McCartney conta que sempre ouvia americanos que viajavam reclamarem da saudade do fast-food, dos donuts e lavanderia automática, ele resolveu então narrar o inverso: um russo saindo de Miami e voltando para sua pátria, a União Soviética. Ele usou harmonias típicas dos Beach Boys em "California Girls" e da surf music, algo bem americano. Percebeu então que a sigla em inglês da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que era USSR, continha a sigla dos Estados Unidos da América, US, e aproveitou-se disso para fazer uma paródia a canção "Back in the U.S.A." de Chuck Berry, em um ponto da música ele canta: "Back in the US, back in the US, back in the USSR" para deixar clara a brincadeira.
Na letra, é possível ver a satisfação de se retornar ao país: "the Ukraine girls really knock me out" e "Moscow girls make me sing and shout" (“As garotas da Ucrânia me deixam louco” e “As garotas de Moscou me fazem cantar e gritar”). Outras referências à União Soviética são o trechos “show me round your snow peaked mountain way down south” (“me mostre a neve no topo das montanhas do sul”) e “let me hear you balalaika's ringing out” (“me deixe ouvir sua balalaica tocar”).
A letra também contém uma referência à música de Hoagy Carmichael, "Georgia on My Mind", sucesso com Ray Charles: o trecho “And Georgia's always on my mind” pode ser interpretado como “E a Geórgia está sempre na minha mente” ou “E (as garotas da) Geórgia sempre (estão) na minha mente”, pelo trecho a seguir: "come and keep your comrade warm" (“venha e mantenha seu camarada aquecido”). A brincadeira relacionando as superpotências da Guerra Fria continua, pois a canção "Georgia on My Mind" refere-se justamente à República Socialista Soviética da Geórgia, mas há um duplo sentido entre este ex-território soviético e o Estado americano da Geórgia.
Em entrevista para a revista Playboy dos EUA em 1984, McCartney afirmou: "Eu tinha gostado da ideia de 'garotas da Geórgia' e de falar de lugares como a Ucrânia como se fossem a Califórnia, sabe? (...) Porque eles gostam de nós lá [na União Soviética], embora talvez os chefes do Kremlin, não."[4]
Gravação
Nessa faixa, McCartney toca a parte principal de bateria com contribuições de Lennon e Harrison em algumas partes, porque, em 22 de agosto, o baterista Ringo Starr havia momentaneamente abandonado o grupo devido às críticas que recebia de McCartney do modo que estava tocando e devido ao clima pesado nas gravações. McCartney também toca piano e guitarra.[5] Lennon e Harrison tocam baixo e acompanham no vocal de apoio. Starr retornou duas semanas depois, após um pedido de desculpas dos integrantes com flores lhe esperando, espalhadas por toda bateria.
Greene, Doyle (2016). Rock, Counterculture and the Avant-Garde, 1966–1970: How the Beatles, Frank Zappa and the Velvet Underground Defined an Era. Jefferson, NC: McFarland. ISBN978-1-4766-6214-5
Lewisohn, Mark (2005) [1988]. The Complete Beatles Recording Sessions: The Official Story of the Abbey Road Years 1962–1970. London: Bounty Books. ISBN978-0-7537-2545-0