No futebol doméstico, foi ídolo no Nacional, clube pelo qual foi três vezes campeão uruguaio (1946, 1947 e 1950).[1] Vestiu a camisa da Celeste Olímpica em 31 ocasiões oficiais, entre 1945 e 1954.[3]
Há fonte na mídia brasileira a aponta-lo como sobrinho de Domingo Tejera, por sua vez campeão da Copa do Mundo FIFA de 1930,[4] informação ausente em meios estrangeiros,[5] incluindo perfil seu em livro uruguaio dedicado aos ídolos do Nacional.[1]
O Uruguai ficou apenas em quarto na Copa América, mas Tejera, que no torneio iniciou dupla com Raúl Pini,[7] passou a reedita-la no Nacional, que o contratou no decorrer de 1945. Um primeiro título veio em 1946,[8] ano em que Tejera, mesmo recém-chegado e mais novo que alguns colegas, foi escolhido o novo capitão para suceder o aposentado Roberto Porta,[1] ex-jogador das seleções italiana e uruguaia.[9]
A conquista seguida de um bicampeonato em 1947.[10] Assim, o Nacional foi o representante Uruguai no Campeonato Sul-Americano de Campeões realizado no início de 1948, considerado precursor da Taça Libertadores da América. A competição foi sediada no Chile e a equipe uruguaia foi a que recebeu as melhores condições econômicas para participar.[11]
Na competição, o Nacional venceu por 3-0 o River Plate, no que foi considerada a melhor exibição de um dos participantes.[11] O campeão terminou sendo o Vasco da Gama, com os uruguaios culpando uma arbitragem tendenciosa no confronto contra o time anfitrião, o Colo-Colo. O ano, porém, ficou marcado por uma longa greve, que paralisou o campeonato após a primeira rodada do segundo turno. O Nacional era o líder invicto e foi declarado campeão em função do longo tempo de greve.[11]
Como a greve alongou-se demais, decidiu-se que o Nacional seria declarado campeão. Naquele ano, o clube também venceu a Copa Ricardo Aldao válida ainda pelo ano de 1946, com uma goleada de 7-2 sobre o San Lorenzo. O torneio era um tira-teima contra o campeão argentino para definir o melhor time do Rio da Prata. A disputa se atrasou em virtude de excursão do San Lorenzo à Europa.[11] O próprio futebol argentino também enfrentou greve na época, levando ao êxodo de muitos dos grandes astros de lá ao chamado "Eldorado Colombiano". Eram tempos em que a atividade de futebolista, embora já profissionalizada, não era lucrativa, com contratos considerados "escravagistas".[12]
A liga colombiana, por sua vez, oferecia contratos capazes de atrair até jogadores europeus, ainda que fosse banida pela FIFA por descumprir diretrizes sobre as transferências.[12] A greve levaria o parceiro de Tejera, Raúl Pini, ao Millonarios,[11] a principal equipe do "Eldorado", a contratar também os astros argentinos Alfredo Di Stéfano, Adolfo Pedernera e Néstor Rossi.[12] Sem Pini, Tejera passou a fazer dupla de zaga com José Santamaría, posteriormente colega do próprio Di Stéfano no Real Madrid e na seleção espanhola.[13] O Peñarol terminou campeão em 1949, em campanha que fez com que três adversários deixassem o estádio durante o intervalo: Rampla Juniors, o Liverpool e o próprio Nacional, que abandonou a partida no intervalo após derrota parcial de 2-0 na qual tivera dois jogadores expulsos, no que ficou conhecido como Clásico de la Fuga.[14] Um dos expulsos havia sido Tejera.[1]
O Peñarol, naturalmente, foi a base da seleção na Copa do Mundo FIFA de 1950, com seis dos titulares no Maracanaço. Já Tejera foi um dos três tricolores, junto com Schubert Gambetta e Julio Pérez, ainda que estivesse visivelmente fora de forma, com uma barriga saliente.[2] Tejera estava oito quilos acima do ideal em função de uma lesão que o deixara muito tempo parado. Seu armário nos vestiários do clube era descrito como uma verdadeira "farmácia".[1] O Nacional terminou campeão uruguaio em 1950, motivo de orgulho especial por definir-se como campeão do país campeão mundial. Mas, curiosamente, os jogadores vencedores da Copa tiveram escassa participação, casos dele, de Gambetta, Pérez e de Aníbal Paz e Rodolfo Pini,[13] reservas na seleção - Rodolfo era irmão de Raúl, cuja presença no exterior o privou de participar da Copa.[15]
O próprio Tejera também foi em seguida jogar na "liga pirata" colombiana, defendendo por dois anos o Cúcuta. Voltou ao Uruguai posteriormente para jogar no Defensor,[2] clube que defendia quando foi convocado à Copa do Mundo FIFA de 1954.[16] Parou de jogar em 1958.
