Com base no estilo de algumas das esculturas, alguns estudiosos acreditam que o arquiteto favorito de Domiciano, Rabírio, a quem às vezes é atribuído o Coliseu, pode ter sido o responsável pelo Arco de Tito. Contudo, não há documentação antiga que suporte esta atribuição.
O guia medieval latinoMirabilia Urbis Romae descreveu o arco da seguinte forma: "o arco de sete velas de Tito e Vespasiano, no qual Moisés, perto da arca com seu candelabro está aos pés da Torre Cartulária" (em latim: Arcus septem lucernarum Titi et Vespasiani, ubi est candelabrum Moysi cum arca habens septem brachia in piede turris cartulariae).[3][4]
Segundo o professor e pesquisador Jeffrey Becker, a tradição dos arcos triunfais liga os flavianos às tradições da República Romana.[5] Nesse contexto, a inspiração para tais estruturas provém de monumentos como o Arco de Fábio, construído pelo cônsulQuinto Fábio Máximo Alobrógico em 121 a.C.[5] Considerando que a dinastia flávia era relativamente recém-chegada à estrutura de poder romana, seus membros acreditavam que participar de tradições consagradas era uma maneira adequada de receber a legitimação que buscavam.[5]
A família Frangipani transformou o arco numa torre fortificada na Idade Média.[6] Apesar disto, o Arco de Tito foi um dos primeiros edifícios do Fórum Romano a sofrer uma restauração moderna, com Raffaele Stern em 1817 e Valadier, por ordem do papa Pio VII, em 1821; o arco recebeu novos capitéis e teve o seu revestimento de travertino recuperado, o que é facilmente perceptível. Esta restauração serviu de modelo para todas as demais realizadas na região da Porta Pia.[6][7]
Descrição
O Arco de Tito é de grandes proporções e conta tanto com colunas caneladas quanto não caneladas, estas últimas acrescentadas por uma restauração no século XIX.[8] As enjuntas nos cantos superiores direito e esquerdo da passagem do arco são decoradas com personificações da Vitória como uma mulher alada. Entre elas está a pedra angular, sobre a qual está uma mulher na face leste e um homem na oeste.[8]
O revestimento interior do arco axial é composto por profundos caixotões e por um relevo da apoteose de Tito no centro. Dois painéis em relevo decoram também o interior da passagem, ambos comemorando o triunfo conjunto celebrado por Tito e seu pai, Vespasiano, no verão de 71.
O painel sul mostra soldados romanos carregando os espólios capturados no Templo de Jerusalém, incluindo o candelabro dourado (menorá), que é o foco da imagem.[9] Além dele, estão representados também as trombetas douradas, os vasilhames sagrados do altar e uma mesa.[8] Estes espólios eram originalmente dourados e se destacavam num fundo azul.[8] O painel norte representa Tito como triumphator, rodeado por vários gênio e lictores, estes carregando suas fasces. Uma amazona com um elmo, representado a bravura, pilota uma quadriga que leva Tito. Uma Vitória alada está colocando uma coroa de louros sobre sua cabeça.[8] A justaposição é importante, pois trata-se de um dos primeiros exemplos de deuses e homens numa primeira cena, um claro contraste com as esculturas do Altar da Paz, de Augusto, nas quais homens e deuses aparecem separados.[8]
As esculturas nas faces externas dos dois grandes pilares se perderam quando o arco foi transformado em torre durante a Idade Média. O ático do arco era originalmente decorado por mais estátuas, possivelmente uma carruagem dourada.[8] A principal inscrição provavelmente era composta por letras de prata, ouro ou outro metal nobre.
O Arco de Tito tem 15,4 metros de altura, 13,5 metros de largura e 4,75 metros de espessura. O arco axial tem 8,3 metros de altura e 5,36 metros de largura.[10]
Inscrição
Na inscrição, em letras maiúsculas quadradas romanas, se lê[11]:
que significa "[Este] monumento, notável em termos religiosos e artísticos, se enfraqueceu com a idade: Pio, o Sétimo, sumo pontífice, com novas obras no estilo antigo, ordenou que ele fosse reforçado e preservado. No 24º ano de seu principado".
Importância e influência
As esculturas do Arco de Tito fornecem uma das poucas representações contemporâneas dos objetos sagrados do Templo de Jerusalém.[12][13]
O candelabro de sete braços (menorá) e as trombetas são claramente visíveis e a escultura tornou-se um símbolo da Diáspora judaica. Já na Idade Média, o papa Paulo IV ordenou que o arco fosse o local do juramento anual dos judeus de Roma. Segundo Morton Satin, até a fundação do moderno Estado de Israel (1948), os judeus se recusavam a passar por baixo do Arco de Tito por conta de uma proibição das autoridades judaicas de Roma. Esta proibição, segundo ele, só foi retirada em 1997.[14] Uma outra curiosidade é que o Arco de Tito não é mencionado nenhuma vez nas fontes rabínicas.[15]
Finalmente, o candelabro do Arco de Tito serviu como base para o que foi utilizado no Brasão de Israel.[16] Entre outras obras baseadas pelo Arco de Tito ou inspiradas nele estão:
↑Steven D Fraade, The Temple as a Marker of Jewish Identity Before and After 70 CE The Role of the Holy Vessels in Rabbinic Memory and Imagination, p.246