Nota: não confundir com o antecessor deste serviço, o Lusitânia Expresso, que fazia o mesmo percurso.
O Lusitânia Comboio Hotel, conhecido em espanhol como Tren Hotel Lusitania, e normalmente designado apenas como Lusitânia ou Lusitania, foi um serviço ferroviário nocturno entre as localidades de Lisboa, em Portugal, e Madrid, em Espanha. Desde 3 de Outubro de 2012 que circulava em conjunto com o comboio Sud Expresso no troço entre Lisboa-Santa Apolónia e Medina del Campo, fazendo sozinho o troço desde aquele ponto até Madrid.[1]
Caracterização
Este comboio circulava todas as noites entre Madrid e Lisboa, oferecendo lugares sentados ou em cama, nas classes turística, preferente ou gran classe; a composição inclui, igualmente, uma carruagem-bar.[2]
Em 2017, quer o Sud Expresso quer o Lusitânia, são formados por uma composição Talgo IV e traccionados em Portugal por Locomotivas Eléctricas da Série 5600. Em Espanha, a tracção é dividida entre as Locomotivas Diesel Série 334 (no percurso Vilar Formoso - Medina del Campo) e as Locomotivas Electricas Série 252 (nos restantes percursos).
O percurso de 625 quilómetros entre Lisboa e Madrid demora mais de 10 horas,[4] evitando assim que parta demasiado tarde e que chegue a Madrid demasiado cedo.
História
Início dos serviços
Iniciou-se em 1995, para substituir os serviços Talgo Luís de Camões e Lusitânia Expresso, que faziam o mesmo percurso;[5][6] o Lusitânia Comboio Hotel é um sucessor directo do Lusitânia Expresso, que também circulava de noite.[7]
Período de 2003 a 2011
No dia 1 de Agosto de 2003, uma dos comboios Lusitânia ficou retido na Estação de Marvão-Beirã, devido a um incêndio florestal em Vila de Rei, que cortou a circulação ferroviária naquele troço.[8]
Em 19 de Maio de 2006, um curto-circuito a bordo de um dos comboios Lusitânia causou um pequeno incêndio, que obrigou a composição a parar, junto a Vale de Santarém; o comboio foi rebocado até Lisboa, onde chegou com cerca de 70 minutos de atraso.[9] Alguns meses mais tarde, em 6 de Novembro de 2006, uma das composições deste serviço descarrilou junto a Badajoz, devido ao mau tempo, tendo este acidente resultado num ferido ligeiro.[10]
Em 15 de Janeiro de 2008, a locomotiva de um destes serviços, com destino a Lisboa, avariou-se junto à Estação de Riachos, na Linha do Norte tendo sido necessária a sua substituição, o que originou um atraso de cerca de uma hora.[11]
Em 28 de Setembro de 2010, este comboio foi suspenso devido a uma greve geral em Espanha.[12] No mês seguinte, um dos comboios Lusitânia, com destino a Madrid, descarrilou depois de colidir com gado, que tinha transitado para a via numa zona onde a cerca de protecção estava danificada, junto à localidade de Beirã; os passageiros não sofreram quaisquer ferimentos, mas a circulação no local teve de ser condicionada.[13]
Este serviço não se realizou no dia 9 de Janeiro de 2011, na sequência de uma greve dos maquinistas;[14] no dia 25 de Março de 2011, realizou-se outra greve, mas o Lusitânia não foi suspenso, uma vez que foi inserido nos serviços mínimos decretados.[15] Este comboio voltou a ser cancelado no dia 3 de Junho desse ano, devido a uma terceira greve.[16]
Alteração do percurso para Salamanca
Com o fim dos comboios regionais no Ramal de Cáceres, em 1 de Fevereiro de 2011,[17][18][19] apenas este comboio, junto com algumas composições de mercadorias, passaram a circular por aquela ligação ferroviária. No entanto, desde esse ano que a empresa Comboios de Portugal esteve a planear a alteração do percurso do Lusitânia, deixando de circular pelo Ramal de Cáceres e de passar pelas localidades espanholas de Valência de Alcântara e Cáceres, e passando a circular por Vilar Formoso, Fontes de Onor e Salamanca; esta alteração permitiria encerrar o Ramal de Cáceres, e a ligação internacional em Valência de Alcântara,[20][21][22][23][24] no âmbito do Plano Estratégico de Transportes,[25] apresentado em Outubro daquele ano.[26] Por outro lado, também poderia rentabilizar este comboio, uma vez que o novo percurso iria passar por zonas com melhores mercados, como Coimbra e Salamanca.[25] Nos últimos anos de operação, tem-se verificado uma quebra no número de passageiros, devido principalmente aos horários desadequados; Pablo Carrilho, alcaide de Valência de Alcântara, propôs uma redução no percurso, apenas de Lisboa a Cáceres, e a passagem para horário diurno, uma vez que assim já teria ligação com os comboios para Madrid.[24]
