlavento algarvio.[2] Com efeito, servia não só para proteger mas também para controlar a foz do Arade, sendo ponto de registo aduaneiro para os navios que navegavam pelo rio até à cidade de Silves.[2] Em 1654, o castelo foi alvo de um processo de reequipamento.[5]
Apesar da sua importância, o edifício foi sendo progressivamente abandonado,[2] estando já arruinado em 1669.[5] No entanto, o castelo ainda foi alvo de obras de ampliação no século XVIII,[4] tendo sido pouco atingido pelo Sismo de 1755, devido ao terreno em que se implanta, em rocha maciça.[3]
Século XIX
Em 1821 ainda estavam a funcionar duas baterias na parte mais elevada do castelo, ambas com canhoneiras.[2] Em 1861 estava novamente em ruínas,[5] e em 1892 foi arrendada ao escritor e diplomata Joaquim José Coelho de Carvalho,[5] cuja família comprou o edifício em 1896.[5]
Século XX
Joaquim de Carvalho fez obras nos princípios do século XX, que lhe deram uma aparência de castelo romântico.[4] Algum tempo depois, passou a ser propriedade do político Francisco Vieira Machado.[5]
O monumento não foi alvo de obras muito profundas no século XX, pelo que se manteve, de forma geral, na mesma forma desde os finais de oitocentos.[2] As alterações que foram feitas no seu interior serviram principalmente para a transformar numa residência de férias, embora grande parte do edifício tenha permanecido num estado de abandono.[2] Em 1976, a Junta de Freguesia de Ferragudo pediu que lhe fosse cedido o forte, de forma a proceder à instalação de um centro cultural no seu interior.[3]
Em 1998 foi adquirido pelo empresário Vasco Pereira Coutinho aos herdeiros de Francisco Vieira Machado, mantendo-se na sua posse até a atualidade.
Século XXI
Em Junho de 2010, a princesa Letícia da Espanha e as suas duas filhas estiveram no Castelo de São João de Arade a convite do proprietário.[8]
↑ abPORTUGAL. Decreto n.º 735/74, de 21 de Dezembro. Ministério da Edução e Cultura - Secretaria de Estado do Ensino Superior e da Investigação Científica - Direcção Geral dos Assuntos Culturais. Publicado no Diário do Governo n.º 297, Série I, de 21 de Dezembro de 1974.
COUTINHO, Valdemar (1997). Castelos, fortalezas e torres da região do Algarve. Faro: [s.n.]
Leitura recomendada
ALMEIDA, João de (1947). Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses Distritos de Portalegre, Évora, Beja e Faro. Col: Ao Serviço do Império. Volume 3. Lisboa: (Edição de Autor)
COUTINHO, Valdemar (1999). As fortalezas da costa algarvia durante o período das economias-mundo centradas em Amsterdão e Londres. O Algarve da Antiguidade aos nossos dias. Lisboa: Algarve em Foco Editora. 200 páginas
GOMES, Mário Varela; CARDOSO, João Luis Serrão da C.; ALVES, Francisco José Soares (1995). Levantamento arqueológico do Algarve: Concelho de Lagoa. Lagoa: Câmara Municipal de Lagoa !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
GUEDES, L. da C. (1988). «Aspectos do reino do Algarve nos séculos XVI e XVII. A "Descrição" de Alexandre Massai (1621)». Arquivo Histórico Militar. Lisboa. p. 269
GUERREIRO, M. V.; MAGALHÃES, J. R. (1983). «Duas descrições do Algarve do século XVI». Cadernos da Revista de História Económica e Social (3). Lisboa. p. 182 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
LOPES, João Baptista da Silva (1841). Corografia ou memoria economica, estadistica, e topografica do reino do Algarve. Lisboa: [s.n.]
MAGALHÃES, Natércia (2008). Algarve: Castelos, Cercas e Fortalezas. Faro: Letras Várias, Edições e Arte. 301 páginas. ISBN978-989-95974-0-2