O chamado "Pseudo-Córbulo", que se acreditava ser um busto de Cneu Domício Córbulo, mas que, na verdade, representa uma personalidade desconhecida do século I a.C.
Consulado
39 d.C.
Cneu Domício Córbulo ou Corbulão (em latim: Gnaeus Domitius Corbulo; c.7 — 67) foi um generalromano da genteDomícia nomeado cônsul sufecto em 39. A sua carreira militar de sucesso em conflitos contra tribos germânicas revoltosas, Arménia e Parta, contrasta com diversos bloqueios à sua carreira e serviço por emperadores tementes da sua popularidade, e o seu injusto fim às ordens de Nero.
Assemelhava-se aos primeiros romanos na medida em que, além de vir de uma família brilhante e possuir grande vigor físico, era ademais dotado de uma inteligência arguta, e exibia grande coragem e grande lisura e boa-fé para com todos, tanto amigos quanto inimigos.
Desconhecem-se os os primeiros anos da carreira de Córbulo, mas é certo que foi cônsul sufecto em 39 durante o reinado de seu cunhado Calígula(r. 37–41).
Depois do assassinato de Calígula, a carreira de Córbulo foi interrompida e só retomou em 47 quando o imperador Cláudio(r. 41–54) o promoveu a comandante dos exércitos na Germânia Inferior, cuja base era em Colônia Agripinense.
O novo posto era desafiador e Córbulo teve que lidar com grandes revoltas entre os povos germânicos dos queruscos e caúcos. Ele ordenou a construção de um canal ligando os rios Reno e Meuse.[2] Partes desta obra, conhecida como Canal de Córbulo (Fossa Corbulonis), foram encontradas em escavações arqueológicas. Seu curso é idêntico ao Vliet, que conecta as cidades modernas de Leida (antiga Matilo) e Voorburgo (Fórum de Adriano; Forum Hadriani). Ao chegar à Germânia Inferior, Córbulo utilizou esquadrões do exército e da marinha para patrulhar o curso do Reno e o mar do Norte, acabando por expulsar os caúcos das províncias romanas. Além disto, também instituiu um rigoroso programa de treinamento para assegurar a efetivamente máxima das legiões romanas na região. Conta-se que ele executou dois legionários depois que eles foram pegos trabalhando na construção das fortificações de um acampamento sem estarem com suas espadas na cintura.[3] Ele teria dito que eles "esperavam derrotar o inimigo com uma picareta".[4]
Segundo Dião Cássio, Cláudio teme que Córbulo se distinga demais, tornando-o excessivamente poderoso, e ordena seu retorno a Roma. Dião relata que Córbulo terá comentado "quão felizes eram os que chefiavam exércitos nos velhos tempos", não impedidos de obter vitórias por necessidades políticas.
Leal a Cláudio, ficará em Roma até 52, quando foi nomeado governador da província da Ásia. Depois da morte de Cláudio, em 54, o novo imperador, Nero, enviou-o para as províncias orientais para enfrentar o Reino da Armênia. Depois de alguma demora, ele finalmente partiu para a ofensiva em 58 e, reforçado por tropas vindas da Germânia, atacou Tiridates I, rei da Armênia e irmão de Vologases I. Artaxata e Tigranocerta foram capturadas por suas legiões (a III Gallica, a VI Ferrata e a X Fretensis) e o jovem Tigranes, que havia sido criado em Roma e era um obediente servo do governo romano, foi instalado como novo rei da Armênia.
Em 61, Tigranes invadiu Adiabena, um território do Reino Parta, e o conflito entre Roma e os partas parecia inevitável. Vologases, porém, achou por bem propor a paz. Concordou-se que tanto as tropas romanas quanto as partas deveriam deixar a Armênia, Tigranes seria deposto e Tiridates seria novamente reconhecido como rei. O governo romano não concordou com o acerto e Lúcio Cesênio Peto, legado imperial propretor da Capadócia, recebeu ordens de resolver a questão subjugando a Armênia.