Inicialmente, a transição do comboio Lusitânia estava prevista para finais de 2011,[26] tendo sido atrasada para 17 de Junho de 2012,[25][27][28] e, posteriormente, prorrogada para 30 de Junho.[29]
Em Maio de 2012, a Renfe Operadora comunicou internamente esta alteração, embora as empresas Comboios de Portugal e Rede Ferroviária Nacional a tenham negado.[25] O Governo Espanhol afirmou, nesse mês, estar a defender a continuação do presente traçado do comboio Lusitânia, mas o Estado Português continuou empenhado nas alterações, principalmente para poder encerrar o Ramal de Cáceres.[30][31] Este serviço foi um dos assuntos discutidos no âmbito da XXV Cimeira Luso-Espanhola, realizada em 9 de Maio, na cidade do Porto.[32]
Esta medida foi contestada pelas populações e autarquias locais, e por várias organizações ambientais e sindicalistas em Portugal e Espanha, que protestaram em Valência de Alcântara, em Dezembro de 2011;[20] o Comité do Centro de Trabalho provincial da empresa espanhola Administrador de Infraestructuras Ferroviarias em Cáceres alertou para a possibilidade de se perderem vários postos de trabalho na comunidade autónoma da Extremadura, uma vez que, com o fim do comboio, a linha entre Valência de Alcântara e Cáceres ficaria em risco de encerrar.[21] No dia 6 de Junho, realizou-se uma concentração de funcionários dos caminhos de ferro espanhóis na Estação de Cáceres, e de representantes de várias organizações laborais e sindicais, contra a alteração do traçado do Lusitânia Comboio Hotel.[21] Outra manifestação teve lugar no dia seguinte,[22][21][33] e, no dia 16, uma marcha entre as Estações de San Vicente de Alcántara e Valência de Alcântara, com a mesma finalidade.[34][24]
Em 1 de Junho de 2012, a operadora Comboios de Portugal avisou que se previa o cancelamento de alguns dos serviços do Lusitânia Comboio Hotel para os próximos dias, devido à ocorrência de greves por parte dos funcionários.[35][36]
Esta alteração também teve repercussões políticas em Espanha, tendo o Grupo Municipal Socialista de Cáceres citado, em Maio de 2012, a modificação prevista do traçado do Lusitânia como um dos exemplos da passividade dos autarcas daquela cidade.[37] Também um dos representantes do Partido Socialista no Parlamento da Estremadura, Francisco Macías Martín, acusou o presidente do governo, Mariano Rajoy, e o presidente da Junta da Estremadura, José Antonio Monago, de terem autorizado esta alteração no percurso, no âmbito das Cimeiras Ibéricas, e de não cumprirem um acordo de Janeiro, no qual se comprometeram a defender a passagem do comboio Lusitânia por Cáceres e Valência de Alcântara.[38] O secretário-geral das Comissões Operárias da Estremadura, Julíán Carretero, considerou que o fim da passagem do Lusitânia por Cáceres é um atentado contra aquela cidade, uma vez que iria dificultar as ligações internacionais daquela região com Portugal, especialmente para Lisboa.[39] Esta posição também foi defendida pela Federação Comercial de Cáceres, que avisou para os efeitos económicos de um afastamento da cidade em relação a Lisboa e Madrid.[40]
Em Agosto de 2012, a Rede Ferroviária anunciou a sua decisão de encerrar o Ramal de Cáceres, sendo o percurso do Lusitânia comboio hotel alterado, de forma a transitar pela Linha da Beira Alta.[41][42]
Em 3 de Outubro de 2012, os serviços Sud Expresso e Lusitânia passam a circular acoplados entre as estações de Lisboa Santa Apolónia e Medina del Campo. Por norma, à saída da capital portuguesa, a composição da cabeça é o Sud Expresso e a da cauda é o Lusitânia. Nesse dia entrou também em circulação um novo serviço Intercidades, entre as estações de Porto Campanhã e Coimbra-B, que possibilitava a ligação da Região Norte aos serviços internacionais. Posteriormente este serviço passou a InterRegional.
Esta medida foi implementada em acordo entre as empresas Comboios de Portugal e Renfe, com vista a reduzir os custos decorrentes da operação de ambos os serviços; por outro lado, a companhia portuguesa defendeu que esta decisão veio favorecer as regiões do Norte e do centro do país.
Pandemia de COVID-19 em 2020
No âmbito da Pandemia de COVID-19, a ligação foi suspensa a 17 de março de 2020.
Em Maio de 2020 o jornal ABC noticiou que não será retomada.[4]