A Volta a Portugal, também conhecida como Volta a Portugal em Bicicleta, é uma corrida de longa distância, realizada por etapas, em Portugal. A 1.ª edição realizou-se em 1927 e é considerada a maior prova do ciclismo português, seguida pela Volta ao Algarve. É uma das competições por etapas mais antigas do mundo.[1]
História
A Volta foi organizada por uma parceria entre os jornais Diário de Notícias e Os Sports que se inspiram no Tour de France, inventado pelo jornal L’Auto em 1903. A Volta aparece a seguir ao Giro d'Italia organizado pela La Gazeta dello Sport em Maio de 1909, e antes da Vuelta a España realizada pelo Informaciones em 1935. Tanto a Volta a Portugal como o Tour de France são corridas de bicicletas que se distinguem de todas as outras pela articulação que os primeiros traçados estabelecem com a linha da fronteira territorial dos respectivos países, seguindo os seus contornos durante algumas décadas. A competição iniciou-se a 26 de abril de 1927 e percorreu o país durante 20 dias, num percurso de 2 000 km repartidos por 18 etapas terminando com uma recepção em apoteose pela população em Lisboa. António Augusto Carvalho sagrou-se o primeiro vencedor naquela que viria a ser chamada de Prova Rainha do ciclismo português.
A primeira Volta de 1927
A criação da Volta a Portugal em bicicleta deve-se a Raul Oliveira do jornal Os Sports.[4] O jornalista fez parte da comitiva do Tour de 1919 e organizou a primeira Volta a Lisboa em 1924, quando ainda trabalhava no Diário de Lisboa. Para organizar a primeira Volta, o Diário de Notícias contava já com a experiência da realização de dois eventos: o Grande e Popular Concurso Riquezas de Portugal[5] e o Circuito Hípico de Portugal,[6] ambos levados a cabo em 1925.
A Volta a Portugal a cavalo serviu de teste à aceitação popular de um grande evento mediático como foi a disputa entre um militar, que usou três montadas, e um civil, José Tanganho, que ganha a prova usando para o efeito unicamente o seu próprio cavalo[7].
A Volta é criada em 1927, tem o seu Regulamento publicado no jornal Os Sports de 4 de Fevereiro de 1927 e o primeiro itinerário realiza um desenho paralelo à linha da fronteira do continente português.
O anúncio da realização da Volta a Portugal provoca nos jornais concorrentes, o Sporting e O Sport de Lisboa, uma reacção de crítica que se estende à UVP por ter dado apoio oficial à realização da prova.[8] A disputa e rivalidade entre os jornais chega a tal ponto que, em 1927, se assiste não a uma volta a Portugal mas a duas voltas, uma realizada em abril pelos jornais Os Sports e pelo Diário de Notícias com o apoio da estrutura federativa e outra, logo a seguir, em maio pelo jornal Sporting do Porto.
A realização da primeira Volta a Portugal foi um banco de ensaios em termos económicos, mas os encargos terão sido de tal ordem que, não obstante a popularidade alcançada, os empreendedores só conseguiram repetir o evento quatro anos mais tarde, em 1931.
Com a Guerra Civil de Espanha a Volta não se realiza em 1936–37 e, devido à II Guerra Mundial, interrompe de novo entre 1942–45. Em 1953–54 a Volta não se faz por falta de organizador e em 1975 não se realiza devido à revolução vivida após o 25 de Abril de 1974. A Volta, desde que criada, é o maior evento de ciclismo de Portugal.
Os primeiros anos
Nos primeiros anos a fronteira foi a grande referência das Voltas das primeiras décadas da Volta[9]. As primeiras voltas procuraram unir todos os locais e, neste esforço, as cidades do interior situadas nesses limites são praticamente todas contempladas pelo desenho da Volta.
