A Seara Nova é uma revista fundada em Lisboa, no ano de 1921, por iniciativa de Raul Proença e de um grupo de intelectuais portugueses da época.
Na sua origem era uma publicação essencialmente doutrinária e crítica, assumidamente com fins pedagógicos e políticos.
O grupo de intelectuais reunidos em torno do projeto editorial definiram-na como "de doutrina e crítica", tendo como objetivo, como se lê no editorial do N.º 1, datado de 15 de outubro de 1921, ser de poetas militantes, críticos militantes, economistas e pedagogos militantes.
Com a publicação pretendiam contribuir para quebrar o isolamento da elite intelectual portuguesa, aproximando-a da realidade social.
Depois da implantação da Ditadura Nacional surgida da Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926, o grupo da Seara Nova, a que atualmente se usa atribuir a designação de seareiros, não obstante a censura e as dificuldades financeiras, assumiu-se como um dos grupos mais ativos no combate ideológico contra o salazarismo.
Desde 2015, o seu nome está consagrado na toponímia de Lisboa através da Rua Seara Nova, que foi inaugurada em maio de 2017 na Urbanização Nova Amoreiras (antiga Quinta do Mineiro), na freguesia de Santo António.[1][2]
O grupo pretendia intervir ativamente na vida política do país, aproximando a elite intelectual republicana e progressista da realidade portuguesa, servindo-se da revista como foco da sua potencial ação pedagógica e doutrinária.
Entre os colaboradores iniciais incluíam-se alguns intelectuais já com experiência jornalística e de participação cívica na imprensa, com destaque para Jaime Cortesão, Augusto Casimiro e Raul Proença, que já haviam pertencido à A Águia, publicação que não obstante as suas intenções não tinha podido satisfazer o propósito de intervenção e de aproximação ao social que os animava.
Quase desde o início do projeto, foi Raul Proença quem se destacou pela forte e ousada intervenção no campo político, educativo, e literário. Deve-se também a Raul Proença ter recrutado alguns dos mais importantes colaboradores do projeto, com destaque para António Sérgio.
António Sérgio, apesar de ter depois abandonado o projeto numa cisão em que foi acompanhado por Jaime Cortesão, desenvolveu na Seara Nova uma notável ação pedagógica e cultural, tendo um papel fundamental no combate à tendência literária para o vago, nebuloso, torre de marfim que então dominava, através da introdução de formas de crítica literária mais racional. Nessa linha de intervenção foi continuado por Castelo Branco Chaves e por Agostinho da Silva.
Deve-se a Câmara Reis o desenvolvimento de um importante trabalho pedagógico e cultural, com destaque para a divulgação metodológica e para a discussão doutrinária no campo da educação.
Num estudo realizado no âmbito do programa de publicação online Revistas de Ideias e Cultura[4] identificaram-se os vinte autores que mais escreveram na revista entre 1921 e 1984, segmentados por períodos:
Após a implantação da Ditadura Nacional e da consolidação do subsequente Estado Novo, a Seara Nova transformou-se no principal periódico de oposição democrática ao regime de António de Oliveira Salazar. Ao longo do meio século que se seguiu ao Golpe do 28 de Maio, a revista, através do pensamento dos seus colaboradores, desempenhou um papel central na reflexão e intervenção crítica face ao processo de degenerescência do liberalismo republicano da década de 1920 e depois na oposição à consolidação do Estado Novo na segunda metade da década de 1930, na resistência cívica ao longo dos anos de 1940 e 1950 e na renovação doutrinária da esquerda portuguesa e na sua afirmação política e cultural nos anos de 1960 e 1970 até à queda da ditadura e à subsequente reorganização da vida política e intelectual portuguesa. Ao longo de todo este percurso temporal e político, a ação da Seara Nova foi um dos principais veículos de consolidação da oposição democrática em Portugal.
Para além da atividade editorial, o grupo da Seara Nova promoveu colóquios e debates, sempre com o propósito de estudar e investigar a realidade portuguesa e esclarecer o público, mantendo uma assídua e relevante presença na vida cultural portuguesa.
Apesar das vicissitudes resultantes da censura em Portugal e das dificuldades financeiras que o projeto atravessou, manteve o entusiasmo e a persistência dos editores e o interesse do público, numa aliança invulgar em Portugal de criatividade, combatividade e pujança ideológica.
Séries e periodicidade
A revista prosseguiu com a sua publicação, embora nem sempre regularmente, até ao ano de 1979, atingindo então o número 1598/1599. A partir daquele ano, passou a publicar apenas um exemplar anual para assegurar que, face à lei portuguesa, o título não caducasse, assim se mantendo até ao ano de 1985, quando reapareceu com uma nova série. Agora como revista trimestral, a partir da edição do Verão de 2004 a publicação retomou a anterior numeração, incorporando posteriormente todas as edições entretanto feitas.