O Grão-príncipe Fernando (III) faleceu de Sífilis em 1713, deixando a sua viúva sem filhos e sem qualquer função na corte Toscana.[5]
Entretanto, ao ficar viúva do Eleitor-Palatino, a princesa Ana Maria Luísa de Médici, filha do Grão-duque reinante Cosme III de Médici e, por isso, cunhada de Violante Beatriz, regressa à sua Toscana natal pelo que a Grã-princesa viúva planeava, também ela, regressar à corte de seu irmão, em Munique. Contudo, João Gastão convenceu-a a ficar, e Cosme III nomeou-a Governadora de Siena, onde passou a residir.[6]
Para conseguir a mão de Violante Beatriz para o filho Cosme foi obrigado a reembolsar essa quantia a Maximiliano II Emanuel, o filho de Fernando Maria.[8] Ultrapassado este obstáculo, o contratio de casamento foi assinado em 24 de maio de 1688, concedendo a Violante Beatrice um dote de 400.000 thalers em dinheiro e o mesmo montante em jóias.[8] O casamento realizou-se primeiro por procuracão Munique em 21 de novembro de 1688 e presencialmente a 9 de janeiro de 1689.[9] A boda teve lugar no Palácio Medici Riccardi, em Florença. A nova Grã-princesa ficou imediatamente enamorada pelo noivo, apesar dele a detestar.[10] Cosme III não encontrava qualquer defeito na sua nova nora afirmando "Nunca conheci, nem sequer acho que o mundo possa produzir, algo tão perfeito".[11]
Grã-Princesa
O casal Grão-principesco manteve-se sem geração após seis anos de casamento o que perturbava o Grão-duque. Consequentemente, e para mortificação de Grã-princesa, encomendou três dias de observância religiosa para remediar a falta de descendência, em abril de 1694.[12] Quaisquer esperanças de herdeiro foram completamente destruídas quando Fernando contraíu, em 1696, Sífilis durante o Carnaval de Veneza, doença com que viria a sucumbir dezassete anos mais tarde.[13] Entretanto, a Grã-princesa ficou sob um estado de melancolia, situação que não passou a despercebida ao seu cunhado, João Gastão de Médici, na altura o segundo filho do Grão-duque que, como resultado, criou grande amizade pela princesa.[4]
Violante Beatriz raramente aludia aos suas dores emocionais durante as conversas mantidas mas, numa altura precisa e na presença das suas damas de companhia, referiu-se ao amante de Fernando, Cecchino de Castris,um castrato veneziano, como sendo a origem da sua desgraça.[4]
Em 1702, a Grã-princesa viu-se envolvida numa questão protocolar entre a Toscana e Espanha. O Grão-duque enviou um agente à corte de Filipe V de Espanha com o objetivo de obter licença para que o Grão-príncipe e a Grã-princesa usassem o tratamento de Alteza Real na correspondência com Espanha.[14][15] Filipe V deferiu o pedido mas apenas para a sua tia, Violante Beatriz.
Os reis Filipe V de Espanha e Frederico IV da Dinamarca visitaram Violante Beatriz em 1703 e em 1709, respetivamente. O primeiro ignorou os outros membros da família Grã-ducal Toscana dignando-se, apenas a falar com ela. O segundo, por seu lado, foi levado à presença de Violante e chegou ao ponto de se recusar a abandonar a sala enquanto Violante mudava de roupa.[16]
Após grande sofrimento, o Grão-príncipe veio a falecer de sifilis em 31 de outubro de 1713, despoletando uma crise sucessória e deixando a sua viúva sem geração e, por isso, sem qualquer função.[17] A viúva ficou tão perturbada que foi sangrada pelos médicos para a acalmarem. Cosme III deu-lhe um conjunto de safiras azuis como sinal de luto.[18] Violante Beatriz considerou a possibilidade de voltar para a sua pátria quando tomou conhecimento do regresso da sua cunhada, Ana Maria Luísa de Médici, Eleitora-viúva Palatina, nascida princesa da Toscana; as duas não se davam bem. Por outro lado, Violante Beatriz perderia a sua posição de Primeira Dama da Toscana. Para evitar quaisquer futuros arrufos relativamente a precedência, Cosme III nomeou Violante Beatriz Governador de Siena, cujas funções a manteriam afastada da corte Toscana, e dar-lhe-ia posse da Villa di Lappeggi, que se tornou, nas palavras do historiador Harold Acton, "a sort of literary academy".[19][20][21] Aqui ela recebeu poetas, como Lucchesi, Ghivanizzi e Morandi.[21] Apesar da questão de precedência ter sido ultrapassada, a Eleitora viúva em diferentes ocasiões desrespeitou a cunhada, pelo que Violante Beatriz passou a recusar comparecer em público com a cunhada.[22]