Entre 1955 e 1965, o desenho da Volta é assimétrico e passa duas vezes pelo litoral entre Lisboa e Porto. A crescente popularidade do ciclismo e o aparecimento de novas pistas como a de Alpiarça, a de Loulé e a de Sangalhos marcam anos de prosperidade para os clubes de ciclismo, maioritariamente situados no litoral a Norte de Lisboa. Os itinerários contêm etapas em circuito feitas em torno destas vilas que acabam em festivais de pista.
A partir dos anos 1960 a Volta têm de incluir, em simultâneo, lugares de prática do ciclismo, onde estão os velódromos e as pistas nas quais se realizam os festivais que financiam a prova, e lugares em que as etapas terminem no cimo da montanha para garantir a incerteza do resultado e manter o interesse mediático[13]. Entre 1966 e 1973, a Volta deixa a referência da fronteira e o desenho passa a ter grandes diagonais que passam pelo interior do país, mantendo cidades como Lisboa e Porto nos seus trajectos.
A etapa das Penhas da Saúde entra para o percurso em 1968, a da Torre em 1971 e, por último, a da Srª da Graça em 1978. [14].
Após o 25 de Abril a Volta afasta-se dos grandes centros urbanos a Volta e, pela primeira vez, as cidades de Lisboa e Porto ficam fora do circuito. Durante as duas décadas seguintes, já com a organização do Jornal de Notícias a Volta investe mais no Norte do país, com seis Voltas a evitar a travessia do Alentejo mas contemplando a região de Trás-os-Montes.
Últimas décadas
Nos anos 80, a Volta foi perdendo projecção internacional, tendo sido ultrapassada pela Vuelta a España (que passou a realizar-se após a Volta a Portugal) e foi reduzida para duas semanas. Actualmente tem apenas 10 etapas devido à classificação atribuída pela União Ciclística Internacional. Com a inclusão da Volta no quadro da competição internacional da UCI, o evento tem agora de obedecer a um Regulamento que, em primeiro lugar, obriga a um dia de descanso por cada dez dias de prova o que condiciona a extensão do itinerário. Entre 1940 e 1980 a competição durava 3 semanas, salvo excepção de alguns anos na década de 70, e actualmente dura dez dias.
A organização da Volta é economicamente dependente da capacidade financeira dos municípios que compram as partidas ou as chegadas das etapas e, por isso, as etapas são elaboradas de modo independente umas das outras. Nos primeiros anos no lugar onde acabava uma começava outra no dia seguinte.
Edição Especial de 2020
A edição de 2020 da Volta a Portugal, seria a 82.ª edição da Volta a Portugal, prevista decorrer entre 29 de Julho e 8 de Agosto de 2020. No entanto a prova foi adiada devido à Pandemia de COVID-19 em Portugal. Depois de uma tentativa inicial de realizar a prova ainda em 2020, a 82ª edição foi adiada pela organização para o ano seguinte, 2021. Contudo a Federação Portuguesa de Ciclismo anunciou que irá organizar uma Edição Especial da Volta a Portugal que celebrar-se-á entre 27 de setembro e 5 de outubro de 2020.[15][16]
Produção mediática
Em 1957 a televisão vem complementar o acompanhamento efectuados pelas emissoras de rádio e pelos jornais da época. No entanto só em meados da década de 60 a transmissão televisiva da Volta a Portugal em bicicleta ganhou verdadeira dimensão mediática. Durante este período, 3 dos maiores clubes de futebol da actualidade, FC Porto, SL Benfica e Sporting CP possuíam cada um a sua equipa de ciclismo. Dada a popularidade do ciclismo da época, face ao futebol ainda em crescimento, era desta forma que a maior parte dos portugueses observavam pela primeira vez atletas com as cores do seu clube, sendo este um dos principais factores para o crescimento da falange de apoio de estes clubes. Os 3 clubes viriam a abandonar o ciclismo durante a década de 1980, sendo que o SL Benfica regressou por duas vezes: entre 1999 e 2000 e entre 2007 e 2008.[17] F.C. Porto, Sporting e Boavista voltariam a participar em colaboração com outras equipas: o F.C. Porto juntar-se-ia à W52 e o Sporting C.P. ao Tavira.
