Crow (nome em Crow: Apsáalookěi IPA sio|ə̀ˈpsáːɾòːgè) é uma língua sioux do vale do rio Missouri falada hoje e primariamente pelos Crows no sudeste de Montana, Estados Unidos. Essa é uma das línguas de populações indígenas das Americas que tem mais falantes, com 4.280 registrados no Censo americano de 1990. [1]
A língua Crow é muito relacionada à Hidatsa falada pela tribo Hidatsa dos Dakotas, sendo que as duas são as únicas sobreviventes dentre os idiomas “Sioux do vale do rio Missouri” (Crow-Hidatsa). [2][3] A língua ancestral das Crow-Hidatsa pode ter se originado da primeira divisão das Proto-Sioux. Crow e Hidatsa não são mutuamente inteligíveis, mas compartilham muitos aspectos de fonologia, morfologia, sintaxe e cognatos. A separação das duas deve ter ocorrido há cerca de 300 a 800 anos.[4][5][6]
Uso atual
Conforme Ethnologue (dados de 1998), 77% dos Crows acima de 66 anos, alguns pais e adultos mais velhos, poucos estudantes e nenhuma criança da pré-escola falavam a língua. 80% dos Crow prefere falar a língua inglesa.[1] A língua foi classificada como “definitivamente em perigo de extinção” pela UNESCO em 2012.[7]
Porém, R. Graczyk diz em sua A Grammar of Crow (2007) que "de forma diversa de muitas outras língua nativas da América do Norte em geral e em particular daquelas da planície setentrional, a língua Crow tem uma considerável vitalidade: há falantes fluentes de todas as idades e pelo menos algumas crianças estão tendo o Crow como sua primeira língua." Muitas das pessoas mais jovens que não falam o Crow podem compreendê-lo. Quase todos os que falam a língua também falam o inglês. [8] O contato com não-índios na reserva durante centenas de anos levou a um grande uso da língua inglesa na comunidade. Porém, a língua e a cultura Crow se preservaram por meio de tradições religiosas e do sistema de clãs.
Escrita
A língua Crow usa o alfabeto latino ensinado por missionários com as seguintes características:
- Vogais – a, e, i, o, u – para indicar vogais longas as mesmas são representada duplicadas. Para marcar os tons, o tom alto é marcado á / áá; o tom decrescente á marcado áa; o tom baixo não tem marcação
- Consoantes – Em função da pobre fonologia Crow, não são usadas as consoantes c, f, g, j, q, r, v, y, z – mas existem Ch, Sh, ?.
Fonologia
Vogais
São cinco as vogais em crow, que podem ser longas ou curtas, com exceção das vogais mediais.
Há ainda um ditongo marginal , ea [ea] que só ocorre em duas raízes nativas do crow: déaxa 'claro' and béaxa 'intermitente'.
Consoantes
Crow tem um inventário bem reduzido de consoantes, no que se assemelha a outras línguas das Grandes Planícies.
As plosivas oclusivas são aspiradas quando no início de palavras, no final das mesmas, quando geminadas (ex. [ppʰ]) e quando seguem outra oclusiva (ex. [ptʰ]). Oclusivas em dígrafos com h tal em radical inicial (hp, ht, hk) não sã aspiradas e são relaxadas. Geminação em oclusivas somente ocorre entre vogais. Uma consoante oclusiva sozinha entre vogais, não geminada é relaxadas, não aspirada e geralmente sonora. A diferença entre as oclusivas sonoras b e d (alofones de m e n) e as surdas é percebida com dificuldade quando seguindo uma fricativa, pois ambas são relaxadas e não aspiradas. O fonema k tem um alofone palatizado [kʲ] que ocorre depois de i, e, ch, sh, muitas vezes no final da palavra.
As fricativas são tensas, sendo relaxadas somente entre vogais. O sh palatal é frequentemente sonoro entre vogais, onde o s é por vezes também sonoro; o x nunca é sonoro. A fricativa alveolar /s/ tem o alofone opcional /h/ no início de frase.
- sáapa "o que" > [háapa]
- sapée "quem" > [hapée]
Os sonoros fortes /m/ e /n/ têm três alofones: w e l quando entre vogais, e b e d no início de palavras e quando seguem uma obstruente. São m e n em todas demais condições. Na fala mais convencional, l é percebido como um r vibrante, porém, nos demais casos é percebido mesmo como l, talvez devido à influência da língua inglesa. O b quando no início de palavras é opcional para /m/, mas o b é de uso mais frequente. A glotal forte /h/ assimila a nasalização do segmento seguinte, mas mantém sua característica surda. Quando segue i ou e ou segue ch, /h/ pode ser percebida como fricativa alveolo-palatal.
Amostra de texto
Pai Nosso em Crow
Min-upguá akmakukuré danashé izshíu,
andibabazéze máre hîi, ba-an-da-nas'-dó-díu makukuré,
arakóte amé áken kuh marakotîi.
Maré mapam-barú sua hinné mapé mirikiú míru baskotáo arakavirét bavíavuk,
Dih maré arakiverétta mirikiú: arakavía maré diazíssa,
bagavía gagúá maré hizíssa.
Kótak.
Notas
- ↑ a b Ethnologue
- ↑ Silver and Miller 1997: 367.
- ↑ Graczyk, 2007: 2
- ↑ Graczyk, 2007: 2-3.
- ↑ Matthews, 1979: 113-25.
- ↑ Hollow and Parks, 1980: 68-97.
- ↑ UNESCO Atlas of the World's Languages in danger - 2012-09-29 [1]
- ↑ Graczyk, 2007: 1.
Bibliografia
- Graczyk, R. 2007. A Grammar of Crow: Apsáaloke Aliláau. Lincoln, NE: University of Nebraska Press.
- Hollow, R.C., Jr.; Douglas R. Parks. Studies in Plains linguistics: a review. In Anthropology on the Great Plains, ed. W. Raymond Wood and Margot Liberty. Lincoln, NE: University of Nebraska Press.
- Kaschube, D.V. 1978. Crow Texts. IJAL-NATS Monograph No. 2. Chicago, IL: University of Chicago Press.
- Kaschube, D.V. 1963. Structural Elements of Crow. Doctor of Philosophy Dissertation, Department of Anthropology, Indiana University, June 1960. Ann Arbor, MI: University Microfilms.
- Kaschube, D.V. 1967. Structural Elements of Crow. Boulder, CO: University of Colorado Press.
- Lowie, R.H. 1945. The Crow Language: Grammatical Sketch and Analyzed Text. American Archaeology and Ethnology, 39 (1942–1945):1-139. Berkeley and Los Angeles, CA: University of California Press.
- Lowie, R.H. 1960. Crow Texts. Berkeley and Los Angeles, CA: University of California Press.
- Lowie, R.H. 1960. Crow Word Lists. Berkeley and Los Angeles, CA: University of California Press.
- Matthews, G.H. 1979. "Glottochronology and the separation of the Crow and Hidatsa." In Symposium on the Crow-Hidatsa Separations, ed. by Leslie B. Davis. Bozeman, MT: Montana Archaeological Society.
- Silver, S. & W.R. Miller. 1997. American Indian Languages: Cultural and Social Contexts. Tucson: The University of Arizona Press.
Ligações exeternas