Em 05 de dezembro de 1935, um grupo de médicos membros da Academia Nacional de Medicina, dentre os quais Rolando Monteiro, funda a Faculdade de Ciências Médicas do Rio de Janeiro como Sociedade Anônima, motivados por interesses de reconhecimento acadêmico e com suporte de alianças políticas importantes, como Pedro Ernesto, médico e prefeito da cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Em abril de 1936, nas dependências do Hospital Graffrée-Guinle, aconteceu a abertura do Curso da 1ª Turma da Faculdade de Ciências Médicas. Posteriormente, a Faculdade se transferiu nos anos 40 para sede própria na rua Fonseca Telles, n° 121, em São Cristóvão. Os alunos tinham aulas teóricas neste edifício em São Cristóvão, enquanto realizavam os estágios práticos nas unidades de saúde em que trabalhavam os docentes.
Aos poucos, a faculdade foi crescendo, ganhando renome e conquistando professores da prestigiada Faculdade Nacional de Medicina, da Universidade do Brasil - hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 1950, junto à Faculdade de Ciências Jurídicas, à Faculdade de Ciências Econômicas e à Faculdade de Ciências e Letras, deu origem à Universidade do Distrito Federal , começando a receber subsídios da prefeitura. Em 1961, durante o governo de Carlos Lacerda, a Universidade do Distrito Federal se transformou na Universidade do Estado da Guanabara, à qual foi agregado o Hospital Universitário Pedro Ernesto, que centralizou o ciclo profissional dos estudantes em um Hospital de Clínicas[7].
Durante a ditadura militar brasileira, o Centro Acadêmico Sir Alexander Fleming (Casaf) foi um dos importantes locais de resistência ao governo militar, tendo muitos alunos da faculdade se aliado a movimentos de esquerda que combatiam o regime ideologicamente ou nas ruas. Em 22 de outubro de 1968, durante manifestação de alunos que culminou em confronto com as forças governamentais, o estudante Luiz Paulo da Cruz Nunes, segundanista de 21 anos, foi atingido na cabeça por um tiro dos militares, sendo prontamente internado, junto a outros feridos, no próprio hospital universitário, que foi então cercado pelas forças policiais. O Hupe permaneceu sob cerco e ameaça eminente de invasão por algumas horas. Luiz Paulo, apesar dos esforços dos professores e colegas, faleceu no mesmo dia, se tornando símbolo para as gerações seguintes da faculdade [8]. Em 1969, o presidente do Centro Acadêmico Sir Alexander Fleming (Casaf), João Lopes Salgado, participou do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, dirigindo um carro de apoio durante a captura do diplomata [9].
A história da faculdade também é marcada por algumas inovações no ensino, como a modernização da cadeira de Higiene, entrelaçando os conhecimentos das Ciências Sociais com os da Saúde Pública tradicional e abrigando importantes sanitaristas, que formariam mais tarde uma unidade independente da UERJ - o Instituto de Medicina Social (IMS). Também, as experiências exitosas da faculdade com o internato rural, o Ambulatório de Medicina Integral e o ensino humanizado, acabaram levando à formação do Departamento de Medicina Integral, Familiar e Comunitária, ao qual estão vinculados até hoje pessoas renomadas na área [7].
Ensino
Sua formação tradicional é reconhecida nacionalmente por formar médicos conceituados. Consistindo de um curso teórico-prático, as disciplinas são ministradas no Pavilhão Américo Piquet Carneiro (Vila Isabel), no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), na Policlínica Piquet Carneiro (PPC) e no Campus Cabo Frio, inaugurado em 2023. O curso de graduação em Medicina é um dos poucos da UERJ a ainda funcionar em regime seriado, o mais longo em tempo de formação - seis anos - e está dividido entre o módulo básico - de quatro anos e meio de duração - e o módulo profissional, ou internato - de um ano e meio de duração.
O módulo profissional, que atualmente dura o último ano e meio do curso, consiste em sete disciplinas obrigatórias, num total de 3006 horas: Pediatria e Puericultura (FCM), Ginecologia (FCM), Obstetrícia (FCM), Cirurgia Geral (FCM), Clínica Médica e Propedêutica (FCM), Medicina Integral e Saúde Coletiva (FCM) e Integração Curricular em Emergência (FCM). As outras 720 horas do módulo profissional são escolhidas pelo estudante entre até quatro disciplinas opcionais[11].
Hospital Universitário Pedro Ernesto
O Hospital Universitário Pedro Ernesto, fundado em 1950, dispõe de um corpo clínico formado por profissionais reconhecidos em âmbito nacional e internacional, constituindo um centro de excelência na área da saúde. Tem como um de seus objetivos o desenvolvimento de pesquisas e a produção de conhecimento, já tendo sediado congressos de importante relevância médica. Seu centro cirúrgico é reconhecido pela realização de cirurgias de alta complexidade - como cirurgias cardíacas e transplantes renais -, constituindo importante polo para a sociedade fluminense.[12] O hospital foi o primeiro centro de ensino da saúde do Rio de Janeiro a receber o título de Hospital Amigo da Criança, concedido pelo Ministério da Saúde e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em razão de suas campanhas de aleitamento materno, treinamento específico de profissionais e oferecimento de recursos à gestantes.[13]
A unidade funciona atualmente de forma autônoma dentro da UERJ, tendo posição equivalente aos outros institutos, com os quais colabora para o processo de ensino-aprendizagem, para a pesquisa científica e para a assistência à saúde, sendo vinculado ao Sistema Único de Saúde.
Hospital Universitário Reitor Hesio Cordeiro
O Hospital Universitário Reitor Hesio Cordeiro, inaugurado em dezembro de 2021 na cidade de Cabo Frio/RJ, atende cerca de 600 pacientes por mês oriundos do Sistema Único de Saúde.
A unidade, que era da iniciativa privada, estava fechada desde dezembro de 2020, mas foi incorporada à Universidade por meio de parceria com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, possibilitando sua reabertura como hospital universitário do Sistema Único de Saúde (SUS).
Para marcar a transferência para a rede pública, seu novo nome presta homenagem ao médico sanitarista e ex-reitor da Uerj Hesio Cordeiro, professor do Instituto de Medicina Social da Universidade. Cordeiro foi um dos idealizadores do SUS..