A sua obra inicial revela o desejo de sintonia com as tendências avançadas da arquitetura internacional das primeiras décadas do século XX, sendo autor de obras emblemáticas desse período em Portugal. Viria depois a infletir, aproximando-se do pendor historicista e tradicionalista do estilo oficial do Estado Novo.
A dimensão algo restrita da sua obra construída não é proporcional à influência determinante que exerceu sobre as gerações seguintes enquanto docente e diretor da Escola de Belas-Artes do Porto (EBAP), estando ligado às origens da corrente da Escola do Porto.[1]
Biografia / Obra
Filho de Manuel de Oliveira Ramos (29 de Setembro de 1862 - 11 de Janeiro de 1931) e de sua mulher Inês Chambers (9 de Outubro de 1870 - 23 de Junho de 1961).
Foi docente no Liceu Pedro Nunes e, em 1940, ingressou como professor de Arquitectura na Escola de Belas Artes do Porto, de que se tornou diretor em 1952 (até 1967). "Ali exerceria uma considerável influência docente e profissional que lhe diminuíu as possibilidades de obra".[3]
Trabalhos iniciais como o edifício da Agência Havas, Rua do Ouro, Lisboa, revelam a assimilação de modelos clássicos aprendidos na Escola de Belas-Artes, embora já encontremos aqui grandes e funcionais vãos exteriores envidraçados.
Carlos Ramos foi autor de projetos emblemáticos do primeiro modernismo da arquitetura portuguesa, destacando-se o "projeto racionalista", não construído, para o Liceu D. Filipa de Lencastre, Lisboa – que apresentou no I Salão dos Independentes, 1930 –, e o Pavilhão do Rádio, parte do Instituto Português de Oncologia (IPO), Lisboa, complexo hospitalar que traçou no seu conjunto, cabendo-lhe depois o projeto desse "notável pavilhão em que ecoa o ensino da Bauhaus".[5][6]. Este projeto denuncia o funcionalismo e o racionalismo dos novos princípios arquitetónicos: "volume unitário definido por superfícies lisas e cobertura plana, com total ausência de decoração"[7].
O Pavilhão do Rádio, do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, inaugurado em 1933, fazia parte de um conjunto de edifícios hospitalares nunca integralmente concretizados. De acordo com a evolução do estilo pessoal de Carlos Ramos em direção ao racionalismo germânico de Walter Gropius e da Bauhaus, o Pavilhão do Rádio constitui um dos poucos exemplares arquitetónicos de cariz funcionalista da sua época, evidenciando-se a pureza racional da sua volumetria de linhas depuradas, sem quaisquer cedências aos alfabetos decorativistas da linguagem déco. Para além da sua arquitetura modernista, esta construção foi igualmente pioneira por se tratar da primeira instalação europeia desenhada para obedecer às diretrizes estabelecidas no II Congresso Internacional de Radiologia de Estocolmo de 1928. A sua planificação contou também com os exemplos dos principais centros oncológicos e complexos hospitalares da Europa, de cujo estudo Carlos Ramos retirou sobretudo a lição da conformidade entre forma e função. O edifício afirma a modernidade da sua linguagem com elementos como a cobertura em terraço diferenciado ou a exteriorização das escadas, conseguida através do rasgamento desencontrado de vãos no seu corpo central, ligeiramente destacado. Apesar das posteriores ampliações do edifício, que implicaram o levantamento de um quarto piso e a parcial uniformização da cobertura, o Pavilhão do Rádio ainda constitui um testemunho de grande valor arquitetónico e patrimonial, para além de evocar a importância do seu autor no contexto da arquitetura portuguesa do século XX.
A partir da década de 1940 Carlos Ramos acompanhou a institucionalização do estilo monumentalista/tradicionalista do Estado Novo (por vezes apelidado Português Suave), e a sua arquitetura tornou-se mais pesada e convencional, como, por exemplo, no projeto para o tribunal de Évora.[8]
Recebeu os seguintes prémios: Prémio Municipal, 1946 (moradia no Restelo); Prémio Valmor, 1958; Prémio Diário de Notícias, 1964 [2]. A atribuição do Prémio Nacional de Arte, em 1964, "coroou-lhe justamente a carreira"[11].
