Marcha do Orgulho Trans de São Paulo

Trio elétrico da edição de 2019 da Marcha do Orgulho Trans de São Paulo [1]

A Marcha do Orgulho Trans de São Paulo é um evento que acontece anualmente no Largo do Arouche, no Centro da capital paulista, desde sua primeira edição em 2018.[2] A marcha é idealizada e organizada pelo Instituto [SSEX BBOX], com produção e organização de Pri Bertucci e Van Marcelino, em conjunto com a prefeitura de São Paulo e tem como objetivo promover a visibilidade e os direitos das pessoas trans, sendo a primeira a focar nessa parcela da comunidade a acontecer no Brasil e se diferencia da Parada do Orgulho LGBT+, que visa a comunidade como um todo.

A escolha do Largo do Arouche como local de realização da Marcha é uma referência à Operação Tarântula,[3] deflagrada na década de 1980, que tinha como objetivo a “remoção” de travestis da região, sob pretexto de “luta contra a AIDS”.[4]

Contexto e necessidade

A luta de travestis e pessoas transgênero é um dos principais contribuintes para o debate de gênero e sexualidade.[5] Marginalizadas, muitas travestis e mulheres trans brasileiras, além expulsas de suas casas durante a adolescência, também evadem dos estudos e, ao perderem dois importantes pilares sociais – a família e a escola – a rua se torna sua única opção.[6]

De acordo com levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) em 2017, cerca de 90% das mulheres trans no Brasil recorrem à prostituição como meio de subsistência.[7] Aquelas que chegam ao mercado de trabalho também enfrentam preconceitos em relação aos seus nomes, que não são respeitados.[7]

Por conta dessas complexidades, o Instituto [SSEX BBOX] percebeu a necessidade de debater e mostrar as mazelas vividas por essa parcela da comunidade LGBT, que mesmo compondo parte da Parada Orgulho LGBT+, tem suas demandas específicas a serem compartilhadas.[8]

Visibilidade, primeiros passos e impacto

Em janeiro de 2015, a prefeitura de São Paulo lançou o programa Transcidadania,[9] uma das primeiras políticas públicas do município para essa população, que além de uma grande conquista para o movimento, também trouxe visibilidade no espaço político e social para o surgimento de novos debates.

O Programa Transcidadania é regulamentado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania[10] e tem como objetivo promover a reintegração e mulheres e homens trans em situação de vulnerabilidade a partir da conclusão da educação básica e do ensino médio, através da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e pela qualificação profissional. Logo de início, o programa expôs algumas das vulnerabilidades sofridas pela população trans, como alto índice de expulsão familiar e evasão escolar, prostituição compulsória, uso de substâncias tóxicas sem acompanhamento médico como silicone industrial e hormônios, que apenas justificaram sua necessidade social.

Em 2017, as movimentações de Pri Bertucci e o Instituto [SSEX BBOX] revelaram as complexidades e desafios enfrentados ao tentar unificar diferentes vozes e organizações dentro da comunidade trans e mais amplamente na comunidade LGBTQIAP+. O instituto estendeu convites a várias organizações influentes e figuras proeminentes do movimento trans, como Mães Pela Diversidade, ANTRA e a Rede Trans dentre outras, buscando criar uma coalizão de vozes que ecoassem a unidade e força do movimento.[2]

A partir de parceria iniciada em 2018 com Van Marcelino como diretor de produção, a primeira Marcha Trans aconteceu no centro de São Paulo[2] e de imediato transformou-se num poderoso símbolo de resistência e celebração da identidade trans. Com a participação de artistas renomados como Johnny Hooker, Liniker, Mel, Pepita, Leonora Vingativa, MC Xuxu, Erica Hilton e Erika Malunguinho, a Marcha não só destacou a rica tapeçaria cultural da comunidade trans, mas também proporcionou um espaço vital para sua expressão e visibilidade.

Essa marcha colocou o Brasil no mapa global das marchas trans, uma série de eventos que acontecem em diversas cidades ao redor do mundo, geralmente dois dias antes das paradas gays, que tendem a ser mais comerciais e focadas principalmente nos direitos e cidadania de pessoas LGB, muitas vezes centradas em homens gays brancos.[5][11]

As Marchas Trans são realizadas como uma forma de protesto e reivindicação de espaço,[12] destacando a exclusão histórica de mulheres, pessoas trans, homens trans, e pessoas não binárias nas narrativas dominantes de gênero e sexualidade. Estes grupos frequentemente enfrentam opressão adicional em meio às masculinidades tóxicas e hegemônicas presentes na sociedade.

Referências

  1. https://www.flickr.com/search/?text=marcha%20trans%202019&view_all=1
  2. a b c Mídia Ninja (1 de junho de 2018). «Primeira Marcha do Orgulho Trans acontece hoje em São Paulo». Mídia Ninja. Consultado em 25 de março de 2018 
  3. Cândido, Marcos (25 de agosto de 2019). «Arouche 100% gay: grupo luta para região de 'Sai de Baixo' continuar LGBT». Universa UOL. Consultado em 25 de março de 2024 
  4. Nascimento, Rafael (27 de fevereiro de 2023). «Operação Tarântula: perseguição a trans e travestis completa 35 anos». IG Queer. Consultado em 25 de março de 2024 
  5. a b Alves, Isabela (20 de setembro de 2021). «A luta política e a importância das mulheres trans para o Movimento LGBTQIA+». Politize!. Consultado em 25 de março de 2024 
  6. Lisboa, Vinicius (31 de dezembro de 2022). «Pesquisa descreve barreiras para acesso de pessoas trans ao emprego». Agência Brasil. Consultado em 25 de março de 2024 
  7. a b Ferreira, Letícia (29 de janeiro de 2022). «Emprego formal ainda é exceção entre pessoas trans». Folha de S.Paulo. Consultado em 25 de março de 2024 
  8. https://orgulhotrans.com.br/justificativa/
  9. Carta Capital (29 de janeiro de 2015). «Prefeitura lança programa de apoio às transexuais». Carta Capital. Consultado em 25 de março de 2024 
  10. https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/mulheres/noticias/?p=189290
  11. G1 (20 de junho de 2024). «26ª Parada LGBT+ de SP: presença de turistas mais do que dobrou em relação à última edição, aponta levantamento». g1. Consultado em 25 de março de 2024 
  12. Cruz, Elaine Patrícia (9 de junho de 2023). «Marcha Trans ocupa ruas centrais de São Paulo e pede mais visibilidade». Consultado em 25 de março de 2024 

Ligações externas