Disputada pela primeira vez em 1991, tinha como objetivo definir o segundo clube do Rio de Janeiro que participaria da Copa do Brasil. Contudo, por alguns anos essa finalidade ficou de lado, a começar pela edição inaugural: o Flamengo foi o primeiro vencedor da história da Copa Rio, porém não participou da copa nacional do ano seguinte. O torneio só voltou efetivamente a garantir uma vaga em competições nacionais a partir de 2007, ano em que o campeão pôde escolher entre uma vaga na Copa do Brasil ou no Campeonato Brasileiro da Série C. Com a criação de mais uma divisão no futebol brasileiro a partir de 2009, desde 2008 o campeão da Copa Rio escolhe entre a Copa do Brasil ou Campeonato Brasileiro da Série D.
Ao longo dos anos, o torneio já foi disputado em diversos formatos e com número de participantes variando a cada edição. Atualmente, é jogado em sistema eliminatório, com partidas de ida e volta até a grande decisão. São aptos a participar da Copa Rio clubes das quatro primeiras divisões do escalão estadual, definidos de acordo com as posições nas respectivas competições.
Em 27 edições realizadas, houve 17 clubes campeões. O Volta Redonda é o maior vencedor da Copa Rio, com cinco títulos, seguido pela Portuguesa-RJ, com três conquistas.
História
1991–1995: surgimento
Antes da Copa Rio, a Taça Guanabara, em edições independentes (de 1965 a 1971 e em 1980), exercia o papel de competição secundária em relação ao Campeonato Carioca no cenário do futebol do Rio de Janeiro. Com essa lacuna em aberto já há alguns anos, na década de 1990 o dirigente Eduardo Viana, que presidiu a FERJ de 1984 até 2006, decidiu criar a então chamada Taça Rio.
Em agosto de 1990, o Conselho Arbitral da federação aprovou a criação da "I Taça do Estado do Rio de Janeiro", um novo torneio com a participação de times da segunda e terceira divisão estadual em uma fase inicial, com os times da primeira divisão se juntando numa fase final.[1] O propósito original da nova competição era definir um dos representantes do estado na Copa do Brasil do ano seguinte (o outro seria o campeão do Campeonato Carioca), além de manter as equipes em atividade entre o Campeonato Brasileiro e o estadual, mas a ideia não recebeu muita aceitação dos chamados clubes grandes.[2][3] Segundo o pesquisador Roberto Assaf, o certame possuía uma motivação obscura:[4]
"Na verdade, a premissa desse torneio era uma vergonha. Ele foi criado para ver se o Americano [time pelo qual Viana torcia] era campeão".[4]
A primeira edição contou com a participação de 24 equipes, divididas entre o "Campeonato da Capital" e o "Campeonato do Interior".[2] Por conta do grande número de equipes, o Jornal dos Sports chegou a apelidar o torneio de "Copão".[5] Ao final da competição, o Flamengo, que jogou a maior parte da disputa com os reservas, derrotou na decisão o Americano, justamente o time de Eduardo Viana.[6] Apesar do título, o rubro-negro não disputou a Copa do Brasil de 1992.[7]
Nos dois anos seguintes, ocorreram as únicas duas edições que tiveram clássicos nas finais. Em 1992, o Vasco da Gama derrotou o Fluminense nas duas partidas decisivas.[8] Já em 1993, o cruz-maltino levou a melhor diante do Flamengo na final, em uma competição esvaziada e jogada em sua maior parte com reservas.[4]
Em 1994, o Volta Redonda bateu o Fluminense nos pênaltis e ficou com a taça.[8] Nessa edição, o Vasco desistiu no meio da disputa, uma vez que já estava classificado para a Copa do Brasil.[9] Já em 1995, o Voltaço sagrou-se bicampeão em uma edição marcada por outra desistência, dessa vez do Flamengo, que se retirou da disputa alegando divergências com a FERJ. Nesse ano, os outros grandes clubes só escalaram reservas e não avançaram até à final.[8][4]
