Resquício (também chamado de vestígio, resíduo ou registro) arqueológico é todo objeto com evidências físicas sobre o passado. É um dos conceitos fundamentais em arqueologia, disciplina acadêmica preocupada com documentação e interpretação do arquivo arqueológico. A teoria arqueológica baseada em resquícios é usada para interpretar o registro histórico e ter uma melhor compreensão das culturas humanas. Em arqueologia, os resquícios podem consistir das primeiras descobertas antigas, bem como artefatos contemporâneos.[1]
Definição
Para fins históricos, resquícios são objetos antigos feitos pelo homem, estruturas ou enterros antigos que foram preservados na superfície da Terra, subterrâneo, ou debaixo d'água e servem como elementos de estudo arqueológico. Esses registros (ou vestígios) arqueológicos são as fontes históricas materiais que tornam possível reconstruir a história passada da sociedade humana, incluindo a pré-história da humanidade.
Vestígios básicos incluem ferramentas de trabalho, armas, utensílios domésticos, roupas e ornamentos; assentamentos, incluindo parques de campismo, fortificados e povoados fortificados e habitações separadas; antigas fortificações; os restos de estruturas hidráulicas antigas; campos agrícolas antigos; estradas; poços de mineração e workshops; motivos antigos cemitérios e vários enterro e estruturas religiosas (estelas, estatuetas de pedra, monólitos de peixe pedra (vishaps), menires, cromlechs, santuários); desenhos e inscrições esculpidas em pedras e penhascos individuais; e monumentos arquitetônicos. Restos arqueológicos também incluem navios antigos e suas cargas que afundou em rios e mares e assentamentos que vieram a estar debaixo de água como resultado de mudanças na crosta terrestre, entre outros.
Origem e uso do termo
Estudiosos têm frequentemente utilizado analogias textuais como ‘resquício’, 'fonte' e 'arquivo'histórico para se referir a prova material do passado, pelo menos desde o século XIX. O termo "resquício arqueológico" provavelmente se originou dessa maneira, por meio de conceitos paralelos em geologia (resquícios geológicos) ou paleontologia (resquícios fósseis). O termo foi usado regularmente por Gordon Childe na década de 1950, e parece ter entrado em linguagem comum depois.[2]
Na primeira revisão crítica do conceito, a filósofaLinda Patrik descobriu que na década de 1980 arqueólogos conceituou o termo em pelo menos cinco maneiras diferentes:[3]
Como um "receptáculo" para os depósitos de materiais;
Como depósitos de materiais;
Como artefatos e objetos;
Como um conjunto de amostras;
Como relatórios escritos por arqueólogos;
Patrik argumentou que as três primeiras definições eram baseadas em um "modelo físico" de evidências arqueológicas, onde elas são vistas como o resultado direto de processos físicos que operavam no passado (como o registro fóssil); em contraste, definições quatro e cinco seguiram um "modelo textual", onde o resquício arqueológico é encarado como a codificação de informação cultural sobre o passado (como textos históricos).
Ela destacou a medida em que "a compreensão do que constitui" o registro arqueológico "era dependente de correntes mais amplas na teoria arqueológica”, ou seja, que os estudiosos processuais eram susceptíveis de se inscrever em um modelo físico e arqueólogos pós-processuais em modelos textuais.
O arqueólogo Gavin Lucas, já no início do século XXI, condensou lista de Patrik em três distintas definições de registro arqueológico:[4]
Em seu sentido mais amplo, o resquício arqueológico pode ser concebido como o total de objetos feitos pela, utilizado pela, ou associado a humanidade. Esta definição inclui ambos os artefatos (objetos feitos ou modificados pelo homem) e “ecofacts” (objetos naturais associados à atividade humana, como resquícios vegetais em determinada região). Neste sentido, o resquício é equivalente à cultura material, e não inclui apenas "antigos" registros, mas também os elementos físicos associadas a sociedades contemporâneas.
