vela, com três mastros armado em Barca 8 caldeiras cilíndricas a carvão 2 máquinas combinadas de três cilindros a vapor 6,000 hp (4,47 kW)
Velocidade
16 nós (30 km/h)
Armamento
4 canhões de 9.2 pol. Mk III 6 canhões de 140 mm (5,5 in) 15 metralhadoras 5 tubos lança-torpedos
Blindagem
178 a 280 mm nas laterais do casco 254 mm nas torretas principais 254 mm na superestrutura
Tripulação
350 homens e oficiais
O Riachuelo foi um navio de guerra do tipo encouraçado de esquadra,[1] couraçado de torre[2] ou, simplesmente, couraçado,[3] operado pela Armada Imperial Brasileira e pela Marinha do Brasil, após a Proclamação da República. Riachuelo foi construído nos estaleiros de Samuda & Brothers no Reino Unido como parte do projeto brasileiro de aquisição de modernos navios couraçados, sendo incorporado à armada em 19 de novembro de 1883. Deslocava 6 100 toneladas e era equipado com duas torres de artilharia com quatro canhões de 234 milímetros, apoiados por uma bateria secundária de quatro canhões de 6 polegadas. À época de sua construção, era um dos mais avançado navios de guerra.
Entre os anos 1884 e 1885, a embarcação figurou entre os navios da Esquadra de Evoluções, núcleo mais moderno da armada imperial. Após a Proclamação da República, o Riachuelo foi destacado para escoltar o paqueteAlagoas, que levou a Família Imperial Brasileira para o exílio na Europa, em 17 de novembro de 1889. Cerca de dois anos depois, irrompeu a Revolta da Armada, porém, o Riachuelo não participou (à exceção de alguns oficiais do encouraçado). Pelo contrário, a marinha apressou-se em enviar o navio para Europa para não tomar parte na rebelião. No continente europeu, passou por modificações que aumentaram seu poderio ofensivo e sua estabilidade. Suas principais comissões foram levar a bordo o presidente Campos Sales em visita oficial à Argentina, em 1900, e o Contra-Almirante Huet de Bacellar, para acompanhar a construção e receber os novos encouraçados encomendados Minas Gerais e o São Paulo, em 1907. Foi desativado em 1910.
Construção
Em meados de 1880, o então Ministro da Marinha, o almirante José Rodrigues de Lima Duarte, apresentou um relatório à Assembleia Legislativa sobre a urgência de se modernizar a Marinha Imperial, com a adoção de então modernos navios encouraçados. O almirante desejava a aquisição destes tipos de navios a fim de valer a posição que o império tinha naquele período perante outras nações marítimas.[4]
A Comissão Naval designada para acompanhar a construção e receber o Riachuelo e Aquidabã, outro encouraçado de características semelhantes, foi presidida pelo Contra-Almirante José da Costa Azevedo, assessorado pelo Engenheiro Naval Trajano Augusto de Carvalho. A introdução do Riachuelo representou uma significativa vantagem no poderio militar da frota brasileira.[6] Quando terminado, era um dos mais avançados navios de seu tempo, além de um modelo em seu gênero.[7] Além disso, a aquisição do Riachuelo e Aquidabã fez da marinha brasileira a mais poderosa do hemisfério ocidental.[8] Sobre isso, Hilary A. Albert, chefe do comitê de assuntos navais da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, alertando o congresso americano em 1883, comentou: "Se toda essa nossa marinha velha fosse colocada em um arranjo de batalha no meio do oceano e confrontados com o Riachuelo, é duvidoso que uma única embarcação portando a bandeira americana voltasse ao porto".[9] A preocupação norte-americana com a construção do Riachuelo levou o congresso a deliberar sobre a situação em que se encontrava a frota do país. De fato, o encouraçado brasileiro influenciou os Estados Unidos a desenvolverem navios que pudessem fazer frente às outras potências.[10]
Características
O Riachuelo era feito de aço trabalhado em forno Siemens-Martin, com o metal recobrindo o casco com duas camadas de seis polegadas e forrado externamente com cobre. O navio era dividido em 58 compartimentos estanques e fundo duplo subdividido em dezesseis compartimentos. A roda de proa, cadaste e o leme foram construídos em bronze; couraça do casco de face acerada, constituída por uma cinta de 250 pés (76 metros) de extensão de 11 polegadas (279 milímetros) a meio comprimento do costado, onde protegia as máquinas, caldeiras e paióis, sendo no comprimento restante reduzida a 10 polegadas (254 milímetros) de espessura e na parte submersa do casco uma parte com 10 (254 milímetros) e outra com 7 polegadas (178 milímetros).[6]
Nos extremos do casco, havia uma couraça inclinada de 3 polegadas (76 milímetros) com 15 graus de inclinação. Deslocava 6 100 toneladas, tinha 97,72 metros de comprimento, 15,25 metros de boca, 5,94 metros de calado, 20,6 polegadas de calado máximo e um pano envergado junto à barca.[6] Seu poder ofensivo constituía-se de duas torres, dispostas em diagonal, uma a BE e outra a BB, com dois canhões de retrocargaArmostrong de 9.2 polegadas cada; quatro canhões de 6 polegadas (152 milímetros)[nota 1] em quatro reparos singelos; 2 canhões de rápida cadência; 15 metralhadoras Nordenfelt; 5 portinholas para lança-torpedos de 18 polegadas (457 milímetros) sendo três na superfície e dois submersos.[6][1][11] A tripulação constituía-se de 350 homens.[6]
História