De todas essas primeiras edições, apenas uma vez o propósito da competição de classificar a equipe vencedora para a Copa do Brasil se cumpriu, quando o Volta Redonda disputou o torneio nacional em 1995, por ter vencido a Copa Rio do ano anterior. Em 1992 e 1993, o Vasco também foi campeão estadual, ganhando a vaga por esta competição. Já a partir de 1995, a CBF começou a aplicar novos critérios de participação na Copa do Brasil, aumentando o número de representantes por estado, não contemplando mais a Copa Rio.[8]
1996–1997: as Copas do Interior
No início de 1996, a CBF aumentou novamente o número de participantes da Copa do Brasil, incluindo não só campeão e vice cariocas do ano anterior, mas também equipes convidadas, o que contemplava todos os quatro grandes. Com isso, a Copa Rio perdeu ainda mais prestígio: sem a participação das maiores equipes do estado, os demais times da capital também não demonstraram interesse. Assim, foi disputado apenas o "Campeonato do Interior" tanto em 1996 quanto em 1997.[10]
A partir de 1998, a FERJ reformulou o torneio para ter o retorno dos times da capital, porém sem garantir classificação para a Copa do Brasil. Contudo, esta empreitada durou apenas três anos. Na edição de 1998, as equipes participantes foram divididas em três grupos, dois com clubes da capital e um com agremiações do interior.[11] Flamengo e Fluminense foram as únicas equipes grandes que participaram do campeonato. Para o Tricolor, recém-rebaixado para a Série C do Campeonato Brasileiro, a Copa Rio passou a ser tratada como "salvação" da temporada.[12] Na final, o Fluminense venceu o São Cristóvão e ficou com o título.[13]
Em 1999, o torneio foi disputado mais uma vez sem a presença de nenhum dos clubes grandes. Na ocasião, o Volta Redonda tornou-se o primeiro time a vencer a Copa Rio por três vezes, ao derrotar o Madureira nos dois jogos da final, garantindo desde então o posto de maior ganhador da competição.[8] Em 2000, o certame contou com a participação do Botafogo, marcando a última vez que um dos quatro maiores clubes do estado disputou a Copa Rio. O título, no entanto, ficou com a Portuguesa-RJ, o primeiro time de menor investimento da capital a ser campeão.[8]
2005: a edição isolada
Após cinco anos sem ser disputada, a Copa Rio foi recriada em 2005. O novato Tigres do Brasil, fundado um ano antes na cidade de Duque de Caxias, ficou com o título, superando o Macaé.[14][15]
2007–2016: a retomada definitiva
Em 2007, a competição foi retomada com novos atrativos: após muitos anos, a Copa Rio voltou a oferecer uma vaga na Copa do Brasil do ano seguinte e também passou a garantir uma vaga no Campeonato Brasileiro da Série C. Campeão da edição, o Volta Redonda optou por disputar a Copa do Brasil.[16][17] Já a vaga na Série C de 2008 ficaria com a Cabofriense, vice-campeã, que desistiu de disputar o Brasileirão.[18] Como as demais equipes mais bem colocadas não demonstraram interesse em participar, a vaga na Terceirona nacional ficou com o Duque de Caxias, sexto colocado.[19] Curiosamente, mesmo com a presença assegurada "de última hora", a equipe da Baixada Fluminense conquistou o inédito acesso para Série B de 2009 ao terminar a Série C na quarta colocação.[20]
A partir de 2008, com a anunciada reformulação da Série C do Brasileirão para o ano seguinte e a criação da Série D, a Copa Rio passou a oferecer vagas para a Copa do Brasil e para a quarta divisão nacional.[21] O campeão desta edição foi o Nova Iguaçu, que se classificaria para a Copa do Brasil, enquanto o vice-campeão Americano ficaria com a vaga na Série D de 2009. Contudo, o time da Baixada Fluminense abriu mão de sua participação na copa nacional e o Americano herdou o seu lugar. Com isso, quem participou da quarta divisão do Brasileiro foi o Madureira, terceiro colocado na Copa Rio.[22][23]