Tejera foi titular d Copa do Mundo FIFA de 1950 mesmo oito quilos acima do ideal,[1] com as fotografias da época registrando uma barriga saliente. A convocação não deixou de ser bastante criticada pela imprensa de seu país.[2] Tejera fez dupla de zaga com Matías González desde a primeira partida, o 8-0 sobre a Bolívia.[20] Mas a falta de forma lhe atrapalhou nas partidas seguintes. Contra a Espanha, o Uruguai começou vencendo, mas o placar foi revertido par 2-1 após Tejera não conseguir acompanhar a velocidade do ponta adversário Estanislao Basora. Os sul-americanos conseguiram o empate graças a uma jogada individual de Obdulio Varela.[21]
Contra a Suécia, o desenrolar foi semelhante: os uruguaios começaram ganhando e sofreram virada parcial de 2-1. Tejera foi o único jogador de linha a permanecer recuado enquanto os demais colegas avançaram para evitar a derrota, tática premiada com nova virada, agora favorável, com a Celeste vencendo por 3-2 graças a dois gols nos quinze minutos finais.[22] No dia do Maracanaço, Tejera e os demais uruguaios pareciam relaxados quando estavam perfilados nas cerimônias pré-jogo contra o Brasil.[23] Quando as duas seleções posaram para fotografias, o grosso dos repórteres posicionou-se para registrar os brasileiros. Tejera então chegou a exclamar:[1]
Na partida, Tejera foi encarregado de marcar Zizinho,[1] sendo auxiliado na tarefa pelo meia-direita Juan Alberto Schiaffino, que recuava com o outro meia, Julio Pérez, para reforçar a marcação a fim de evitar as trocas de passes entre Zizinho, Ademir de Menezes e Jair da Rosa Pinto, jogadas que haviam feito o Brasil golear os adversários anteriores. Tejera também ocasionalmente, pelo centro, auxiliava Matías González na marcação sobre Ademir. A tática surtiu efeito no primeiro tempo, encerrado em 0-0 e com os lances mais perigosos sendo criados pelos visitantes.[24] No segundo tempo, ele não teve culpa no gol brasileiro, de Friaça.[25]
Tejera largou o futebol assim que parou de jogar, passando a levar uma vida modesta como funcionário público, como a maioria dos ex-colegas de Maracanaço.[29] Também foi taxista e faleceu aos oitenta anos, em 9 de novembro de 2002.[2] Sua morte deu-se próximo das datas de falecimento de outros colegas da seleção de 1950, casos de Julio Pérez, também do Nacional, e Juan Alberto Schiaffino, do rival Peñarol. Assim, um clássico Nacional vs. Peñarol realizado em 24 de novembro homenageou o trio com um minuto de silêncio, com as duas torcidas rivais unindo-se nos aplausos.[1]
↑ abcdefghijklmnBASSORELLI, Gerardo (2012). Julio Pérez. Héroes de Nacional. Montevidéu: Editorial Fin de Siglo, pp. 128-132
↑ abcdefghijGEHRINGER, Max (dez. 2005). Os campeões. Placar Especial "A Saga da Jules Rimet fascículo 4 - 1950 Brasil". São Paulo: Editora Abril, pp. 40-41
↑ abABBINK, Dinant; TABEIRA, Martín (11 de fevereiro de 2006). «Uruguay - List of Final Tables 1900-2000». RSSSF. Consultado em 29 de setembro de 2017 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑MELOS PRIETO, Juan José (2012). 1946. El Padre de la Gloria. Montevidéu: Ediciones El Galeón, pp. 100-101
↑BASSORELLI, Gerardo (2012). El Tano Porta. Héroes de Nacional. Montevidéu: Editorial Fin de Siglo, pp. 24-29
↑MELOS PRIETO, Juan José (2012). 1947. El Padre de la Gloria. Montevidéu: Ediciones El Galeón, pp. 102-103
↑ abcdeMELOS PRIETO, Juan José (2012). 1948. El Padre de la Gloria. Montevidéu: Ediciones El Galeón, pp. 102-103
↑ abcLEAL, Ubiratan (dez. 2007). A lenda do El Dorado. Trivela n. 22. São Paulo: Trivela Comunicações, pp. 42-43
↑ abMELOS PRIETO, Juan José (2012). 1950 - Nacional campeón en el país campeón del mundo. El Padre de la Gloria. Montevidéu: Ediciones El Galeón, pp. 110-113