Lucas começa o capítulo com o relato do envio dos famosos setenta discípulos às cidades da Pereia: «Ide; eu vos envio como cordeiros no meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho.» (Lucas 10:3–4), também relatado em Mateus 8 (Mateus 8:19–22). Jesus pede que eles desfrutem da hospitalidade das cidades que os receberem bem e que sacudam a poeira de suas sandálias contras as cidades que não. Depois de amaldiçoar Corazim, Betsaida e Cafarnaum por não receberem os discípulos, um ato relatado também em Mateus 11 (Mateus 11:20–24), Jesus profere uma oração de agradecimento pelo sucesso da empreitada dos discípulos:
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«Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém sabe quem é o Filho senão o Pai; nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. [...] Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes. Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vedes, e não no viram: e ouvir o que ouvis, e não no ouviram.» (Lucas 10:21–24)
Provavelmente uma das parábolas mais conhecidas de Jesus, a história do bom samaritano aparece apenas neste capítulo (Lucas 10:25–37). Jesus conta que um viajante — que pode ou não ter sido um judeu[3] — foi surrado, roubado e largado quase morto numa estrada. Primeiro um sacerdote e depois um levita passam por ele, mas evitam tocá-lo. Finalmente, um samaritano pára e ajuda o homem, apesar do bem conhecido desprezo mútuo entre judeus e samaritanos. Esta história foi contada como resposta à uma pergunta sobre a identidade de quem seria o "vizinho" que, segundo Levítico 19:18, deve ser amado.
Esta descrição claramente positiva de um samaritano certamente chocou seus seguidores[4]. Alguns cristãos, como Santo Agostinho, interpretaram a parábola alegoricamente, com o samaritano sendo uma imagem do próprio Jesus, que salva uma alma pecadora[5]. Outros, porém, descartam essa hipótese como não tendo nenhuma relação com o significado original da parábola[5] e defendem que ela seria uma exposição da doutrina ética de Jesus[6]
A influência desta parábola foi muito grande, inspirando pinturas, esculturas, poesias e filmes. O termo "bom samaritano", que significa alguém que ajuda um estranho, deriva dela e muitos hospitais e instituições de caridade foram batizados com o nome de "Bom Samaritano".
O relato prossegue contando que Jesus entrou em uma aldeia e se hospedou na casa de Marta e sua irmã Maria, um local tradicionalmente identificado como sendo Betânia. A primeira, preocupada com o serviço da casa, pede que Jesus mande a irmã ajudá-la, mas ele responde: «Marta, Marta, estás ansiosa e te ocupas com muitas coisas. Entretanto poucas são necessárias, ou antes uma só. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada.» (Lucas 10:41–42), reforçando a importância de ouvir a mensagem de Jesus em relação às tarefas mundanas.
Texto
O texto original deste evangelho foi escrito em grego koiné e alguns dos manuscritos antigos que contém este capítulo, dividido em 42 versículos, são: