Santa Ifigênia (bairro de São Paulo)

Santa Ifigênia
Bairro de São Paulo
Viaduto Santa Ifigênia e o edifício Mirante do Vale.
Dia Oficial 21 de abril
Fundação 21 de abril de 1912 (112 anos)
Estilo arquitetônico inicial Eclético
Estilo arquitetônico predominante Brutalista
Distrito República
Subprefeitura
Região Administrativa Centro

Santa Ifigênia[nota 1] é um bairro da região central da cidade de São Paulo, localizado no distrito República e pertencente a Subprefeitura da Sé.

História

O bairro recebe este nome por lá ter sido construída em 1809, no mesmo lugar da antiga capela, uma igreja que homenageava Ifigênia da Etiópia que difundiu o catolicismo por lá. Era uma região que tinha uma bifurcação para os Caminhos de Pinheiros e Luz e abrigava inúmeras chácaras. A escolha do nome foi feita pelo rei Dom João VI.

Ifigênia da Etiópia, a padroeira do bairro
Ponte de Santa Ifigênia, 1827. Jean-Baptiste Debret - Aquarela sobre papel
Viaduto Sta. Ifigênia

O bairro era uma mistura de classes. Na rua Santa Ifigênia, aberta em 1810 pelo Marechal Arouche de Toledo Rendom até a rua Elesbão (atual rua Aurora), concentrava a população mais abastada. A elite ocupava o chamado Campo Redondo (atual Campo Elíseos) e a rua Florêncio do Abreu. Já a Rua dos Bambus (atual Avenida Rio Branco) era ocupada por estudantes, o que explica a existência de muitas residências acadêmicas, como “repúblicas” de estudantes, onde moraram conhecidas personalidades que passaram pela Faculdade de Direito, como Afonso Arinos, Afrânio Melo Franco, Melo Pimentel e Francisco de Andrade. Descendo para as partes mais baixas da rua dos Bambus, Aurora, Triunfo e Duque de Caxias ficavam os cortiços.[1] Estes cortiços foram detalhados em um relatório em 1893, com informações da área mínima destas habitações, valores pagos por seus moradores, nomes dos inquilinos e proprietários. Se por um lado este relatório era resultado da preocupação com questões sanitárias e recorrência de epidemias, por outro lado os cortiços eram um investimento lucrativo onde se aproveitava o mesmo imóvel para várias alocações.[2]

Em 1830, abrigou a primeira escola de primeiras letras depois de promulgada a lei que determinava a criação de escolas de primeiras letras em cidades, vilas e lugares populosos do Brasil. A escola chamava-se "Escola de Primeiras Letras da frequesia de Santa Ifigênia". O Instituto D. Ana Rosa, fundado em 1874, instalou-se inicialmente na chácara de seu fundador, o senador Francisco Antônio de Souza Queiróz, neste bairro, entre as ruas Brigadeiro Tobias e Florêncio de Abreu.[1][3] Foi a primeira iniciativa particular de assistência e formação profissional do Brasil, abrigando inicialmente 62 alunos, a partir de 12 anos, na maioria órfão de pai.[4] Depois transferiu-se para a "Chácara Velha" onde hoje é a Biblioteca Mário de Andrade na praça Dom José Gaspar. Também abrigou o Colégio Moretzsohn.[5]

Viaduto Santa Efigênia.
Werner Haberkorn - Vista aérea da cidade de São Paulo, no canto inferior esquerdo vemos o bairro.
Largo de São Bento e ao fundo a igreja do bairro.
Primórdios do bairro em 1862.

Em 1872, as chácaras são substituídas por residências, fábricas, lojas de comércio de roupas e artigos de formatura. Hotéis, pensões e cortiços também são atraídos para a região devido à existência das estações ferroviárias de São Paulo Railway e Sorocabana.

No início do século XX, o centro de São Paulo passa por uma reformulação, com a implantação de grandes avenidas. Deste projeto resultou a implantação do Viaduto de Santa Ifigênia[1] e o início da edificação da igreja Santa Ifigênia.