A proteção da Síria durante o período tomou todo o tempo de Córbulo. Cesênio Peto, um comandante fraco e incapaz, que "desprezava a fama de Córbulo", sofreu uma dura derrota na Batalha de Randeia (62), na qual ele foi cercado, forçado a capitular e acabou entregando a Armênia aos partas. O comando das tropas foi novamente entregue a Córbulo. No ano seguinte, com um forte exército, ele atravessou o Eufrates, mas não chegou a enfrentar Tiridates, que lhe ofereceu a paz em troca de termos de submissão a Roma.
Em Randeia, Tiridates colocou seu diadema aos pés da estátua do imperador e prometeu não retomá-la a não ser pelas mãos de Nero em Roma. Tiridates visitaria uma Roma ainda marcada pelo grande incêndio de 64, e a sua re-coroação às mãos do imperador foi uma celebração de vitória na qual Córbulo seria honrado como herói de Roma,[5] e na qual o também ovacionado Nero participaria como músico e cocheiro de bigas, para pasmo de Tiridates.[6] A Nero, Tiridates diria "tendes em Córbulo um bom escravo".[nota 3][7]
Últimos anos
A corte imperial de Nero foi marcada por numerosas conspirações pela ordem senatorial. Depois de dois fracassados complôs entre nobres e senadores — incluindo o genro de Córbulo, o senador Ânio Viniciano — para derrubar Nero em 62, o imperador passou a suspeitar de Córbulo e do apoio que ele recebia da população romana.
Nesta altura, um ambiente de paranóia pesava crescentemente sobre o palácio imperial. Em 65, após descobrir a conspiração de Pisão, Nero teria mandado o seu conselheiro Séneca suicidar-se, a par de muitos outros. Em 66, aquando a visita de Tiridates, Nero acusaria no Senado vários proeminentes como Quinto Bareia Sorano e Públio Trásea Peto de traição a Roma e à sua pessoa, votando o Senado por ele controlado várias sentenças de suicídio voluntário (liberum mortis arbitrium).[8] Dando amplo uso às leis romanas contra lesa-majestade, levaria também o cônsul Marco Júlio Vestino Ático ao suicídio, por forma a esposar a sua mulher Estacília Messalina ele próprio.
Em 67, vários distúrbios irromperam na região da Judeia e Nero, depois de ordenar que Vespasiano tomasse o controle das forças romanas na região, convocou Córbulo e seus dois irmãos, que governavam a Germânia Superior e a Inferior, até a Grécia. Ao chegarem a Cencreia, porto de Corinto, os enviados de Nero ordenaram que Córbulo se suicidasse. Obediente, ele se lançou sobre sua própria espada dizendo "Axios!" ("[sou] digno!").[9]
No ano seguinte, uma outra conspiração conseguiria de facto derrubar Nero, que seria votado pelo senado hostis publicus ("inimigo público")[10], e levado também ele ao suicídio.
Obras
Córbulo escreveu um relato de suas experiências na Ásia, mas ele se perdeu.[11]
↑Não confundir com a sua homónima Vistília, famosa consorte casada com Titídio Labeão.
↑Segundo a hipótese de Ronald Syme, em "Domitius Corbulo", 1970, no "The Journal of Roman Studies". Este admite no entanto a incerteza em relação a dois maridos, e dois filhos.
↑Filho de Lúcio Ânio Viniciano, que havia participado na deposição de Calígula[14], e com seu pai Ânio Polião havia conspirado também contra Tibério. [15][16]
Military History, Vol. 23, Number 5, p. 47-53 (em inglês)
Christian Settipani, Continuite Gentilice et Continuite Familiale Dans Les Familles Senatoriales Romaines, A L'Epoque Imperiale, Mythe et Realite. Linacre, UK: Prosopographica et Genealogica, 2000. ILL. NYPL ASY (Rome) 03-983. (em francês)
Ligações externas
«Corbulo» (em inglês). Livius.org. Consultado em 30 de agosto de 2013
«Canal de Córbulo» (em inglês). Livius.org. Consultado em 30 de agosto de 2013