Governadora de Siena e visita a Roma
O Governador entrou nos seus domínios em abril de 1717, estabelecendo residência no centro da cidade. O ato mais memorável de Violante Beatriz como Governador foi a reorganização dos Contrade[23] de Siena cujos nomes, número e fronteiras ela defeniu e que permaneceram até à atualidade[24] O Grão-duque Cosme III morreu em 31 de outubro de 1723; João Gastão ascendeu ao trono. Imediatamente chamou Violante Beatriz a Florença e baniu a irmã para a Villa La Quiete.[25]
Como Governador, ela formalmente definiu, em 1729, as fronteiras, nomes e o número das Contrade.[26][24] Durante o reinado do Grão-Duque João Gastão de Médici, o Governador era responsável pelas audiências formais na corte.[27]
Violante Beatriz passou a dominar a corte enquanto João Gastão lhe entregava os seus deveres públicos, escolhendo (literalmente) passar a maior parte do seu tempo na cama.[25] The religiosidade melancólica de Cosme III deu lugar a um período de rejuvenescimento: Violante Beatriz instituiu a moda francesa na corte, compelindo os eclesiásticos miraculosos a afastarem-se e protegendo diversos poetas sieneses, como Perfetti e Ballati.[28][29][30] Violante Beatriz levou Perfetti a Roma em 1725 e alojou-se no Palazzo Madama. Durante a sua estadia nos Estados Papais, ela encontrou-se com o Papa Bento XIII, que a achou tão agradável que lhe atribuiu a Rosa de Ouro, um sinal do grande apreço Papal.[31]
Após o seu regresso de Roma, Violante Beatriz e a cunhada, a Eleitora-viúva Ana Maria Luísa decidiram intervir no sentido de melhorar a imagem pública do Grão-duque João Gastão, tentando afastá-lo dos Ruspanti, o seu séquito de seguidores, organizando banquetes para os quais convidava os mais distintos membros da sociedade toscana.[32]
Mas o comportamento do Grão-duque, vomitando, arrotando e contade anedotas impróprias, fazia com que os convidados fossem literalmente forçados a sair.[32]
A cunhada foi mais bem sucedida, planeando aparições públicas como a do dia de S. João Batista, em 1729. Contudo, durante a cerimónia, o Grão-duque ficou tão intoxicado que teve que ser arrastado numa liteira de volta para o Palácio Pitti.[33] Mas de nada valeu esses eventos uma vez que o Grão-duque passou os últimos oito anos da sua vida na cama, entretido pelos Ruspanti.
Morte
Apenas cinco meses antes da chegada das tropas que defendiam os direitos do sucessor espanhol de João Gastão, Violante Beatriz, princesa da Baviera e Grã-princesa da Toscana, Governador de Siena, morre.[34] Durante a sua procissão fúnebre, o carro fúnebre fez uma breve paragem em frente do Palácio Pitti, o que perturbou o Grão-duque. Este ordenou que o cortejo avançasse com palavras descritas por um contenporâneo como "impróprias até para a mais baixa das meratrizes, quanto mais para alguem nascido em tão alto nível principesco ".[35] Os resto mortais de Violante Beatriz foram sepultados no Convento de Santa Teresa, em Florença; o seu coração foi colocado no caixão do seu marido na Basílica de São Lourenço, em Florença, a necrópole dos Médici.[17][36]
Quando em 1857 o seu sarcófago foi redescoberto, tinha o selo de Napoleão I, que o mandara mudar do Convento de São Lourenço[36] Em 26 de fevereiro de 1858, regressou ao convento, transportada no carro fúnebre real.[36]
Acton, Harold (1980). The Last Medici. London: Macmillan. ISBN 0-333-29315-0.
Angesi, M.G. (2005).The Contest for Knowledge: Debates Over Women's Learning in Eighteenth-century Italy. Chicago: Chicago University Press. ISBN 0-226-01055-4.
Hale, J.R. (1977). Florence and the Medici. London: Orion. ISBN 1-84212-456-0.
Napier, Edward Henry (1846). Florentine History: from the Earliest Authentic Records to the Accession of Ferdinand the Third: Volume V. London: Moxon.
Parsons, Gerald (2004). Siena, Civil Religion and the Sienese. Farnham: Ashgate. ISBN 0-7546-1516-2.
Strathern, Paul (2003). The Medici: Godfathers of the Renaissance. London: Vintage. ISBN 978-0-09-952297-3.
Young, G.F. (1920). The Medici: Volume II. London: John Murray.