A Igreja Santa Ifigênia foi projetada pelo arquiteto Johann Lorenz Madein e construída de 1904 e 1913. Edificada em estilo gótico e romano, contém diversas obras de arte[1]:

  • vitrais confeccionados em Veneza
  • telas dos pintores Benedito Calixto, Henri Bernard, Dario V. Barbosa e Carlos Osvald
  • cúpulas do italiano Gino Catani
  • altares confeccionados pela Casa Pucci, pela Casa Tomagnini, Fratello e Cia
  • o altar da Capela-Mor foi executado pelo Instituto Bryal de Mayer de Munique
  • caixas de esmolas e cofre confeccionados pelo Liceu de Artes e Ofícios

Escolas, residências da elite ao lado de cortiços, lojas de luxo e comércio miúdo conferiram um caráter de transição ao bairro até 1930, quando a elite paulistana transfere-se para os bairros de Higienópolis e Paulista. Então os terrenos e estas casas são subdivididos, aumentando o número de habitações coletivas de baixo custo.[1]

Comércio

No início do século XX, a rua Santa Ifigênia abrigou várias das melhores lojas de tecidos, peles e chapéus femininos. A sua clientela era formada principalmente pelas ricas famílias que moravam no elegante bairro dos Campos Elíseos.[6]

Depois especializou-se primeiro em produtos de rádios e TV[7] e a partir da década de 40 e 50, surgem as primeiras lojas especializadas em material elétrico e produtos eletrônicos, que a partir da década de 70 e 80 já eram a maioria.[6]

Atualidade

Viaduto e ao fundo a Igreja de Santa Ifigenia.

Atualmente o bairro é um importante centro comercial da capital paulista, especialmente no ramo de eletrônicos (aparelhos, acessórios, peças etc.). As ruas mais movimentadas são Santa Ifigênia, Aurora, Vitória, dos Andradas e a avenida Rio Branco. O bairro é classificado pelo CRECI como "Zona de Valor D", assim como outros bairros da capital: Casa Verde, Carandiru e Brás.[8]

É nesse bairro também que se localiza o Viaduto Santa Ifigênia. A seu lado, está o maior edifício de São Paulo, o Mirante do Vale, com 170 metros de altura e 51 andares. Esse edifício parece menor por estar dentro do Vale do Anhangabaú. Santa Ifigênia Abriga também a Cracolândia, lugar onde se desenvolve intenso tráfico de drogas, meretrício e atualmente violência. Para promover a reconfiguração e requalificação da área, a Prefeitura de São Paulo lançou o programa Nova Luz.[9]

Possui duas estações de metrô, as estações São Bento e Luz, além das estações da Luz e Júlio Prestes da CPTM.

Vista do centro de São Paulo (SP), vendo-se o bairro de Santa Ifigênia, na primeira metade do século XX.

Notas

  1. De acordo com as regras ortográficas da língua portuguesa, a única ortografia correta é Ifigênia.

Referências

  1. a b c d e Sênia Bastos, Maria do Rosário Rolfsen Salles, Marielys Siqueira Bueno (25 de agosto de 2008). «História urbana e hospitalidade: o Bairro de Santa Ifigênia/São Paulo» (PDF). ANPTUR. Consultado em 10 de junho de 2020 
  2. «A cidade de São Paulo do século XIX e os cortiços de Santa Ifigênia (1893) – Revista Restauro :: arte | museu | arquitetura | cidade». Consultado em 10 de junho de 2020 
  3. Gabriel, Henrique (6 de janeiro de 2014). «Nossa História!: Ana Rosa [Mapa]». Nossa História!. Consultado em 10 de junho de 2020 
  4. «O Ana Rosa e a história de São Paulo – Instituto Ana Rosa». Consultado em 10 de junho de 2020 
  5. Prefeitura São Paulo, Prefeitura São Paulo. «Projeto Nova Luz» (PDF). Prefeitura São Paulo. Consultado em 10 de junho de 2020 
  6. a b «Rua Santa Ifigênia | São Paulo Bairros». Consultado em 10 de junho de 2020 
  7. «Trabalho Final de Graduação | Publicação Online». www.fau.usp.br. Consultado em 10 de junho de 2020 
  8. «Pesquisa CRECI» (PDF). 11 de julho de 2009. Consultado em 13 de julho de 2009. Arquivado do original (PDF) em 6 de julho de 2011 
  9. Carta Maior, 31 de maio de 2009. Cracolândia: Ensaio sobre a barbárie, por Eduardo Zidin.
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