Dada a dureza, popularidade da prova e a superação dos atletas, desde cedo o público escolheu os seus heróis.
José Maria Nicolau (vencedor em 1931 e 1934) e Alfredo Trindade (vencedor em 1932 e 1933) protagonizaram uma das primeiras rivalidades da Volta, fazendo vibrar o país. José Maria Nicolau foi uma das primeiras grandes figuras do SL Benfica enquanto Alfredo Trindade, representou o Sporting CP em 1933 (no ano anterior representou o Rio de Janeiro, emblemático clube do Bairro Alto),
Ribeiro da Silva, outro notável ciclista, natural de Lordelo, venceu as edições de 1955 e 1957, sendo que a sua primeira vitória fica marcada pela agressão por populares ao líder da prova, o seu rival Alves Barbosa, em Lisboa a poucos quilómetros da meta final.
No entanto o maior entre todos os ídolos dos portugueses nesta prova foi sem dúvida Joaquim Agostinho. A forma categória como venceu por três vezes vencedor da Volta (70,71 e 72), aos quais se juntariam os sucessos internacionais, granjearam-lhe assim uma aura ainda mais mágica à sua prestação nesta prova.
Marco Chagas de seu nome, deteve até 2012, o recorde de vitórias na Volta, com 4 triunfos averbados, sendo um símbolo eterno da competição. Esteve perto de conquistar a 5ª vitória mas a desclassificação devido a controlo anti-doping positivo em 79 (para Joaquim Sousa Santos) e afastamento da edição de 84, ganha por Venceslau Fernandes, não o permitiriam.
Joaquim Gomes, o Lisboeta considerado um dos nomes mais importantes do ciclismo Português, que triunfou na prova rainha por duas vezes (1989 e 1993), logrando entre outros êxitos 4 lugares de pódio (2.º class. em 90 e 3.º class. em 88,94 e 97) ; vencedor prémio da montanha (1992) e 10 triunfos em etapas (87 a 2001). Êxitos que levaram a ser considerado como o melhor ciclista português da sua época.
Vítor Gamito, o "Eterno 2º Classificado" (4 vezes em 93, 94, 97 e 99), assumiu o papel de favorito dos portugueses durante a década de 1990. Quebraria o enguiço com a vitória no ano 2000.
Cândido Barbosa, o "Foguetão de Rebordosa" ou o "Ciclista do Povo" merece lugar nesta lista apesar de não ter ganho nenhuma edição. No entanto tem um currículo único na Volta: 25 vitórias em etapas (em 12 edições, vencendo em etapas em 9 edições consequivas) e vencedor por 8 vezes (5 das quais de forma consecutiva) a Camisola Branca (Pontos), estabeleceu um recorde na competição. Vestiu a camisola amarela em oito anos distintos, somando 17 dias como líder da prova. Ganhar a Volta sempre foi um sonho para Cândido Barbosa, que esteve perto de alcançar esse objectivo em 2005, quando terminou a apenas 34,2 segundos do vencedor, Vladimir Efimkin. Em 2006 foi terceiro e em 2007 novamente segundo, depois de ter vestido a camisola amarela cinco dias, só a perdendo no Alto da Torre.[19]
David Blanco, galego (natural da Galiza) com o seu empenho e dedicação tem o recorde de 5 vitórias na Volta (2006, 2008, 2009, 2010 e 2012) e conquistou o seu lugar na história e no coração dos portugueses.
A subida à Torre, na Serra da Estrela, é a subida mais complicada da Volta a Portugal, tendo ao longo dos tempos gerado grandes momentos de ciclismo. Com os seus 1 990 m de altitude, e 23 km de extensão, é sempre um dos grandes momentos da corrida.
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