No ano seguinte, o Tigres do Brasil ficou com o troféu pela segunda vez na história ao bater o Madureira na grande decisão. Assim, a equipe duquecaxiense participou da Copa do Brasil de 2010, enquanto o Tricolor Suburbano disputou a Série D.[24] Classificado via Copa Rio, o Madureira conquistou o acesso na Série D do Brasileirão no ano seguinte.[25] Em 2010, o Sendas ficou com o título ao vencer na decisão o Bangu, optando por disputar a Série D em 2011 – o que faria já sob o novo nome Audax Rio.[26][27] O Bangu, por sua vez, disputou a Copa do Brasil.[28]
Em 2011, o campeão foi o Madureira ficando com a classificação para a Copa do Brasil de 2012, pois a equipe já disputava a Série C do Brasileirão. O Friburguense, vice-campeão, ficou com a vaga para a Série D de 2012.[29] Na edição seguinte, o Nova Iguaçu conquistou o segundo título ao bater o Bangu.[30] Em 2013, o Duque de Caxias ficou com a taça após derrotar o Boavista-RJ na grande final.[31]
Em 2014 e 2015, o Resende dominou a competição e garantiu o bicampeonato. No primeiro título, emoção até o fim: no último jogo do campeonato, o goleiro Arthur marcou o gol da vitória aos 50 minutos do segundo tempo, levando a decisão contra o Madureira para os pênaltis, vencidos pelo Gigante do Vale.[32] No outro ano, o título veio com uma goleada na final por 5–2 diante da Portuguesa-RJ.[33]
Já no ano de 2016, a Copa Rio foi decidida pela primeira vez nos tribunais. Em um jogo descrito como "épico e memorável", o Friburguense foi derrotado pela Portuguesa-RJ por 4–3 no duelo de volta da final. Após abrir 2–0 e permitir a virada lusitana para 4–2, o terceiro gol da equipe serrana foi marcado no último minuto de jogo pelo goleiro Luiz Felipe, que antes já havia defendido um pênalti. Com o resultado, o título seria decidido nas penalidades, vencidas pelo Frizão.[34][35] No entanto, nada disso valeu o troféu: como havia escalado o atleta Diego Guerra de forma irregular na primeira partida da final, o Friburguense foi punido com a perda de seis pontos, o que deu o título da competição para a Portuguesa-RJ.[36]
2017–presente: torneio de "mata-mata"
A partir do ano de 2017, a Copa Rio mudou de formato, deixando de ter uma ou mais fases de grupos e passou a ser disputada apenas em sistema eliminatório, o popular "mata-mata", em partidas de ida e volta. A premiação também foi definida em R$ 50 mil para o campeão e R$ 25 mil para o segundo colocado.[37] O primeiro campeão nesse novo formato foi o Boavista-RJ, assegurando o título inédito na disputa por pênaltis.[38]
Em 2018, pequenas mudanças no regulamento: para dar vagas também aos clubes da quarta divisão estadual (à época chamada de "Série C"), foram acrescentadas mais duas fases eliminatórias, aumentando o número de participantes de 16 para 25.[39] Outra alteração foi a extinção da regra do gol fora de casa, seguindo o exemplo da Copa do Brasil, que aboliu esse critério de desempate também a partir desta temporada.[40][41] Nessa edição, o campeão foi o Americano.[42]
Na edição de 2019, houve a primeira final entre dois times da capital desde 1998, sendo a primeira entre dois times considerados "pequenos". Na ocasião, o Bonsucesso foi campeão ao derrotar a Portuguesa-RJ.[43] O rubro-anil optou por disputar a Copa do Brasil em 2020, deixando a Lusa com a vaga na Série D.[44] Contudo, sem conseguir o acesso para a elite do estadual, o Bonsucesso desfez seu planejamento e desistiu da competição nacional, e sua vaga foi repassada ao Boavista-RJ.[45]
Por conta da pandemia de COVID-19, a edição de 2020 foi cancelada.[46] Na temporada seguinte, a competição foi retomada com a extinção da fase preliminar, reduzindo o número de participantes para 24.[47] O Pérolas Negras sagrou-se campeão ao derrotar o Maricá em disputa acirrada após 22 cobranças de pênaltis.[48] Em 2022, o Volta Redonda foi campeão pela quinta vez; e, em 2023, o título ficou com a Portuguesa-RJ, que logrou sua terceira conquista.[49][50]