Encontra-se colaboração da sua autoria nas revistas 'Ilustração'[12] (1926-1975) e 'Sudoeste'[13] (1935).
Casou com Clarisse Ventura (11 de Março de 1900 - ?). Era pai do arquitecto Carlos Manuel Oliveira Ramos, seu colaborador em alguns projectos.
Alguns projectos e obras
1922 – Edifício da Agência Havas, Rua do Ouro, 234-242, Lisboa.[14][15]
A.A.V.V. – Arte Portuguesa, anos quarenta (tomo 2) . Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.
A.A.V.V. – Inquérito à Arquitetura do Século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitetos, 2006. ISBN 972-8897-14-6
COUTINHO, Bárbara Santos. Carlos Ramos (1897-1969): obra, pensamento e ação. A procura do compromisso entre o modernismo e a tradição. Dissertação de mestrado em História da Arte Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2001[17].
FERNANDES, José Manuel – Português Suave: Arquiteturas do Estado Novo. Lisboa: IPPAR, Departamento de Estudos, 2003. ISBN 972-8736-26-6
GARRADAS, Cláudia. A Colecção de Arte da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto: Génese e história de uma colecção universitária. Volume I. Dissertação de Mestrado em Estudos Artísticos, Especialização em Estudo Museológicos e Curadoriais, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Porto, 2008.
LISBOA, Maria Helena. As Academias e Escolas de Belas Artes e o ensino artístico: 1836-1910. Lisboa: Edições Colibri, 2007. ISBN972-772-688-7.
RAMOS, Carlos Manuel; ALMEIDA, Pedro Vieira de; FILGUEIRAS, Octávio Lixa. Carlos Ramos: exposição retrospetiva da sua obra. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1986.
↑ abcdA.A.V.V. – Arte Portuguesa, Anos quarenta (tomo 2). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, p. 111
↑França, José Augusto – História da Arte em Portugal: o Modernismo. Lisboa: Editorial Presença, 2004, p. 89. ISBN 972-23-3244-9
↑COUTINHO, Bárbara. «Carlos Ramos». Centro Virtual Camões do Instituto Camões. Instituto Camões. Consultado em 7 de janeiro de 2012
↑França, José Augusto – História da Arte em Portugal: o Modernismo. Lisboa: Editorial Presença, 2004, p. 88.
↑França, José Augusto – Os anos 20. In: A.A.V.V. (coordenação Fernando Pernes) – Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Fundação de Serralves; Campo de Letras, 1999, p. 77
↑Tostões, Ana – Sob o signo do inquérito. A.A.V.V. – Inquérito à Arquitetura do Século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitetos, 2006, p. 22. ISBN 972-8897-14-6
↑Fernandes, José Manuel – Português Suave: Arquiteturas do Estado Novo. Lisboa: IPPAR, Departamento de Estudos, 2003, p. 72. ISBN 972-8736-26-6
↑Tostões, Ana – Sob o signo do inquérito. In: A.A.V.V. – Inquérito à Arquitetura do Século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitetos, 2006, p. 20. ISBN 972-8897-14-6
↑No guia urbanístico e arquitetónico de Lisboa a data indicada é 1931. Ver: A.A.V.V. – Guia urbanístico e arquitetónico de Lisboa. Lisboa: Associação de Arquitetos Portugueses, 1987.
↑ abcdA.A.V.V. – Inquérito à Arquitetura do Século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitetos, 2006. ISBN 972-8897-14-6
↑Índice, introdução, fontes e bibliografia disponível no DITED da Biblioteca Nacional.
Ligações externas
COUTINHO, Bárbara - Carlos Ramos. no Centro Virtual Camões do Instituto Camões. (Acesso em 7 de janeiro de 2012)