Diplomado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1919, estudou em Paris entre 1920 e 1925. Fixou-se depois em Lisboa, projetando alguns dos edifícios mais marcantes das décadas seguintes. "Ele foi o autor versátil de uma obra vasta e controversa" (apresentada numa exposição no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em 1998).[1]
Contribuiu depois, de forma decisiva, para a fixação dos padrões da arquitetura oficial do Estado Novo, assinando obras que marcaram essa alteração de sensibilidade. Teve importante contribuição para a Exposição do Mundo Português (1940); foi autor do emblemático conjunto urbano da Praça do Areeiro, Lisboa (1938-1943); a partir de 1948 foi arquiteto-chefe do projecto da Cidade Universitária de Coimbra.[2]
Após o regresso a Lisboa expôs na Sociedade Nacional de Belas Artes diversos projectos realizados durante a estadia em Paris, entre os quais uma «Bourse Maritime», de estrutura moderna e monumental que indicia já aspetos nucleares da sua obra futura;[3] o acolhimento crítico favorável contribuiu para o arranque da sua carreira profissional. Ainda em 1925 projectou o edifício do Cineteatro Capitólio (1925-1931), caracterizado por uma "volumetria simples e fachada com decorações Art Déco", hoje considerado uma referência arquitetónica do primeiro modernismo português e que sofreu alterações profundas ao longo dos anos que desvirtuaram por completo o traçado de Cristino da Silva.[1] Uma ampla obra de recuperação, realizada já no século XXI (Arq. Alberto Souza Oliveira) restituiu à obra a sua dignidade original, preservando a memória desse espaço emblemático.[4]
Num projeto posterior, para o Liceu de Beja (atual Escola Secundária Diogo de Gouveia), libertou-se da dimensão decorativa ainda vagamente presente no Capitólio, produzindo "uma obra de grande vigor e simplicidade em que os elementos essenciais da composição se constituem em volumes primários articulados entre si e a exploração expressiva dos elementos construtivos toma o lugar das decorações anteriores".[1] Sem concessões ornamentais, de composição assimétrica, funcionalista, em Beja os grandes vãos marcam o desenho da estrutura de betão, "assumindo a relação independente entre planta e elevação".[5]
Da sua fase inicial deve destacar-se ainda a proposta, não construída, para o prolongamento da Avenida da Liberdade, Lisboa (atual Parque Eduardo VII), "de proporções grandiosas e grande teatralidade, em divórcio completo com a escala e caráter da cidade",[1] que apresentou na Exposição dos Independentes, SNBA, 1930.[6]
Maturidade
A partir do final da década de 1930 a arquitetura de Cristino da Silva altera-se. Irá desenvolver projectos diversificados, por vezes de grande envergadura e visibilidade, podendo destacar-se os seguintes: Pavilhão de Honra e de Lisboa, Exposição do Mundo Português (1940); conjunto da Praça do Areeiro (1941-1960); filiais da Caixa Geral de Depósitos na Guarda, Castelo Branco e Leiria (1938-1943); traçado da Avenida António Augusto de Aguiar (1943); princípios orientadores para as novas edificações da Universidade de Coimbra (1949-1966); monumento evocativo a Duarte Pacheco, Loulé (1953); projectos do Palácio do Ultramar e da Zona Marginal de Belém (1953-1961) (não construídos).[7]
Figura basilar do primeiro modernismo português, nas décadas de 1940 e 1950 afastou-se das opções iniciais, contribuindo para a configuração do formulário da arquitetura oficial do Estado-Novo. Em 1941 Cristino da Silva afirmava ter descoberto a verdadeira arquitetura moderna na apresentação da exposição sobre a arquitetura alemã dessa época, onde "se expunha a brutal monumentalidade da arquitetura nazi dos grandes parques, estádios olímpicos, alamedas e arcos triunfais, reafirmando o rigor atemporal da Arquitetura clássica monumentalizada numa perversa relação da arquitetura com o Poder".[8] Iria tornar-se num dos mentores (a nível estético, gráfico e arquitetónico), do estilo monumental/tradicionalista, por vezes denominado "Português Suave", que a partir daí (e durante um período dilatado) dominou, em Portugal, a edificação pública e grande parte da privada.[9]
Emblemáticos desta nova postura são a "talentosa colagem"[9] que era o Pavilhão de Honra e de Lisboa da Exposição do Mundo Português – nas palavras de José Augusto França, "o melhor edifício da exposição, e talvez a melhor obra da maturidade de Cristino da Silva" [10] –, e o conjunto da Praça do Areeiro (Praça Francisco Sá Carneiro), Lisboa. Com o seu caráter "historicista-monumental", o Areeiro evoca "temas urbanos da contemporânea BerlimNazi ou da Espanha Franquista (eixo simétrico e monumental da composição, galeria térreas com arcadas em pedra), em articulação com temas nacionais, como as coberturas em coruchéu piramidal".[9]
Para a Universidade de Coimbra, projeto típico do Estado-Novo – que implicou a destruição de uma vasta área da Alta de Coimbra, "com as suas antigas ruas e edifícios de valor histórico e artístico"[11] –, "Cristino teve papel importante de continuador dos projetos de Cotinelli Telmo, por falecimento deste em 1948",[12] dando continuidade às grandes opções a nível do planeamento urbanístico e impondo a "estética totalitária", grandiosa, dos edifícios.[13]
Em 1933 venceu o concurso para professor de Arquitetura na Escola de Belas-Artes de Lisboa, tendo lecionado essa cadeira do curso de Arquitetura (desde o 2º ano até ao fim do curso), a sucessivas gerações de estudantes [14][15]
↑ abcdDuarte, Carlos S. – Arquitetura em Portugal no Século XX: do modernismo ao tempo presente. In: A.A.V.V. (coordenação Fernando Pernes). Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Campo de Letras / Fundação de Serralves, 1999, p. 358
↑Tostões, Ana – Sob o signo do inquérito. A.A.V.V. – Inquérito à Arquitetura do Século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitetos, 2006, p. 22. ISBN 972-8897-14-6
↑Pereira, Paulo (1999). História da Arte Portuguesa - Volume 3 Lisboa: Temas e Debates. [S.l.: s.n.]
↑ abcFernandes, José Manuel – Português Suave: Arquiteturas do Estado Novo.. Lisboa: IPPAR, Departamento de Estudos, 2003, p. 70, 174. ISBN 972-8736-26-6
↑França, José Augusto – História da Arte em Portugal: o Modernismo. Lisboa: Editorial Presença, 2004, p. 82. ISBN 972-23-3244-9
↑Rodrigues, Francisco Castro; Dionísio, Eduarda - Um cesto de cerejas. Edição Casa da Achada - Centro Mário Dionísio. Lisboa: 2009. (pp. 51-64) ISBN 978-989-96341-1-4
↑Fernandes, José Manuel - Geração africana: arquitetura e cidades em Angola e Moçambique, 1925-1975. 2002. (p. 14)