Esta definição, que enfatiza a materialidade do registro arqueológico e alinha arqueologia com estudos de cultura material e a "virada material" na antropologia cultural, tornou-se cada vez mais comum com o aumento da arqueologia pós-processual.[4]
Como resquícios materiais
Definições mais conservadoras especificam que o resquício arqueológico é composto dos "restos", "traços" ou "resíduos" da atividade humana passada, embora a linha divisória entre "o passado" e "presente" pode não ser bem definida. Este ponto de vista é particularmente associado com a arqueologia processual, que vê o registro arqueológico como o produto "fossilizado" de processos físicos, culturais e taxonômicos que aconteceram no passado. É um conceito mais focado na compreensão desses processos, sem grande análise empirista, filosófica ou sociológica.[5]
Como fontes
O resquício arqueológico também pode consistir em documentação escrita que é apresentado em revistas científicas, naquilo que os arqueólogos aprenderam com os artefatos documentados. Isto abrange o mundo inteiro; arqueologia é a história humana que pertence a todos passado e representa o patrimônio de todos.
Estes dados podem ser arquivados e recuperados por arqueólogos para a investigação. A missão de um arqueólogo é muitas vezes preservação do registro arqueológico. Existem diferentes bases de dados que são utilizados para arquivar e preservar a documentação para além dos artefatos que servem como registros arqueológicos. Um desses bancos de dados é o The Digital Archaeological Record (TDAR), Registro Arqueológico Digital, em português. Ele compõe um repositório digital internacional para os registros digitais de investigações arqueológicas.
O uso, desenvolvimento e manutenção do TDAR são regidos pela Digital Antiquity (Antiguidade Digital), uma organização dedicada a garantir a preservação a longo prazo de dados arqueológicos insubstituíveis e ampliar o acesso a estes dados. O resquício arqueológico serve como um banco de dados para tudo o que arqueologia representa e se tornou. A cultura material associada a escavações arqueológicas e os registros acadêmicos em revistas acadêmicas são a personificação física do estudo arqueológico.[4]
Organização temporal dos resquícios
O início dos estudos arqueológicos data do século XIX. A primeira tentativa de organização temporal destes materiais foi realizada pelo banqueiro escandinavoChristian Jürgensen Thomsen que colecionava antiguidades e decidiu se dirigir até o Museu Nacional da Dinamarca com uma “pilha de tralhas” que contava com pontas de flechas e lanças, assim como lâminas em bronze, ferro e pedra. Neste momento, ele desenvolveu ali um método de datação destes objetos, baseado na tecnologia utilizada para fazê-los. Desta maneira, ele criou a divisão entre a Idade da Pedra, do Bronze e do Ferro.[6]
A partir de então, o estudo sobre os homens pré-históricos teve enorme desenvolvimento e contou com inúmeras escavações, realizadas por curiosos e pessoas interessadas em lucrar com a venda de artefatos históricos, como é o caso de Hiran Bingham, exploradornorte-americano, que fez inúmeras descobertas[7] na região inca de Machu Picchu, no Peru. Assim, houve o início de um verdadeiro mercado de contrabando destes objetos, algo que infelizmente permanece até os dias de hoje. Além disso, estes “pesquisadores” perceberam a importante necessidade de desenvolver estudos com auxílio de intelectuais de diversas áreas e, desde então, as escavações arqueológicas contam com métodos de datação muito específicos, e reúnem cientistas internacionais.[6]
Técnicas de estudo de resquícios históricos
Hoje, os historiadores dependem do auxílio de variados conhecimentos e métodos de pesquisa, que ajudam (junto com a arqueologia) a construir um panorama abrangente sobre a História. Dentre eles, podemos citar:[6]
Paleontologia[6]: Estudo da vida de todos os organismos que viveram na Terra. Esta ciência foi fundamental para entendermos melhor “a origem da vida” e é a área que estuda, por exemplo, a existência dos dinossauros na superfície terrestre.
Filologia[6]: Estudo das línguas e da literatura, que nos ajuda a compreender melhor as formas de comunicação desenvolvidas pelo ser humano, através do tempo.
Zoologia[6]: Fundamental para nos auxiliar a conhecer mais sobre a dieta de nossos ancestrais, assim como as suas relações com a natureza, os especialistas desta ciência biológica estão cada vez mais presentes nos sítios arqueológicos.
