Foi uma personalidade única no que se refere ao panorama das artes em Portugal, muito devido ao facto de ter conseguido articular a tradição portuguesa com as inovadores correntes europeias do início do séc. XX.[2] Com 70 anos de atividade profissional, Lino é autor de mais de 700 obras. Também é importante referir que apesar do seu leque de projetos, ele também foi um homem com uma vasta obra teórica ou escrita, o que se tornou muito determinante, para os seus seguidores aos longo de décadas em Portugal.[3]
Raul Lino fez os seus estudos na Grã-Bretanha e Irlanda, para onde se deslocou com 10 anos de idade, e depois de 1893 na Alemanha, onde trabalhou no atelier de Albrecht Haupt[1], com quem manteve uma amizade duradoura.
O encontro e a amizade que manteve com o arquiteto alemão foi um dos pontos marcantes da sua formação estética, arquitectónica e da concepção do cultural. Haupt era apaixonado pela arquitectura do renascimento e levou a cabo várias viagens de estudo na Itália, Espanha e Portugal, procurando o contacto directo com as obras, por mais recônditas que estivessem, desenhando-as e documentando-se abundantemente. Uma concepção da cultura como elemento vivo, que se pode experimentar no terreno e participar dela.
Ao longo dos seus 70 anos de artista e arquitecto, defendeu a tradição na concepção das formas, afirmando que a arte e a arquitectura são elas também um produto do homem e para os homens, com história, genealogia, características e funcionalidades próprias do espaço e do tempo em que se inserem e da comunidade para que são produzidas. É, assim, um defensor da tradição versus modernismo ou um modernista da tradição.
Nasceu e foi batizado na Paróquia da Lapa, em Lisboa, filho de José Lino da Silva, negociante, e de D. Maria Margarida de La Salette Lino, ambos naturais de Lisboa.[9]
Casou em Lisboa, na igreja de São Sebastião da Pedreira, a 29 de abril de 1907, com Alda Decken dos Santos, então ainda menor, de 19 anos, natural de Lisboa, filha de Joaquim Antunes dos Santos, natural de São Domingos de Rana (Cascais), e de D. Cristina Luísa Bernardina Gertrudes Hermínia Decken - de nome original, Christine Decken, por casamento dos Santos -, natural de Wesel, Alemanha.[10] Viveu numa casa na Avenida António Augusto de Aguiar, 18, em Lisboa, propriedade da sogra. Do casamento, resultaram duas filhas: Isolda Lino e Maria Cristina Lino[11].
Morreu a 13 de julho de 1974, na freguesia da Penha de França, em Lisboa, onde residia na Rua Feio Terenas, n.º 1, 1.º andar. Foi sepultado no Cemitério de São Pedro de Sintra.[12]
Carreira
No fundo podemos considerar Lino como um arquiteto de um paradigma consistente e inovador. Criando espaços voltados e organizados para pátios interiores, onde existe a criação de sombras e espaços de transição, em que valoriza os alpendres, uma pouco numa perspetiva anti-urbana. Designada romanticamente por Raul Lino como espírito do lugar, muito ao jeito de Frank Lloyd Wright (1876–1959), a sua arquitetura valorizava a articulação com a paisagem, segundo uma composição orgânica, sábia e intuitiva, com gosto pelo uso de materiais tradicionais, que apesar de terem um carácter decorativo são essencialmente funcionais, de acordo com os modos tradicionais do Arts and Crafts. Vai elaborar projetos a partir da planta, com uma interpretação das necessidades dos seus utilizadores com uma cuidado de quem entende a casa como um espaço de vivencia tanto individual como coletivo. Com uma aspiração de projetar uma obra de arte total, na qual vai envolver o seu mobiliário e o desenho do jardim.[13]
Em 1912 foi lhe encomendado o projecto e requalificação das novas instalações do Jardim Zoológico de Lisboa na Quinta das Laranjeiras, obra de grande destaque que qualificaria o Zoo como dos mais relevantes da Europa do século XX. [14]
Foi ainda autor de numerosos textos teóricos sobre o problemática da arquitectura doméstica popular, como A casa portuguesa (1929), Casas portuguesas (1933) e L'évolution de l'architecture domestique au Portugal (1937).
Posteriormente, alguns textos foram reunidos num livro publicado pelo jornal O Independente em 2004, de nome "Não é artista quem quer".
↑Revista 25 de Abril n.º 15 (1976). Auto da Barca do Inferno adaptado para as crianças portuguesas - um inédito de Afonso Vieira Lopes. [S.l.]: Secretaria de Estado da Emigração