O Riachuelo zarpou da Inglaterra no dia 20 de setembro de 1884, fazendo escala em Lisboa, e atracou no Rio de Janeiro em 13 de novembro.[6] Antes de sua saída da Europa, o encouraçado havia sido incorporado à Esquadra de Evoluções, em 19 de agosto, o núcleo mais moderno da armada em propulsão, artilharia e torpedos, que ficou sob o comando do chefe de esquadraArtur Silveira de Motta. O Riachuelo tornou-se, assim, um dos dezesseis navios da esquadra (os encouraçados Sete de Setembro, Solimões e Javary; os cruzadores híbridos Guanabara e Almirante Barroso; as corvetas oceânicas Trajano, Barroso e Primeiro de Março; as torpedeiras de 1.ª Classe (50 t) 1, 2, 3, 4 e 5 e as torpedeiras de 4.ª Classe (50 t) Alfa, Beta e Gama). O objetivo desta divisão era o aperfeiçoamento das táticas de batalha e treinamento avançado, além de exibir o poder naval brasileiro. Neste período, a Marinha chegou a ser a quinta maior do mundo. No dia 28 de agosto, recebeu o distintivo número 1. Ainda em 1884, após sua chegada ao Brasil, o encouraçado juntou-se à esquadra.[1][12][13]
No dia 17 de novembro de 1889, o Riachuelo foi destacado para escoltar o paquete Alagoas, navio que levou a Família Imperial Brasileira ao exílio na Europa, após a Proclamação da República. O encouraçado, comandado pelo capitão-tenente Alexandrino Faria de Alencar, acompanhou o Alagoas até a linha do Equador. Na viagem, D. Pedro II irritou-se com com a baixa velocidade do Riachuelo, que obrigava o Alagoas, muito mais rápido, a diminuir seu ritmo ou até mesmo navegar em círculos para não deixar sua escolta para trás. Em 14 de janeiro de 1890, o encouraçado partiu do Rio de Janeiro, com o ministro Quintino Bocaiuva a bordo, para Buenos Aires. O ministro tinha por objetivo assinar o Tratado de Limites firmado com a Argentina. O acordo foi assinado na cidade uruguaia de Montevideo, em 25 de janeiro de 1890, sob mediação do presidente dos Estados UnidosGrover Cleveland.[6][14][15][1]
No ano seguinte, irrompeu a Revolta da Armada, movimento revolucionário que culminou com a renúncia do presidente Deodoro da Fonseca, porém, apenas os oficiais do encouraçado aderiram ao movimento. Durante o período da revolta, o Riachuelo foi enviado à Europa para passar por modificações, com sua ida apressada para evitar fazer parte da rebelião. A viagem ocorreu em 9 de agosto de 1893 com o navio sob comando do capitão de mar e guerraJoão Justino de Proença. Seguiu para os estaleiros de Forges et chantiers de la Méditerranée, em Toulon, França, onde recebeu diversas modificações que aumentaram seu poder fogo, além de ter recebido dois pesados mastros militares que lhe deram maior estabilidade. O Riachuelo permaneceu em Toulon entre 1893 e 1895.[6][16][14][1] Nesse período, em 1894, o governo brasileiro assinou um contrato com o engenheiro francês Claude Goubet, a bordo do encouraçado, para a construção de um submarino de oito metros de comprimento. A tripulação seria composta por um oficial e dois praças do próprio Riachuelo. Se concretizado, seria a primeira tentativa brasileira em adquirir um navio desse tipo. A construtora acabou por nunca ter cumprido o contrato e o submarino permaneceu apenas como projeto.[1]
Após testes de máquinas para avaliar seu desempenho, o Riachuelo voltou ao Brasil novamente como nau capitânia da Esquadra e, em 1900, capitaneou um grupo-tarefa designado para levar o presidente Campos Sales em visita oficial à Argentina, acompanhado pelos cruzadores Barroso e Tamoio. Esse grupo-tarefa ficou conhecido como "Divisão Branca". Em 1907 realizou a sua última missão importante, conduzindo a bordo a Comissão Naval Brasileira, presidida pelo contra-almiranteHuet de Bacellar, designada para acompanhar a construção e receber os novos encouraçados encomendados dentro do Plano Naval de 1906: os encouraçados Minas Geraes e São Paulo. No mesmo ano, o encouraçado participou do evento da Revista Naval Internacional de Hampton Roads, nos Estados Unidos, em conjunto novamente com os cruzadores Barroso e Tamoio. O Riachuelo foi desativado de forma definitiva em 28 de março de 1910 e seguiu a reboque para um desmanche na Europa, porém, acabou por naufragar durante um violento temporal antes de chegar ao destino.[6][1][17]
Brasil, Marinha do (2014). 100 anos Força de Submarinos. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. ISBN978-85-64878-21-1
Friedman, Norman (1985). U.S. battleships : an illustrated design history. Annapolis, Md.: Naval Institute Press. ISBN978-0-87021-715-9
Gratz, George A. (1999). The Brazilian Imperial Navy Ironclads, 1865-1874. London: Conway Maritime Press. ISBN0-85177-724-4
Gibbons, Tony (1983). The complete encyclopedia of battleships and battlecruisers : a technical directory of all the world's capital ships from 1860 to the present day. Londres: Salamander Books. ISBN978-08-61011-42-1
Parkinson, Roger (2008). The late Victorian Navy : the pre-dreadnought era and the origins of the First World War. Woodbridge, UK: Boydell Press. ISBN978-1-84383-372-7. OCLC646848836
Rezzutti, Paulo (2019). D. Pedro II A história não contada: O último imperador do novo mundo revelado por cartas e documentos inéditos 1a̲ edição ed. São Paulo: Casa dos Mundo. ISBN978-85-7734-677-6 !CS1 manut: Texto extra (link)