Botânica[6]: Constitui o conhecimento sobre as plantas e formas de adaptação das mesmas com o passar do tempo. É importante para realizar estudos em locais que marcam a presença humana, como restos de fogueiras. Isto porque, os grãos, sementes, madeira (e até mesmo o pólen) encontrados nas escavações nos ajudam a compreender o nível de desenvolvimento agrícola dos homens antigos.
Antropologia[6]: Estudo das relações humanas. Primordial para que possamos encadear melhor os usos de objetos encontrados, assim como a organização social dos hominídeos antigos. Utilizada em especial, por arqueólogos da corrente pós-processual.
Estratigrafia[6]: O estudo da sequência de camadas de terra pode ser entendido como o primeiro passo para a exploração do sítio arqueológico e determina há quanto tempo vestígio se encontra no lugar. Neste sentido, é importante ter em mente que, quanto mais fundo cavamos, mais antigos são os vestígios que encontramos no sítio arqueológico.
Decaimento do Carbono-14[8]: É uma das mais utilizadas formas para datação dos objetos encontrados em sítio. Consiste no cálculo de idade do fóssil, baseado na quantidade de isótopo de carbono-14 residual. Este isótopo radiativo é presente na atmosfera terrestre e está presente em todos os seres vivos que o absorvem por meio da respiração. Todavia, com “meia-vida” de 5.637 anos, o carbono-14 nos permite determinar a existência destes fósseis com precisão em até 50.000 anos.
Análise de DNA[6]: Tido como um dos métodos mais atuais de pesquisa, a recuperação de DNA a de ossos e dentes pode ser utilizada para rastrear trajetória das migrações e investigar origem de plantas e animais domésticos.
Dendrocronologia[6]: Esta ciência consiste em entender a variação de espessura dos anéis em caules de árvores para determinar o tempo de vida destes seres.
Termoluminescência[6]: Esta é uma técnica de estudo utilizada para determinar o tempo de um objeto de cerâmica e se baseia na luminosidade de certos materiais, quando aquecidos. A Termoluminescência é observada normalmente apenas durante o primeiro aquecimento, e não no reaquecimento, sendo que não é uma forma de transformação do calor em luz.
Estas são apenas as principais ciências que acompanham o estudo arqueológico, mas existem também pessoas que se especializaram em deduzir usos e formas de construção de objetos em pedra e cerâmica, por meio de tentativas em reconstruir cópias, baseados na tecnologia que era possível utilizar em determinados períodos.[6]
Alguns estrangeiros começaram a vir para o país em 1950, e passaram a explorar sítios arqueológicos na Amazônia, no Pará, no Piauí, no Mato Grosso e na faixa litorânea. Em 1961, todos os sítios arqueológicos foram transformados por lei em patrimônio da União, a fim de evitar sua destruição pela exploração econômica.
Em 1991, a norte-americana Anna Roosevelt, arqueóloga, descobriu pinturas rupestres na caverna da Pedra Pintada (PA) com mais de 11 mil anos, e, em 1995, revelou sítios cerâmicos na Amazônia com datação de 9 mil anos.
Os centros arqueológicos incluem os sambaquis, as estearias, os mounds e também hipogeus, cavernas, etc.
Sambaquis: palavra de origem indígena que deriva de tambá (concha) e ki (depósito). Possuem formações de pequena elevação formadas por restos de alimentos de origem animal, esqueletos humanos, artefatos de pedra, conchas e cerâmica, vestígios de fogueira e outras evidências primitivas.
Estearias: jazidas de qualquer natureza que representam testemunhos da cultura dos povos primitivos brasileiros.
Mounds: monumentos em forma de colinas, que serviam de túmulos, templos e locais para moradia.
Hipogeus: ambientes subterrâneos, às vezes com pequenas galerias, nas quais eram sepultados os mortos.
Cunani, Maracá, Pacoval, Camutins, Sambaqui de Cachoeira, Sambaquis da Foz do Tocantins e de Cametá, Santa Izabel, Tesos e Mondongos de Marajó, Caviana, Santarém, Taperinha, Miracanguera, Rio Tefé, Irapurá, Cerro do Carmo, Rio Içana, Anuiá Luitera, Apicuns, Tijolo, São João e Pinheiro.
Zona Maranhense
Marobinha, Pindaí, Ilha de Cueira, Florante, Lago Jenipapo, Armindo, Lago Cajari e Encantado.