Resultados
O primeiro campeão da história da Copa Rio foi o Flamengo, uma das quatro vezes em que um clube grande do Rio de Janeiro ficou com o troféu da competição. As outras ocasiões ocorreram com o Vasco da Gama, bicampeão em 1992 e 1993, e com o Fluminense, vencedor de 1998.[51]
O maior ganhador da Copa Rio é o Volta Redonda, que contabiliza cinco títulos, o último deles conquistado em 2022.[49] Na sequência, a equipe com mais triunfos é a Portuguesa-RJ, somando três taças.[50] Além do Vasco, já mencionado, mais três equipes venceram o torneio por duas vezes: Tigres do Brasil, Nova Iguaçu e Resende.[51]
Encabeçada pelos quatro títulos das equipes grandes mais os títulos da Lusa, a capital carioca é a cidade mais vencedora do campeonato: somando um título do Madureira e outro do Bonsucesso, o Rio acumula nove troféus da Copa Rio. A segunda cidade mais vitoriosa é Volta Redonda, com os cinco triunfos do clube homônimo. Por sua vez, o município de Duque de Caxias têm quatro títulos com três clubes diferentes: além das conquistas do Tigres, o Duquecaxiense e o Duque de Caxias possuem um título cada.[51]
A Copa Rio já foi conquistada por diversos técnicos, mas apenas três deles conseguiram o título em mais de uma ocasião. Wilton Xavier foi três vezes campeão comandando o Volta Redonda e é o maior vencedor da história do torneio.[52] Já Manoel Neto foi campeão duas vezes, uma com o Rubro Social e outra com a Portuguesa-RJ.[53]Edson Souza também levou duas equipes diferentes à glória, primeiro o Nova Iguaçu e depois o Resende.[54][55]
Curiosamente, Edson já havia sido campeão da Copa Rio também como jogador, atuando pelo Vasco da Gama na edição de 1992. Outro nome que levantou o troféu da competição tanto como atleta quanto como treinador é Ailton Ferraz: comandante do Resende em 2015, ele fazia parte do elenco do Flamengo na edição inaugural, em 1991.
Foi justamente na primeira Copa Rio da história que o título ficou com técnico de maior renome da lista: à época em começo de carreira, Vanderlei Luxemburgo era o treinador do Flamengo no título de 1991 e, posteriormente, foi cinco vezes campeão brasileiro, uma vez campeão da Série B e chegou a treinar a Seleção Brasileira. O folclórico Joel Santana é outro comandante vencedor da Copa Rio que depois se tornaria campeão da Série A do Brasileirão, ao conquistar a Copa João Havelange em 2000.
Outros treinadores com uma Copa Rio no currículo e que já venceram divisões do Campeonato Brasileiro são Léo Condé (campeão da Série B de 2023 com o Vitória), Josué Teixeira e Rogério Corrêa (campeões da Série C em 2014 e 2024, com Macaé e Volta Redonda, respectivamente).
Como a Copa Rio contava com pouca cobertura da imprensa em seus anos iniciais, em especial na década de 1990, a listagem abaixo contempla os artilheiros da competição a partir de sua retomada, em 2007. Considerando apenas este recorte, o maior artilheiro de uma única edição é Daniel (também conhecido como Daniel Marins), que anotou 16 gols em 2009. Ainda nesse cenário, Tiago Amaral se destaca por ter sido o goleador de duas edições, ambas defendendo o Volta Redonda, em 2013 e 2015.
↑Mesmo após derrota na decisão por pênaltis, a Portuguesa-RJ foi declarada campeã da Copa Rio de 2016 pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro, que puniu o Friburguense com a perda de seis pontos por conta da escalação irregular do jogador Diego Guerra na primeira partida da final.[36]
↑ abcO Mesquita era considerado parte do município de Nova Iguaçu até 1999, ano em que Mesquita tornou-se um município emancipado.