Eugénio Correia (1897-1985) foi um arquitetoportuguês, considerado um dos maiores expoentes de um tipo de arquitectura modernista, conciliada com a tradição nacional portuguesa.
No final dos anos 1920, Eugénio Correia, então um arquitecto secundário, mas a quem se atribuía "a reconstituição do estilo arquitectónico português" defendeu, em entrevista ao "Diário de Lisboa", o Plano Forastier para Lisboa, da autoria do arquitecto francês Jean-Claude Nicolas Forestier.[1]
Em 8 de Novembro de 1941, na qualidade de presidente da Sociedade de Belas Artes, presidiu à inauguração da exposição "Nova Arquitectura Alemã", organizada no edifício da Sociedade pelo Inspector Geral de obras da capital do III Reich, o arquitecto Albert Speer, com a presença do Presidente da República General Carmona, e do Ministro das Obras Públicas, Engenheiro Duarte Pacheco. A exposição esteve 14 dias aberta ao público, sendo visitada por mais de cem mil pessoas, tornando-se a maior até então exibida em Portugal.[3]
Em 1968 pertencia ao Conselho Superior das Obras Públicas.[4]
Entre 1935 e 1938 projectou o Bairro do Consórcio Português de Conservas de Peixe em Olhão, para a Secção de Construção de Casas Económicas da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), constituído por sessenta e seis casas, sendo a primeira realização de habitação de baixo custo com apoio estatal naquele concelho.[7]
Entre 1933 e 1938 colaborou com Raul Lino na execução do Bairro Económico de Belém, também denominado de Bairro Económico das Terras de
Forno, localizado a nascente do Mosteiro dos Jerónimos, com uma área de 62.504 m². De 1938 a 1940 projectou o bairro económico de Telheiros da Ajuda/Alto da Ajuda, em Lisboa[8]
Em 1948 projecta o Bairro de Casas Económicas Engenheiro Duarte Pacheco, actual Bairro Económico da Horta da Cavalinha, em Olhão, no âmbito da Direcção dos Edifícios do Sul/Secção de Construção de Casas Económicas da DGEMN, onde dominava a habitação unifamiliar geminada, de um a dois pisos, de inspiração popular. O bairro abrangia várias tipologias, denotando o gosto "tradicionalista" do Estado Novo quando tratava de alojar comunidades mais desfavorecidas ou de características rurais. O conjunto era composto por oito arruamentos, unificados em torno da escola primária, constituída em equipamento colectivo de eleição na vida comunitária. Existem dados que permitem colocar o fim da construção deste bairro em 1953.[9]
Sobre este bairro o geógrafoalemãoWilhem Giese, que nos anos 1930 discutira em artigos científicos a origem da açoteia olhanense, voltando à vila vinte anos depois, assinalou que as "(...)casas espaçosas de dois andares com todas as comodidades modernas(...", tinham adoptado um elemento tradicional: a escada exterior que, projectada da empena de cada casa, permitia o acesso à moderna açoteia, à semelhança das que, nas casas tradicionais do centro, ligavam as antigas açoteias aos mirantes. Para Giese, este bairro, como os seus congéneres, "expressivamente modernos", constituíam-se como exemplos da "mescla do antigo e do novo, do que está morrendo e do que está crescendo" em Olhão, deixando uma impressão forte e positiva.[7]
O seu projecto de Casas Económicas em Olhão, juntamente com as Casas para Pescadores de Inácio Peres Fernandes, e as Casas para as Classes Pobres de António Gomez Egea e Luís Guedes, é considerado de importância fundamental para a definição de uma identidade arquitectónica moderna daquela cidade.[7]
Colónia Agrícola de Santo Isidro de Pegões
No início da década de 1950 projecta o grupo de Pegões Velhos da Colónia Agrícola de Santo Isidro de Pegões, no Montijo, composto por igreja, duas escolas primárias, uma para cada sexo, e três habitações destinadas ao padre e professoras,d e concepção surpreendente moderna e de uma ousadia formal. Sobre este conjunto, escreveu o arquitecto Nuno Teotónio Pereira: ".. as obras de Eugénio Correia, com as suas construções em superfícies parabólicas, constituem um grito de radical modernidade que fazem delas um caso singular no panorama da arquitectura em Portugal. (...) A juntar a isso, acontece que, dentro desta forma, não muito comum no contexto da arquitectura moderna, a técnica construtiva, à base de fusos cerâmicos, lhes confere uma acrescida originalidade".[10]
A Igreja de Santo Isidro de Pegões foi inaugurada em 1957 pela Junta de Colonização Interna, formando parte do conjunto edificado no âmbito do projecto de colonização do planalto de Pegões. O edifício, embora integrado nos planos de edificações do Estado Novo, possui uma arquitectura fora dos cânones em voga na época, integrando-se perfeitamente na paisagem circundante. O templo tem a fachada virada a norte, e interior de uma só nave despojada de qualquer tipo de decoração, com baptistério. Na capela-mor encontra-se uma grandiosa pintura mural a fresco, onde se representa a figura de Santo Isidro, da autoria de Severo Portela Júnior.[11]
Piódão
Em 1974,[12] membros da Comissão de Melhoramentos da Freguesia do Piódão levaram àquela aldeia Eugénio Correia, "cuja influência no poder político levou, por sua vez, à intenção de parar de imediato com todas as alterações à unidade arquitectónica e à fisionomia de conjunto da aldeia, vista como um património raro."[13] O arquitecto tornou-se um dos principais promotores da elevação da povoação do Piódão a Imóvel de Interesse Público, merecendo a sua especial atenção pela peculiaridade das suas construções, totalmente em xisto, tanto as paredes como as coberturas. A classificação veio a concretizar-se por despacho ministerial de Abril de 1976, confirmado pelo Decreto-Lei nº 95/78, de 12 de Setembro de 1978.[14] A localidade homenageou o arquitecto atribuíndo o seu nome à Rua Eugénio Correia.[15]
↑Moreno, L. (1999) – “A serra do Açor e o Piódão: refúgios de uma ruralidade recriada”. In, Cavaco, C. (coord.): Desenvolvimento Rural. Desafio e Utopia. Lisboa, CEG, p. 399.