As mulheres no serviço militar desempenharam papéis significativamente diferentes nas forças armadas ao longo dos séculos.[1] Em épocas anteriores, a maioria das culturas e dos Estados restringia severamente ou negava o acesso às forças armadas por vários motivos.[2] A maior parte das mulheres envolvia-se como agregadas dos acampamentos militares, como vivandeiras e cantineiras, e também servindo como enfermeiras.[3] As mulheres combatentes dividiam-se nas chefes guerreiras e nas mulheres-soldados; as primeiras geralmente eram da realeza ou amazonas, e as últimas quase sempre disfarçando-se para lutar ao lado dos homens.[4] Exemplos históricos notáveis de mulheres militares são a santa Joana d'Arc na Guerra dos Cem Anos, a voluntária Maria Quitéria na Guerra de Independência do Brasil e a sniper Lyudmila Pavlichenko.[5][6][7]
Apesar das restrições, a história militar contém exemplos individuais de mulheres que serviram ou lutaram em diversas funções nas forças armadas dos seus países. Em muitos casos, porém, as mulheres envolvidas só conseguiram fazê-lo disfarçando-se de homens.[8] Uma das mais célebres mulheres a combater disfarçada foi Geneviève Prémoy que, usando da alcunha de Cavaleiro Balthasar, serviu com os dragões de Luís XIV em diversos combates no século XVII; notadamente no cerco de Valenciennes e na tomada de Lille, conquistando a indicação a porta-estandarte e, depois, a promoção a subtenente em 1676.[9]
Hoje, a maioria dos países permite a entrada de mulheres nas suas forças armadas. Contudo, a maioria destes Estados ainda impõe restrições à participação nas hostilidades; servindo majoritariamente em funções de apoio. O recrutamento obrigatório de mulheres existe em alguns países, mais notadamente em Israel e na Coréia do Norte. Por causa da ascendência russa na Europa, a Noruega, a Suécia e a Dinamarca impuseram a conscrição às suas mulheres.[10] Em 2024, a Marinha do Brasil iniciou o primeiro curso de mulheres fuzileiros navais no Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA).[11][12]
História
Em diversos conflitos, como na Guerra Civil Americana, na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, e em conflitos posteriores nos séculos XX e XXI, milhares de mulheres lutaram disfarçadas como homens ou em forças irregulares de guerrilha. Porém a maioria das mulheres que serviam com os militares nos últimos séculos o fizeram como médicas ou enfermeiras.[13]
Apesar de todos os papéis desempenhados, das demonstrações de capacidade e valor e dos progressos feitos pela sociedade em prol da igualdade, ainda há muita resistência a ideia de mulheres no serviço militar, particularmente em papéis de combate, com o assunto seguindo controverso. Apenas recentemente (final do século XX e começo do XXI) que oficiais femininas tem tomado papéis mais proeminentes nas forças armadas mais modernas. Cada vez mais países aceitam mulheres em seus serviços militares enquanto o debate, ético e moral, continua.[14][15] Em Portugal, as enfermeiras paraquedistas foram as primeiras mulheres a participar oficialmente num conflito armado, por iniciativa governamental.[16] No total, 46 mulheres portuguesas concluíram o curso de Paraquedismo Militar e participaram na Guerra do Ultramar, entre 1961 e 1974, no tratamento de feridos e doentes, assim como no auxílio a civis.[16]
No começo do século XXI, a esmagadora maioria dos países do Ocidente já aceitavam mulheres no serviço ativo de suas forças militares.[17] Em cerca de oito países, existe conscrição para mulheres (China, Eritreia, Israel, Líbia, Malásia, Coreia do Norte, Peru e Taiwan).[18][19] Até 2022, apenas três nações recrutavam mulheres e homens nas mesmas condições formais: Noruega, Suécia e Países Baixos. Alguns outros países têm leis que permitem o recrutamento de mulheres para as suas forças armadas, embora com algumas diferenças, tais como isenções de serviço, tempo de serviço e muito mais.[20]
De acordo com a acadêmica Jennifer M. Silva, a maioria das mulheres que serviam em academias e campos militares nos Estados Unidos afirmavam que viam no serviço militar uma "oportunidade para serem fortes, assertivas e habilidosas" e também achavam que o serviço era "uma escapatória dos aspectos negativos da feminilidade tradicional". As candidatas na academia, em geral, também não reclamavam da qualidade do treinamento e nem se era duro demais, afirmando que o programa era bem "neutro". O estudo também afirma que as cadetes femininas eram "super vigilantes sobre seus status como mulheres fazendo tarefas vistas tradicionalmente como masculinas e constantemente se viam em uma posição que tinham que provar o quanto eram capazes".[21][22]
Questões como agressão, assédio sexual e até estupro são problemas comuns que mulheres nos serviços militares enfrentam. Frequentemente, oficiais e o alto-comando são acusados de não se importarem ou de terem relutância em investigar tais denúncias.[23][24] Um estudo feito em 2009 mostra que mulheres dentro das forças armadas tem um risco maior de serem estupradas do que na maioria das outras profissões.[25] De acordo com um relatório militar dos Estados Unidos, cerca de 25% das mulheres em seu serviço afirmaram que já foram agredidas sexualmente, enquanto 80% disseram que já sofreram algum tipo de assédio sexual.[26]
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